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Peter

Hoje é o terceiro dia dos Stoner na nossa casa, e a única vez que vi Madison foi hoje durante a detenção. No início, tive a impressão de que queria falar comigo, mas deve ter mudado de ideia, pois me pareceu distante depois disso. E eu não a culpo, sei que fui duro com ela desde que veio para cá, mas já cansei de deixar que passasse por cima de mim.

Já passou das seis horas e a tia May e o Sr. Stoner ainda não voltaram do mercado. May inventou que faria lasanha e não tinha nenhum ingrediente para isso, e pela demora, espero que estejam comprando mais do que somente o necessário pra lasanha, porque não tem nada nos armários para eu beliscar antes do jantar.

Tento vasculhar até que encontro cereal e um pacote de biscoitos. Acabo escolhendo os biscoitos. Isso serve pra enganar o estômago por enquanto. Ando em direção à mesa, mas interrompo meus passos e fico paralisado ao ver Madison sair do banheiro apenas com a toalha enrolada em volta do corpo, sua pele ainda está molhada nos ombros e braços, e seu cabelo solto deixa um pequeno rastro de gotas de água no corredor.

Para de olhar, Peter.

Ela sabe que eu estou em casa? Acho que não, caso contrário, por que estaria tão confortável andando pela casa seminua? Ou ela simplesmente não se importa com a minha presença, essa é a explicação mais plausível. Ela não se importa com nada.

Tento ignorar a imagem que acabo de ver quando ela finalmente entra em seu quarto e fecha a porta. Uma música do Elvis Presley atravessa pela casa e eu sorrio, em seguida de uma risada fraca quando percebo que nunca passou na minha cabeça que Madison Stoner pudesse gostar de Elvis.

Repreendo meus pensamentos quando me dou conta que estou pensando nela numa forma positiva. Não posso mais gostar dela, me recuso a isso. Já tive essa experiência e sei que gostar dessa garota é o mesmo que pedir pra morrer.

Tento pensar em outra coisa. Mando uma mensagem para Stark, mesmo sabendo que provavelmente não serei respondido, mas ainda custa tentar. Sou interrompido novamente quando ela sai de seu quarto, finalmente vestida com o que parece ser seu pijama, um grande pijama de ursinhos estampados por todo lado. E é engraçado, de tão irônico, uma garota tão fria em um pijama flanelado de ursos fofinhos. "Não combina com ela", foi a segunda coisa que eu pensei quando ela saiu do quarto. "Está bonita", é a primeira coisa que pensei, mesmo sabendo que não devia.

-Estou com fome. -ela diz enquanto entra na cozinha. Eu ofereço meus biscoitos, mas ela os recusa com um movimento com as mãos.

Como alguém pode ser tão fria e cheirosa?

-Tem cereal no armário de cima.

Ela encara o armário por um bom tempo, e sei o que está pensando. O armário é alto demais pra que ela o alcance.

-Quer que eu pegue pra você?

-Não. -responde ela da maneira mais seca possível. Ela pega uma cadeira e sobe na mesma, tentando alcançar o cereal.

Acontece que o cereal está no fundo do armário, e mesmo estando mais alta agora, sei que não vai conseguir pegar, então insisto mais uma vez, já vi que é orgulhosa demais.

-Deixa eu te ajudar.

-Eu já disse que não quero sua ajuda, Peter.

Ela diz pausadamente. Mas ao terminar sua frase, a vejo se desequilibrando da cadeira, que vira bruscamente e a derruba. Com sorte -e com meu reflexo de aranha- consigo segura-la nos braços antes que pudesse cair com tudo no chão. Foi tudo muito rápido, fácil pra mim, mas ela parece surpresa, talvez brava, mas só porque parece vulnerável nesse momento, enquanto suspira de maneira pesada nos meus braços. Sinto sua respiração no meu rosto, até no pescoço, seus olhos brilham, mas sei que é raiva. É a única coisa que ela já sentiu por mim além de algo como "tanto faz". Raiva porque sabe que eu estava certo sobre aceitar minha ajuda.

-Me coloca no chão. -diz ela de um jeito rude, como sempre, mas se corrige logo em seguida -Por favor.

Tento me forçar a não revirar os olhos enquanto a coloco no chão e pego o cereal no armário, o coloco em cima da mesa, planejando ir pra sala e deixar ela ali.

-De nada. - porém paro quando vejo que seu braço está vermelho e tem um pequeno corte, mas que insiste em sangrar mais do que deveria para um corte pequeno como esse. -Como? Como se machucou se eu te segurei?

Ela não diz nada, mas olhamos ambos para cima e vemos que provavelmente ela acabou batendo o braço na ponta de outro armário enquanto caía. Ela aperta o machucado, o que só faz sair ainda mais sangue.

-Deixa que eu cuido disso. -insisto, mas ela afasta o braço. Ela não parece mais brava, fria nem nada, apenas distante. Vulnerável e distante. -Da última vez que recusou minha ajuda, acabou caindo. Deixa eu te ajudar.

Depois de pensar por um momento, ela finalmente leva seu braço até mim. Pego um pano e o molho na torneira, limpando o sangue antes de colocar um band-aid no local. Mantenho meus dedos no seu braço, acariciando a sua pele devagar, sua pele macia e agora machucada. Ela continua sem dizer nada, mas aproxima seu corpo do meu, e tenho a leve impressão que sua vulnerabilidade a fez enlouquecer e agora está encarando minha boca.

-Obrigada, Peter. -é tudo o que ela diz antes de se recompor e sair da cozinha, levando a caixa de cereal para o quarto.

May chega logo em seguida, me fazendo voltar a realidade novamente com sua animação exagerada por ter comprado os ingredientes para a lasanha, e mais cereais.

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***demorei mas voltei. Espero que gostem do capítulo, eu adorei ***

I MEANT TO HURT YOUOnde histórias criam vida. Descubra agora