Capítulo 79

6.7K 710 312
                                    

Minha segunda-feira já começou um verdadeiro inferno. Tony me deixou uma quadra antes do colégio, como de costume, mas isso não impediu que uma pancada de gente viesse bisbilhotar e encher o saco.

Saí abrindo caminho entre aquela gente toda, já irritada e nervosa, e corri para o banheiro do colégio para me esconder. Passei uns 10 minutos dentro de uma cabine no mais absoluto silêncio. Ouvi o sino tocar e, quando percebi que não havia mais ninguém ali, saí de fininho para ir até a sala, com a cabeça baixa e o cabelo encobrindo o rosto para disfarçar.

Assim que cheguei na sala, começou o alvoroço. Todos comentando, fazendo perguntas, e só o que eu queria era ir para casa. O professor conteve a bagunça (superficialmente, pois os cochichos e sussurros prosseguiam) e começou a aula.

Charlie, que estava sentado na carteira ao lado, olhou para mim como quem pede calma. Ele sabia que não iria demorar para eu perder a boa. Respirei fundo e apenas fingi ser mais um dia normal.

Estava tudo indo bem, até o professor perguntar:

— Pode responder à questão dois, Srta. Jones? Ou Srta. Stark? Eu não sei se mudou seu sobrenome...

Eu sinceramente não sabia o que dizer. Se dissesse que havia mudado meu nome, o falatório seria ainda maior. Se não, encheriam o saco do mesmo jeito.

— Síntese proteica. – Respondi, apenas fingindo não ter ouvido nada após a pergunta sobre a matéria de biologia.

Percebendo minha posição a respeito da pergunta pessoal, o professor ficou visivelmente sem graça e apenas continuou a aula:

— Correto. Quem pode responder a próxima?

Suspirei. Que inferno de dia. Eu só queria que a aula acabasse logo. Charlie e Sofia passaram o intervalo comigo, ajudando-me a me esconder dos curiosos.

— Toma cuidado. Agora que sabem que ele é seu pai, andar na rua representa um risco ainda maior pra você. – Disse Charlie, como um irmão preocupado.

— Não se preocupa. Vou tomar cuidado. – Sorri, tranquilizando-o.

Ao final da aula, corri para pegar o ônibus. Quando cheguei à empresa foi que caiu a ficha: Tony iria falar com Peter. Eu já tinha um plano em mente para ouvir tudo sem precisar ficar na porta, e se conseguisse colocá-lo em prática, tudo estaria perfeito. Mas eu precisava agir rápido.

Entrei em minha sala, guardei minha bolsa e esperei pelo momento certo para começar a agir. Suspirei e repassei o plano. Primeiro passo: eu precisava conseguir acesso a uma sala restrita.

Peguei uma pasta com alguns relatórios para disfarçar e ter uma desculpa para estar andando por aí e saí corredor afora. Desci as escadas até o hall e encontrei Garry Hoover, um dos agentes da organização, vindo apressado em minha direção. Trombei propositalmente com ele, derrubando as minhas e suas coisas.

— Ah, meu Deus. Desculpe, agente Hoover. – Falei, entregando-lhe suas coisas e sutilmente escondendo entre as minhas aquilo que precisava.

Ele disse não haver problemas e continuou a andar apressado, subindo as escadas. Peguei minhas coisas e, certificando-me de que havia pego o objeto certo, entrei no elevador. Assim que a porta se abriu, corri pelo corredor até a sala que procurava.

Tirei da minha pasta, então, o cartão que havia pego de Hoover. Ele liberaria meu acesso para entrar na sala de armazenamento de instrumentos táticos, como escutas e armas. Passei o cartão na porta e ela se abriu. Sorri, vitoriosa.

Certifiquei-me de não havia ninguém passando no corredor e entrei. Procurei, em meio a diversos tipos de armas e munições, o pequeno instrumento de que precisava: uma escuta e um ponto.

Assim que achei o que procurava, guardei em minha pasta e saí da sala disfarçadamente. Estava indo para minha sala quando vi o agente Hoover andando pelo corredor. Na maior cara de pau desse mundo, falei:

— Com licença, agente. Deixou cair isso quando trombamos. Estava te procurando até agora para te entregar.

Entreguei-lhe o cartão. Ele agradeceu, pegou o cartão e saiu. Olhei em meu relógio. Eram 14h55. Peter estava pra chegar. Desci até o hall e fiquei enrolando no bebedouro enquanto o esperava chegar.

Assim que o garoto entrou, fui até ele.

— Peter! – Exclamei – Você tá legal? Nós mal conversamos desde sexta-feira.

— Oi, Lena. Seu pai brigou muito com você? – Ele perguntou, preocupado.

— Um pouco, mas estamos tentando nos resolver. Fiquei preocupada com você. – Falei, abraçando-o e colocando um ponto da escuta sob a gola de sua camisa polo.

— Vou ficar bem. Preciso ir agora... Se Tony me vê falando com você depois do que aconteceu acho que ele me mata. Fica bem, tá? – Disse ele, afastando-se com um visível pesar. Mal sabia ele que as coisas logo iriam melhorar.

Subi correndo para a minha sala e coloquei a escuta. Pude ouvir claramente quando Peter pediu licença para entrar e Tony o autorizou. Perfeito!, pensei.

— Senta aí. – Disse Tony – Acho que precisamos resolver aquela história.

— Sim, senhor. – Peter murmurou.

— Eu não deixei você se defender. Por mim continuaria assim, mas a Helena está realmente mal com essa história toda, então por consideração a ela te dou uma chance pra se explicar e talvez me fazer desistir de matar você.

Pude ouvir Peter suspirar. Ele com certeza estava muito nervoso.

— Olha, Sr. Stark... Naquele dia eu e a Helena estávamos conversando e ela me disse que o senhor e ela tinham brigado e que ela tava mal. Eu quis ajudar, então fui até lá pra dar um consolo.

— Belo consolo. – Ironizou Tony.

— Juro que não fui com segundas intenções, Sr. Stark. Eu estava abraçado com ela e acabei indo longe demais. Sei que não justifica, mas... Eu só queria pedir pra que o senhor não me proíba de ver a Helena.

— Você gosta mesmo dela? – Perguntou Tony.

— Eu amo a Helena, Sr. Stark. De verdade.

— Eu tive uma conversa séria com a Helena sobre você, e pelo jeito o sentimento é recíproco. Conheço bem a garota e sei que não vai adiantar dizer a ela que fique longe de você. – Tony fez uma breve pausa – Eu vou reconsiderar, Peter, e vou fingir que aquela noite nunca aconteceu. Mas, se vocês vão começar um namoro, antes de falar com ela, quero que me prometa que eu não vou ter dor de cabeça alguma com vocês.

— O senhor tá falando sério? O senhor... Tá dizendo que vai deixar eu namorar a Helena?

— Desde que cumpra as regras. Não quero saber de namoro fora de hora; cheguem em casa no horário combinado; não quero que isso prejudique as notas dela na escola e nem o rendimento de nenhum dos dois na empresa. E o mais importante: se eu pegar vocês dois na cama de novo, eu mato você.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora