Ainda estava concentrada no sabor do último biscoito quando ouvi Peter dizer, quase num sussurro:
— Obrigado.
Olhei em seus olhos e sorri. Ele sorria também, o olhar doce de sempre.
— É engraçado como as coisas acontecem. – Disse ele, desviando o olhar para o chão.
Olhei para o garoto, curiosa. Ele prosseguiu:
— Eu nunca fui alguém rodeado de amigos. Sempre me virei muito sozinho. Na escola eu tenho o Ned, que tá sempre comigo e não me deixa na mão, mas saindo dali, voltava a ser apenas eu. E aí veio você.
Ele olhou para mim, sem jeito. Tentei sustentar seu olhar, embora sentisse que estava começando a ficar vermelha. Para aliviar um pouco a situação, brinquei:
— Aí você descobriu que a frase "antes só do que mal acompanhado" era verdadeira.
— Hahaha! Não vou negar, você não é uma das pessoas mais fáceis do mundo de conviver. – Ele disse, e eu revirei os olhos – Nas primeiras vezes em que falei com você eu realmente cheguei a pensar que você tinha algo contra mim.
— Foi mal por isso.
— Mas aprender a lidar com você foi um desafio legal, sabe? Eu descobri que atrás dessa Helena durona, brava e irônica existe uma garota incrível.
Ok, eu não esperava por essa. Meu rosto estava queimando e eu sabia que estava bem vermelha, o que não me deixava nem um pouco confortável. Tentando me recompor e não demonstrar que estava totalmente desconcertada, falei, esforçando-me para não gaguejar:
— Tô começando a achar que você quer alguma coisa.
O garoto abriu a boca para falar, mas acabou rindo.
— Eu nunca sei o que dizer, e quando decido dizer algo, você retruca e sempre acaba me deixando sem resposta. Por que é sempre tão difícil falar com você? – Perguntou ele, bem-humorado.
— Porque é engraçado. – Respondi.
Ele riu docemente e respondeu:
— Mas você tá certa. Eu quero uma coisa, sim.
— O quê? – Perguntei, tensa.
— Ver seus desenhos. Ou você acha que eu não percebi você colocando a pasta no cantinho?
Droga! Eu havia me esquecido dos desenhos. Não havia escapatória.
Sem a mínima coragem, peguei minha pasta e a abri, arrependendo-me amargamente do trato que havia feito. Peter sentou-se mais próximo a mim, bem do meu lado, para poder ver melhor os desenhos.
Pessoas, animais, paisagens, flores... Havia um pouco de tudo em minha pasta. Desenhos coloridos, em preto e branco, esfumados, contornados... Eu tentava variar sempre.
Peter olhava atentamente os desenhos e não poupava elogios, o que me fazia corar. Tudo estava indo relativamente bem, até eu pegar a próxima folha. Quando vi do que se tratava, tentei esconder rapidamente, mas já não havia jeito.
— Espera aí! – Exclamou Peter, surpreso – Deixa eu ver!
— Não. Não tem nada pra ver. – Falei, colocando outra folha por cima.
Peter tentou me convencer com o olhar, mas não obteve sucesso. Ele ainda estava fazendo o olhar de vira-lata que apanhou, quando subitamente olhou para trás de mim e perguntou, assustado:
— Que isso?
Olhei instintivamente para trás e, por mais difícil que seja admitir, eu fui enganada. Peter pegou rapidamente o papel de minhas mãos. Eu estava perdida.
O garoto analisou o desenho por um tempo, com um pequeno sorriso nos lábios. Eu estava sentindo meu rosto queimar de vergonha, e só queria que o chão se abrisse para eu pular no buraco e sumir.
— Sei que pode parecer um pouco egocêntrico da minha parte, mas... Eu acho que se parece comigo. – Disse Peter.
Era óbvio que era Peter. O mesmo olhar suave, o mesmo sorriso doce, o mesmo maxilar marcado... Até mesmo sua sobrancelha rebelde eu não deixei passar. O que eu tinha na cabeça? Desenhar Peter? Que ideia ridícula!
Pensei em uma desculpa, sem obter sucesso. Por fim, suspirei, dando-me por vencida.
— É, eu... É você, sim.
Ele sorriu, as bochechas ficando rosadas.
— Você tá vermelha.
— Você também. – Respondi, ainda sem acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.
Um silêncio constrangedor instalou-se ali. Após alguns instantes, Peter perguntou, a voz baixa e com um tom de insegurança:
— Por que você me desenhou?
O que eu deveria responder? "Porque te acho gato e queria ter uma imagem sua pra mim"? Aquilo não podia estar acontecendo. Não podia! A cada segundo que se passava, minha vontade de sumir aumentava.
— Eu... Eu... – Comecei a gaguejar, sem saber o que dizer.
Ainda estava nessa situação ridícula, quando Peter aproximou-se num leve sorriso. O garoto segurou meu queixo e olhou em meus olhos, ainda sorrindo. Parei de falar, tensa com a proximidade de nossos rostos. Sem dizer uma palavra, Peter encostou os lábios nos meus, pressionando-os levemente.
Embora estivesse assustada e confusa, não recuei. Apenas fechei meus olhos enquanto sentia sua língua roçar suavemente na minha. Eu sabia que era loucura, mas não resisti.
Ouvi a porta da sala se abrir. May havia chego. Afastei-me instantaneamente de Peter, confusa. Ele olhou em meus olhos com nervosismo, não sei se pelo beijo ou por May ter chego. Se buscava calma em meu olhar, achou somente incerteza e medo. Peguei meus desenhos que estavam pelo chão e guardei todos em minha pasta, indo rapidamente para meu quarto e fechando a porta.
Sentei-me na cama e fechei os olhos, suspirando. O que eu havia acabado de fazer? Eu passei meses negando e me mantendo firme, para um beijo simplesmente desmoronar tudo? Massageei as têmporas, nervosa. Aquilo não podia ter acontecido. Eu não podia me iludir de novo.
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I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...