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André

Chego na universidade e sou recebido como sempre com olhares desse povo que se acha superior por alguma coisa que eu não faço ideia do que seja.
Passo para pegar meu diário para anotar o que for dito na reunião, quando escuto alguém me chamar.
— André? — Virei e abro um sorriso bem largo. Igor meu grande amigo. — Me falaram que você estava de volta, mas não acreditei. — Ele me abraça e da dois tapas em minhas costas.
André: Pois é, estou de volta. Como você tá cara? Senti sua falta. Nem sabia que estava de volta pro Brasil
Igor: Tô bem e você? Eu voltei a alguns meses.
André: To bem, tentando voltar a ativa com as aulas, mas sabe como a reitoria dessa universidade é complicada
Igor: Mas você é um dos melhores daqui, sabe que você é foda. Jajá vai recuperar a confiança de todos. — ele sorri. — Muito bom saber que voltou e vamos trabalhar juntos de novo.
André: Bom te ver também e de estar de volta.
Igor: Sinto muito pela Bella, não acreditei quando soube do acidente. Ela era incrível, queria estar no Brasil na época.
André: Eu entendo.
Igor: Bora sair qualquer dia desses? Beber algo? Botar o papo em dia. Queria te apresentar a Nathalia, minha noiva.
André: Claro, vai ser ótimo.
Igor: Então tá fechado, agora bora pra essa reunião. — Entramos em reunião e depois de muito assunto tratado, fomos liberados.
Durante a tarde voltei pra casa, liguei para meus pais e matei um pouco da saudade que já estava dos dois.
Bem mais tarde enquanto eu jantava, meu celular vibrou e era uma mensagem da Rayssa.
"Oi, tá sentindo alguma dor? :)"
"Não"— Respondo— "Porque?"
"Ah, achei que estava precisando vir ao hospital pra alguma coisa...."— abro um sorriso. Entendi tudo.
"De repente posso estar sentindo uma dor sim. Uma bem forte na minha cabeça."
"Sei exatamente como melhorar esses sintomas, aparece aqui no meu consultório"
Tomei um banho, coloquei uma roupa e sai de casa. Rayssa ainda não sabe que moro de frente pro hospital, por isso faço uma parada no café pra não chegar tão rápido e parecer afobado demais.
Uma hora mais tarde, depois dado o tempo suficiente, entro no hospital pela emergência e percebo que está completamente lotado.

Escuto pacientes brigando para ver seus familiares e a cada momento mais ambulâncias chegam com muitos feridos.
Um senhor de idade está sentado bem a minha frente e não parecia nada bem.
Sentei ao seu lado e lhe ofereci um copo de água.
— Obrigado meu jovem. — agradeceu.
André: Está tudo bem com o senhor? — ele negou com a cabeça e eu olhei ao redor pra saber se havia algum médico ou enfermeiro, mas não havia ninguém. — Qual o seu nome?
— José.
André: Você já foi ali pra receber atendimento? Tem que fazer uma ficha ali antes.— Ele colocou a mão em meu joelho quando eu ia levantar pra buscar ajuda.
José: Estou aguardando notícias da minha esposa. Ela estava no acidente com os ônibus. — Suspirei. Ele não estava ferido, apenas sofrendo por falta de informação.— Eu falei pra ela não vir pra casa hoje, que já ia anoitecer. Mas ela não me escuta. — Assinto. Me parece até um caso a qual me lembro bastante.
André: Sabe o estado a qual ela chegou? Qual médico está cuidando dela?
José: Não. Não nos falam nada — Ele leva as mãos aos olhos e chora. O envolvo nos meus braços e tento o confortar.— Eu não posso perder minha Maria. Não posso...
André: Tente ficar calmo. Eu sei como está se sentindo, precisa pensar positivo. — Ele fungou e pela primeira vez me olhou nos olhos. Mas tinha raiva dentro deles e acho que é de mim.
José: Por acaso sabe o que é ter a mulher que ama na beira da morte, rapaz? Como pode me pedir que fique calmo? Você não sabe do que está falando. — Disse sendo bem grosso, ignorei pelo fato dele estar quase em pânico.
André: É, eu sou bem jovem, mas eu entendo sim. A três anos minha mulher, a pessoa que eu mais amei em toda minha vida também sofreu um acidente e me deixou. Então eu sei do que eu tô falando e você precisa manter as suas esperanças. Precisa delas ok? Se perder elas, você estará sozinho. Logo alguém virá falar como ela está e independente do que acontecer eu tenho certeza que ela te ama e quer você bem. Ok? — Meu tom foi um pouco mais nervoso e nem percebi que eu estava chorando quando notei uma lágrima escorrendo.
José: Eu sinto muito, você é tão jovem...— respiro fundo e limpo meus olhos. Odeio quando isso acontece.

André: Vai da tudo certo com sua esposa.
José: Como você lidou com a morte dela?
André: Não precisamos falar disso, sua mulher não vai morrer José.
José: Mas quero saber da sua história. Conte-me acho que temos tempo. Está esperando notícias de alguém também?
André: Não, vim ver uma amiga. É médica aqui.
José: Amiga?— ele sorriu.
André: Sim.
José: Conte-me — reluto, mas ele acaba me convencendo. Conto todo o processo desde de o acidente de Bella, até o enterro e minha fuga para casa dos meus pais. — Então essa doutora virou sua amiga?
André: Sim. Ela esteve do meu lado todo o tempo, gosto muito dela.
José: Pelo visto ela também de você.
André: Acho que você tá confundindo as coisas... — digo quando noto que ele está querendo insinuar algo.
José: Está bem claro o quanto vocês gostam um do outro e o quanto você tá apaixonado por ela. — arregalo meu olhos tentando raciocinar o que ele disse. Não estou apaixonado por ela, estou?
André: Impossível. Eu nem sei se sou capaz de amar outra pessoa na minha vida, José.
José: Pois está enganado, assim como você ainda é capaz, você já está. Esta estampado nos seus olhos quando fala dela. — Fico o olhando estático, sem entender muito bem o que fala. — Você tem sorte, nem todo mundo consegue ter dois amores em uma só vida.
— Sr. José? — Voz da Rayssa vem atrás de nós, eu tomo um susto e nós nos viramos. — André?— Ela se assusta ao me ver. Antes que eu fale, José pula em minha frente.
José: Onde está minha esposa? Como ela está?
Rayssa: Boa noite Sr. José. Eu sou a Doutora Rayssa, estive acompanhando sua esposa e ela está bem. A pancada na cabeça foi bem forte, por isso causou o desmaio nela, mas já fizemos os testes e está tudo bem com ela. Apenas algumas fraturas no braço, mas está fora de perigo. Você já pode vê-la se quiser.
José: Eu quero. Por favor eu quero.
Rayssa: Ok. É só me acompanhar. — Disse e olhou pra mim sorrindo. José me olhou também e eu fiquei um pouco sem graça, é óbvio que ele já sabe que é ela.
José: É ela? — Sorri assentindo. Merda!
Rayssa: Sou eu?— perguntou confusa.
José: Estávamos torcendo para que fosse você a cuidar da minha esposa. Esse jovem falou muito bem de você. — Ela sorriu.
Rayssa: Que bom. — respondeu diretamente pra mim com aquele sorriso lindo que só ela era capaz de dar pra mim. — Agora venha comigo Senhor José, sua esposa vai adorar vê-lo. — José me dá um abraço antes de sair.
José: Obrigado por compartilhar comigo sua história. Espero que dessa vez você tenha sorte. Ela também parece ser tão incrível quanto Bella. Não desista de ser feliz meu filho! — Sorrio e seguiu em direção ao corredor junto com Rayssa. Mas suas palavras ficaram comigo. "Não desista de ser feliz".

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora