Capítulo 19

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— Mas enfim, me fala de você. O que faz, o que gosta, sobre seus amigos. Quem é Peter Parker? – Falei, tentando quebrar o silêncio.

— Sobre mim? Bom... Eu tenho 17 anos, gosto de química...

— Cof! Cof! Nerd! Cof! – Brinquei, fingindo tossir.

— Ei!

— Continua.

— Gosto de ouvir música, de ler, de filmes, de basquete, de donuts.

— E seus amigos? Me fale sobre eles.

— Meu amigo mesmo é o Ned. Ele é parceiro pra todas as horas, e nunca me deixa na mão. E o Sr. Stark.

— Tony é seu chefe.

— Eu considero ele um amigo.

A inocência e doçura de Peter eram quase infantis, se não viessem acompanhadas de músculos e um belo e marcado maxilar.

— E a Liz? – Insisti, como quem não queria nada.

— O que tem ela?

— Eu que pergunto.

— Não nos falamos mais. Perdemos contato desde que ela foi pra Oregon. Mas nunca rolou nada, sempre fomos só amigos. – Disse ele, com um ar levemente... Decepcionado?

Eu não entendia exatamente o que estava sentindo naquele momento, mas não era confortável. Não gostava da ideia de Peter e aquela tal de Liz, e estava me achando extremamente ridícula por isso.

— Mas e você? – Perguntou ele.

— Eu o quê?

— Sua vez. Me fala de você.

— Fica pra próxima, Parker. Eu não falo de mim para as pessoas.

— Ah, qual é. Eu falei de mim pra você. É uma troca justa.

— A vida não é justa. – Sorri, fechando os olhos e cruzando os braços atrás da cabeça, encostada na árvore.

— Quer continuar sendo um mistério pra mim?

— Uh. Eu sou um mistério?

— Tecnicamente, sim. Eu não sei nada sobre você, além das próprias conclusões que tiro.

— Ótimo. Vamos continuar assim.

— Sempre foi fechada assim?

— Que parte do "não vamos falar de mim" você não entendeu?

Ele olhou para mim, calado. Pareceu um pouco chateado.

— Desculpa. Eu não quis... – Tentei consertar.

— Tá tudo bem. – Falou, baixo.

— É que eu não tenho o costume de falar de mim.

— Sempre guarda tudo pra você?

Dei de ombros.

— Quase sempre.

— Não tem alguém com quem possa se abrir?

— Tenho a Sofia e o Charlie, meus amigos. Mas não é sempre que me sinto confortável em me abrir. Falo muito pouco, na verdade.

— Sempre foi assim?

— Acho que já falei demais.

— Sei que provavelmente não vai adiantar dizer isso, mas se quiser conversar ou desabafar algum dia, vou estar aqui pra te ouvir.

— Alguém já te disse que você é adorável, Parker?

— Minha tia.

Rimos.

O sol já havia se posto, e o céu estava escurecendo. A noite começava a surgir, com algumas estrelas tímidas em meio às nuvens escuras que se formavam com rapidez.

— Vai voltar como pra sua casa? – Perguntei.

— A pé.

— Quer que eu te leve?

— Esse é meu papel, Jones. Eu vou te levar pra sua casa.

— Certeza? Não vai ficar com medo de voltar sozinho depois? – Zombei.

— Um pouco, mas sobrevivo. – Brincou ele. Sorri.

Levantamos da grama e começamos a caminhar até minha casa. As ruas estavam movimentadas, como todo e qualquer sábado à noite. Tudo corria normalmente, até o inesperado acontecer.

Cinco homens saíram de um carro a uma quadra de onde estávamos e começaram a aterrorizar a população com ameaças e armas totalmente diferentes. Eles roubavam objetos de valor e atiravam nas pessoas, que desapareciam poucos instantes depois.

Peter me pegou pelo braço e me puxou para um beco próximo. Olhei para ele, assustada e confusa. O garoto tirou de dentro de seu moletom o traje de herói e, sem mais nem menos, tirou suas roupas, ficando apenas de cueca e colocando rapidamente seu traje de Homem Aranha. Eu não sabia para onde olhar. Tentei focar o olhar no chão, mas o corpo de Peter atraía meus olhos como um imã. Senti meu rosto queimar de vergonha.

Ainda assim, eu estava sem reação diante aquilo tudo. Uma coisa era saber que essas coisas aconteciam e acompanhar pela televisão ou fazer um relatório a respeito, mas estar no local e ver com meus próprios olhos era algo totalmente diferente.

Já com seu traje de herói, Peter pousou as mãos em meus ombros e disse, preocupado:

— Não sai daqui.

— Mas eu...

— Helena, por favor. Vai ficar tudo bem! Só não sai daqui.

— Eu não posso deixar você fazer isso sozinho!

— Confia em mim!

Olhei em seus olhos e fiz que sim com a cabeça. Ele soltou um suspiro e colocou sua máscara. Correu para onde o conflito acontecia, e eu fiquei parada, ainda tentando raciocinar.

Queria espiar para ver o que estava acontecendo, mas tinha medo de que algo pudesse estar acontecendo com Peter, e eu não queria ver isso. Era uma indecisão terrível.

Minha mãe mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Com a consciência pesada por mentir, falei que sim, e que logo estaria em casa. Disse que a amava.

Sentei no chão e comecei a respirar fundo. Eu sentia como se estivesse ali há horas. Peguei as roupas de Peter, que estavam jogadas, e as trouxe para perto. Senti seu perfume e fechei meus olhos, quase conseguindo visualizar seu sorriso sem jeito.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora