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MADISON

Seu aniversário foi a poucos dias atrás. Sei que foi meu pai quem trouxe esses lírios amarelos, a cor ainda é viva, o que ironicamente, não condiz com a situação aqui.

Vendo sua lápide bem na minha frente, o cemitério quase vazio, e a maioria das flores em outros túmulos completamente murchas, só me faz lembrar do motivo de eu não vir pra cá tanto quanto meu pai. É pelo simples fato de que mesmo com esse clima mórbido e frágil, eu não consigo sentir nada, e sei que deveria sentir, qualquer coisa que fosse.

Mas afinal, o que eu deveria sentir vendo seu nome escrito na lápide? Não é assim que eu a imagino -morta em um caixão debaixo da terra. A imagem que criei da minha mãe é baseada em todas as coisas que ouvi sobre ela ao longo dos anos.

Meu pai dizia que ela era a pessoa mais generosa que ele já conheceu -eu com certeza não herdei isso dela. Ela ajudava todo mundo que podia, e eles brigavam todas as vezes que ela doava mais dinheiro do que eles tinham. Meu pai ficava bravo por um tempo, até se lembrar que sua bondade era um dos motivos que o fez se apaixonar.

Mas a briga mais feia que tiveram foi quando ela vendeu o colar que meu pai lhe deu na manhã em que se casaram. Ele disse que ela fez isso porque ele estava doente e o medicamento era caro demais, então ela vendeu o colar em uma loja de penhores, e meu pai teve que dirigir doente durante muitas horas para chegar até o senhor que o comprou, implorando que ele devolvesse sua jóia, já que tinha um valor emocional muito grande. Meu pai conseguiu o colar de volta, e garantiu a ela, minha mãe, que eles dariam um jeito de conseguir o dinheiro de outra forma. Ele percebeu que apesar da atitude errada e impulsiva, ela fez isso por amor. Ela só fez o que achava que era certo.

Acho que segurando o colar no carro, enquanto Peter virava a esquina, acabei percebendo o quanto Peter é parecido com minha mãe, mais do que eu gostaria que ele fosse. Ele tomou uma decisão muito errada, mas que achou que era o certo para mim, e seus atos de bondade são algo que eu nunca vou entender.

Claro, isso não muda o fato de eu ainda estar brava com ele, e se ele continuar decidindo as coisas por mim, teremos problemas, mas nesse momento, eu cedi, porque foi o aniversário dela e eu fingi que não era, e porque devo isso a ela, e porque já estou aqui. E além de tudo, PETER está aqui, e eu preciso dele agora.

O vento sopra tão forte, que por um segundo fazem meus cabelos bloquearem a minha visão, a visão de sua lápide e lírios amarelos, sua flor preferida, ainda dá para sentir o perfume das flores.

Me agacho e Peter fica de pé atrás de mim, sei que ele quer se aproximar, e também sei que está inseguro para fazer isso, mas só de saber que ele está por perto, já me deixa mais tranquila.

-Oi mãe. -digo a ela, mesmo não acreditando que ela pode realmente me ouvir -Feliz aniversário, atrasado.

Então não sei mais o que dizer, não é como se eu me sentisse boba por falar com o vento, mas eu não consigo falar mais nada.

Respiro fundo, fechando os olhos e sentindo novamente o aroma dos lírios.

-Se eu soubesse que viria aqui, teria lhe trazido flores. -digo, tirando o colar do meu pescoço, o colar que ela vendeu na loja de penhores.

Toco delicadamente meu dedos em cada um dos cristais que brilham nos meus dedos. Talvez seja hora de parar de comparar minha mãe com May, ela era o que era, com defeitos e qualidades, generosa além de tudo, e mesmo eu amando meu pai, a imagem da minha mãe na minha cabeça era a única coisa com a qual eu me importava, até Peter aparecer.

Seguro o colar com força uma última vez antes de colocá-lo sob a lápide. Ele não pertence à May, nem a mim, esse colar sempre foi dela, e somente dela. E pensar que sua generosidade quase a fez abrir mão disso, só por… amor.

I MEANT TO HURT YOUOnde histórias criam vida. Descubra agora