Ao final do expediente, fui para minha casa. Tomei banho e sentei na cama, sem vontade alguma de preparar o jantar. A casa sem minha mãe era irritantemente vazia.
Ela sempre fora quieta, imersa em seus livros, mas mesmo no mais absoluto silêncio, sua presença preenchia o lugar.
Ainda estava pensando em minha mãe, quando meu celular tocou.
— Alô?
— Lena?
— Oi, Sof.
— Tá em casa?
— Tô sim, por quê?
— Eu e o Charlie vamos em uma lanchonete que abriu há pouco tempo hoje. Vem com a gente.
— Ué! Você não tava viajando?
— Ah, deu uns problemas aqui e eu tive que voltar. Vou pra lá pra valer mesmo daqui uma ou duas semanas, eu acho. Longa história... Mas enfim, vamos na lanchonete?
— Não sei, Sof. Não tô no clima.
— Ah, qual é, Lena.
— Minha mãe não tá legal, e eu tô cansada.
— Sua mãe? O que aconteceu?
— Teve uns problemas. Tá internada outra vez. – Falei, sem entrar em detalhes.
— Oh amiga... Vai ficar tudo bem.
— Vai sim.
— Vem com a gente. Vai ser bom pra você distrair a cabeça. Nós não vamos voltar tarde.
Era verdade. Eu realmente precisava distrair um pouco a mente.
— Tá. Vocês vão que horas?
— Passamos aí em meia hora.
— Tá bem. Até daqui a pouco, então.
Desliguei. Eu não estava com vontade alguma de sair, mas sabia que ficar sozinha em casa não iria me ajudar em nada.
Como havia acabado de tomar banho, fui ver o que iria vestir. Coloquei uma camiseta de manga longa, calça jeans e bota cano curto. Deixei meus cabelos soltos, como sempre e peguei uma jaqueta, para o caso de esfriar.
Sentei no sofá e esperei por meus amigos. Após alguns minutos, ouvi a buzina do carro de Charlie. Saí, tranquei a porta e entrei no carro.
— Que milagre. Helena Jones saindo em plena terça à noite. – Disse Charlie, olhando-me pelo espelho retrovisor.
— Não amola. – Respondi, na simpatia de sempre.
— Nem vou comentar. Vai que ela desiste. – Brincou Sofia.
— Me conhece bem. – Falei, olhando os carros pela janela.
Fomos até a tal lanchonete. Era um lugar legal, um ambiente bacana. Sentamos em uma mesa e começamos a olhar o cardápio. Olhei em volta e percebi um rosto familiar a duas mesas de distância. Um garoto sentado sozinho, olhando várias e várias vezes para a porta. Parecia estar esperando alguém. Mas de onde eu o conhecia?
— Helena? – Sofia me chamou, e virei-me rapidamente para ela.
— Oi.
— Tá tudo bem aí?
— Tá. Eu tive a impressão de ver alguém conhecido, mas acho que me enganei. – Falei, mais para mim mesma.
— Já decidiram o que vão comer? Vou chamar o garçom. – Disse Charlie. Assentimos.
Charlie fez um sinal para o garçom, que veio rapidamente até a mesa.
— Eu vou querer um cheesebacon, uma batata pequena e uma Coca grande. – Disse Charlie.
— Uma porção de batata com bacon média e uma Coca média. – Continuou Sofia.
— Uma porção de batata média e um milkshake de morango. – Falei.
O garçom anotou e saiu.
— Helena e seu amor por milkshakes de morango. – Riu Sofia.
Estávamos conversando e tudo corria bem. O clima estava agradável e eu estava conseguindo me distrair. Enquanto esperávamos nosso pedido, percebi um rapaz de moletom azul escuro entrando na lanchonete e indo até a mesa onde estava o garoto que pensei conhecer. Reconheci aquele perfume e meu coração acelerou. Quando o rapaz virou de frente, minhas suspeitas foram confirmadas. Era Peter. Não era possível! Aquilo só podia ser perseguição.
Olhei discretamente para a mesa e então me lembrei. O garoto que esperava por Peter era o da foto do Decathlon. Como se chamava mesmo? Nial? Ted? Ned! Isso!
Comecei a mexer em meu celular e conversar com meus amigos, tentando a todo custo não olhar para a mesa onde eles estavam.
— Ei, Helena. Acho que você tem admiradores. – Disse Charlie, num sorriso maroto.
— O quê? Como assim?
— Tem dois garotos numa mesa que não param de olhar pra cá.
— Devem estar olhando a Sofia. – Desconversei.
— Não. A Sofia tá sentada mais pra cá. É você mesma o alvo hahaha.
— Onde, Charlie? – Perguntou Sofia, curiosa.
— Umas duas mesas pra lá. Um gordinho de camisa xadrez por cima da camiseta e um magrinho de moletom azul escuro.
— Deixa olhar. Uma hora cansa. – Falei, fingindo indiferença.
— Você é muito cruel. – Disse Charlie, divertindo-se com a situação.
— Pera! Aquele não é o Peter? – Perguntou Sofia.
Paralisei. Droga! Não acredito que ela o reconheceu! E agora?, pensei.
— Não. Não é. – Falei, olhando fixamente para meu celular, deixando o cabelo cair na frente do rosto.
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I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...