Capítulo 31

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Ao final do expediente, fui para minha casa. Tomei banho e sentei na cama, sem vontade alguma de preparar o jantar. A casa sem minha mãe era irritantemente vazia.

Ela sempre fora quieta, imersa em seus livros, mas mesmo no mais absoluto silêncio, sua presença preenchia o lugar.

Ainda estava pensando em minha mãe, quando meu celular tocou.

— Alô?

— Lena?

— Oi, Sof.

— Tá em casa?

— Tô sim, por quê?

— Eu e o Charlie vamos em uma lanchonete que abriu há pouco tempo hoje. Vem com a gente.

— Ué! Você não tava viajando?

— Ah, deu uns problemas aqui e eu tive que voltar. Vou pra lá pra valer mesmo daqui uma ou duas semanas, eu acho. Longa história... Mas enfim, vamos na lanchonete?

— Não sei, Sof. Não tô no clima.

— Ah, qual é, Lena.

— Minha mãe não tá legal, e eu tô cansada.

— Sua mãe? O que aconteceu?

— Teve uns problemas. Tá internada outra vez. – Falei, sem entrar em detalhes.

— Oh amiga... Vai ficar tudo bem.

— Vai sim.

— Vem com a gente. Vai ser bom pra você distrair a cabeça. Nós não vamos voltar tarde.

Era verdade. Eu realmente precisava distrair um pouco a mente.

— Tá. Vocês vão que horas?

— Passamos aí em meia hora.

— Tá bem. Até daqui a pouco, então.

Desliguei. Eu não estava com vontade alguma de sair, mas sabia que ficar sozinha em casa não iria me ajudar em nada.

Como havia acabado de tomar banho, fui ver o que iria vestir. Coloquei uma camiseta de manga longa, calça jeans e bota cano curto. Deixei meus cabelos soltos, como sempre e peguei uma jaqueta, para o caso de esfriar.

Sentei no sofá e esperei por meus amigos. Após alguns minutos, ouvi a buzina do carro de Charlie. Saí, tranquei a porta e entrei no carro.

— Que milagre. Helena Jones saindo em plena terça à noite. – Disse Charlie, olhando-me pelo espelho retrovisor.

— Não amola. – Respondi, na simpatia de sempre.

— Nem vou comentar. Vai que ela desiste. – Brincou Sofia.

— Me conhece bem. – Falei, olhando os carros pela janela.

Fomos até a tal lanchonete. Era um lugar legal, um ambiente bacana. Sentamos em uma mesa e começamos a olhar o cardápio. Olhei em volta e percebi um rosto familiar a duas mesas de distância. Um garoto sentado sozinho, olhando várias e várias vezes para a porta. Parecia estar esperando alguém. Mas de onde eu o conhecia?

— Helena? – Sofia me chamou, e virei-me rapidamente para ela.

— Oi.

— Tá tudo bem aí?

— Tá. Eu tive a impressão de ver alguém conhecido, mas acho que me enganei. – Falei, mais para mim mesma.

— Já decidiram o que vão comer? Vou chamar o garçom. – Disse Charlie. Assentimos.

Charlie fez um sinal para o garçom, que veio rapidamente até a mesa.

— Eu vou querer um cheesebacon, uma batata pequena e uma Coca grande. – Disse Charlie.

— Uma porção de batata com bacon média e uma Coca média. – Continuou Sofia.

— Uma porção de batata média e um milkshake de morango. – Falei.

O garçom anotou e saiu.

— Helena e seu amor por milkshakes de morango. – Riu Sofia.

Estávamos conversando e tudo corria bem. O clima estava agradável e eu estava conseguindo me distrair. Enquanto esperávamos nosso pedido, percebi um rapaz de moletom azul escuro entrando na lanchonete e indo até a mesa onde estava o garoto que pensei conhecer. Reconheci aquele perfume e meu coração acelerou. Quando o rapaz virou de frente, minhas suspeitas foram confirmadas. Era Peter. Não era possível! Aquilo só podia ser perseguição.

Olhei discretamente para a mesa e então me lembrei. O garoto que esperava por Peter era o da foto do Decathlon. Como se chamava mesmo? Nial? Ted? Ned! Isso!

Comecei a mexer em meu celular e conversar com meus amigos, tentando a todo custo não olhar para a mesa onde eles estavam.

— Ei, Helena. Acho que você tem admiradores. – Disse Charlie, num sorriso maroto.

— O quê? Como assim?

— Tem dois garotos numa mesa que não param de olhar pra cá.

— Devem estar olhando a Sofia. – Desconversei.

— Não. A Sofia tá sentada mais pra cá. É você mesma o alvo hahaha.

— Onde, Charlie? – Perguntou Sofia, curiosa.

— Umas duas mesas pra lá. Um gordinho de camisa xadrez por cima da camiseta e um magrinho de moletom azul escuro.

— Deixa olhar. Uma hora cansa. – Falei, fingindo indiferença.

— Você é muito cruel. – Disse Charlie, divertindo-se com a situação.

— Pera! Aquele não é o Peter? – Perguntou Sofia.

Paralisei. Droga! Não acredito que ela o reconheceu! E agora?, pensei.

— Não. Não é. – Falei, olhando fixamente para meu celular, deixando o cabelo cair na frente do rosto.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora