Capítulo 83

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Olhando no fundo dos olhos de Peter eu podia afirmar com toda a certeza do mundo: eu o amava. E como era bom poder assumir sem ter que ficar mentindo para mim mesma. Eu finalmente me sentia livre.

Sabendo que nenhum dos dois diria mais nada, Peter aproximou seu rosto do meu sem pressa. A mão hábil deslizou suavemente por minha cintura, trazendo meu corpo ao seu.

Suspirei baixo, colando meus lábios aos seus em seguida, num beijo calmo. Não havia pressa ali. Não havia tensão ou medo de um flagra. Havia apenas nós e as estrelas.

Ao separar os lábios dos meus, Peter sorriu e disse:

— Nem dá pra acreditar que tô com você e não tem nada nem ninguém pra atrapalhar.

— Nem fala! – Concordei – Eu poderia ficar aqui com você pra sempre.

O garoto sentou-se e perguntou, um pouco mais sério:

— Você quer isso? Quer ficar comigo pra sempre?

— Quero. – Respondi baixinho.

— Então... – Começou Peter, levantando-se – Se eu fosse propor isso, você diria sim?

Levantei também, com o coração acelerado. Peter estava visivelmente nervoso, e eu estava ficando também.

—Peter... – Chamei, já desconfiada.

Peter olhou em meus olhos e, colocando as mãos nos bolsos do moletom, engoliu em seco. Ele baixou a cabeça, respirou fundo e disse:

— Ok, eu nunca fiz isso na minha vida, mas vamos lá.

Ele se ajoelhou, tirando do bolso uma caixinha preta aveludada. Não. Aquilo não estava acontecendo. Estava?

O garoto abriu a caixinha, onde havia um par de alianças prateadas. Com as bochechas coradas, Peter disse:

— Helena, eu te amo e, bom, você disse que ficaria comigo pra sempre. É o que eu quero também. Então... Você quer ser minha namorada?

Sem eu me dar conta, meus olhos estavam marejados. Abri um sorriso largo e antes que eu tivesse a chance de responder, Peter continuou:

— Eu nem sei se ainda existem pedidos de namoro assim, na verdade. Como eu disse, eu nunca fiz isso antes. Foi muito clichê? Se quiser eu posso começar de novo e...

—Peter... – Interrompi-o – Eu quero! Quero muito!

O garoto sorriu, visivelmente aliviado. Levantou-se e, um pouco desajeitado, retirou uma das alianças da caixinha e a colocou em meu dedo. Sem sequer esperar para colocar a sua, beijei-o intensamente, jogando os braços ao redor de seu pescoço. Ele passou seus braços por minha cintura, apertando-me contra si.

— Eu te amo! – Sussurrei, os lábios ainda encostados aos dele.

— Te amo muito! – Ele respondeu.

Antes que pudéssemos sequer sorrir, um estouro alto nos fez abaixar automaticamente. Era o som de um disparo, e havia sido feito bem próximo dali. Olhei para Peter, que tinha os olhos fechados e os lábios franzidos. Ele havia, por reflexo, passado os braços ao meu redor, na intenção de me proteger.

— Ah não. Não hoje, por favor. – Praguejou Peter. – Helena, me perdoa. Sei que essa noite era pra ser nossa, mas eu...

— Peter – Interrompi-o – Vai. Tá tudo bem. Eu vou estar esperando bem aqui.

O garoto suspirou, visivelmente abalado. Após novos disparos, tirou suas roupas rapidamente e vestiu seu traje de herói.

— Peter... – Chamei. O garoto veio até mim, e segurei seu rosto com ambas as mãos – Toma cuidado, tá?

— Não se preocupa. – Deu-me um beijo suave – Eu te amo.

— Também te amo.

O garoto deu um sorrisinho para me tranquilizar. Respirou fundo, colocou sua máscara e pulou janela afora.

Olhei em volta e me vi sozinha. De repente, a aconchegante casinha na árvore já não parecia tão aconchegante assim. Suspirei e me sentei sobre as almofadas. Pelo jeito, Peter e eu não conseguiríamos passar um tempo juntos tão cedo.

Olhei para minha mão direita e admirei a aliança com que Peter havia me presenteado. Seu brilho prateado lembrava-me a luz do luar. Ao parar para refletir sobre o que aquele anel significava, finalmente entendi. Apesar das dificuldades em ficarmos juntos por conta da corrida rotina de ambos e da vida dupla de Peter, o mais difícil já havia passado: Tony havia dado sua permissão. Eu estava namorando Peter.

Olhei para o lado e vi a camiseta do garoto, que estava jogada sobre uma almofada. Peguei a peça e senti o perfume de Peter, já tão familiar e característico.

Meia hora havia se passado e nada de Peter voltar. Preocupada, fui até a janela tentar ver alguma coisa, sem sucesso. Eu só esperava que ele estivesse bem.

Voltei até as almofadas e me deitei sobre elas, olhando para as estrelas pela janela, como deveria estar fazendo com Peter. Assustei quando meu celular começou a vibrar, e gelei ainda mais ao ver o nome na tela. Era Tony.

— Alô? – Atendi.

— Helena, tá tudo bem por aí?

— Tá. Tá sim.

— Que silêncio. Onde vocês estão?

— Ahn... No... No boliche.

— No boliche? Esse lugar é super barulhento.

— É. Mas eu tô... No banheiro.

— Hmm... Entendi. Vai precisar que eu busque você?

— Não. Tudo sob controle.

— Tá bem, já entendi. Divirtam-se e juízo.

— Pode deixar hahah.

Desliguei, suando frio de nervoso. Eu não queria ter mentido para Tony, mas contar que Peter havia me trazido até uma casa na árvore em um local afastado e me deixado sozinha para salvar o dia seria pedir para ficar viúva antes mesmo de casar.

Abracei a blusa de Peter e fiquei olhando as estrelas, repetindo mentalmente que ele estava bem até sentir os olhos pesarem. Caí no sono.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora