37

131 9 0
                                    

André

Além de quase ter tido uma síncope pelo André estar envolvido em um acidente, Isabelle, ou melhor, minha irmã estava nele também.
Toda vez que chove o hospital fica esse inferno que está hoje, várias ocorrências, ambulâncias chegando a toda hora e não parei um minuto, mas larguei tudo e abdiquei dos meus pacientes para atender minha família.
André estava só com um ferimento na testa bem de leve e todos estavam bem, menos a pequena Isabelle.
Não sou pediatra e nem tenho especialidades com criança, mas entendo bastante da área. Jéssica estava a atendendo e eu fiquei presente para caso precisasse de ajuda.
Descobrimos que sua imunidade era muito baixinha e devido as mudanças de tempo e a chuva forte que ela tomou hoje, ela está bem debilitada.
A colocamos no soro e ela está medicada. Logo chamei meu pai e Suzane para que pudessem vê-la, mas só a Suzane veio.
Expliquei toda a situação e podia ver em seus olhos o quanto ela estava aflita com toda essa situação. Acho que até eu.
É das situações mais difíceis é ver uma criança deitada em um leito desde hospital. Me corta o coração. Acho que foi por esse motivo que eu não escolhi a área infantil para trabalhar.
Rayssa: Onde está meu pai?
Suzane: Ele está na recepção. Achamos melhor vir um de cada vez, já que ela está dormindo e precisa descansar. — Eu assenti. — Você acha que ela vai ficar bem?
Rayssa: Acho sim! Esse caso como dela acontece muito quando a criança não amamenta pelos 6 primeiros meses de vida. Aconteceu algo durante esse tempo? — Suzane me olhou como se eu tivesse feito alguma pergunta absurda.
Suzane: Desculpa, não entendi.
Rayssa: Você amamentou ela direitinho? Ou houve algum problema?— ela riu, mas não havia nenhuma graça em seu semblante. Posso até dizer que vi tristeza. Ela passou a mão pelos cabelos da filha.
Suzane: Quem me dera se eu pudesse ter tido o prazer de ter amamentado essa princesa. Ela não é minha filha biológica Rayssa, eu e seu pai a adotamos recém nascida. Você não sabia?— com certeza eu não sabia e eu estava em choque.
Rayssa: Oh meu Deus! Não, eu não sabia. Sinto muito por ter .... — eu ia me desculpar de verdade, mas ela me cortou

Suzane: Não precisa pedir perdão, ela foi o suficiente pra mim. Não posso engravidar, e quando conheci seu pai ele já era bem de idade também. Mas aí apareceu essa coisinha pra gente e achamos que era a oportunidade perfeita pra começarmos nossa família.
Rayssa: Meu pai não tinha me falado. Ela é americana?
Suzane: Não, ela é brasileira. A mãe eu acho que morreu e pelo que o seu pai falou, o pai era um descompensado bêbado que não tinha como criar, aí abriu mão depois da morte da mulher. Não sei como um pai pode largar uma bebezinha tão linda quanto ela era sabe? — eu assinto porque eu realmente também não entendo. —  e assim que ela chegou pra nós, nós a registramos. Não houve um acordo judicial, somos os pais biológicos no seu registro.
Rayssa: E como ela chegou até vocês?
Suzane: Seu pai estava em viagem aqui no Brasil e já voltou com ela pra mim. Foi o melhor presente que ele me deu — ela sorriu feliz e eu estava me sentindo um pouco enjoada com toda essa informação. Seria coincidência demais né?
Rayssa: Eu imagino. — Peguei a ficha da Isabelle que estava na sua cama e olhei a data de nascimento. 15/05/2017. Dez dias depois do acidente da Bella.
Suzane: Tá tudo bem? — Ela perguntou porque provavelmente ela reparou minha mudança.
Rayssa: Tá tudo bem sim. Preciso ver meus outros pacientes. Fica a vontade, qualquer coisa me chame ok? — Ela assentiu e antes que eu saísse ela me chamou.
Suzane: Pode chamar seu pai? Acho que dá pra ficarmos bem quietinhos aqui com nossa filha.
Rayssa: Claro — Respondi sentindo novamente aquela movimentação em meu estômago. Aquela repulsa do que é que pode ter de tão sujo por baixo dessa história.
Eu preciso entender essa história. Fui até minha sala e acessei os documentos dos pacientes no sistema. Abri novamente a pasta da Bella, aquela que eu já revi mil vezes, mas dessa vez eu quero saber quem era a equipe que encontrou com a minha mãe. Se algo aconteceu, minha mãe será a última pessoa a me informar.
E eu quero muito estar errada. Imagina se isso vaza? Misericórdia! Poderia ser o fim do hospital.
Volto a olhar toda a equipe médica que estava de plantão naquele dia e vejo um nome conhecido, Drª Joana.

Olho os plantonistas de hoje e para minha sorte ela estava no hospital. Levantei e quando sai da sala ouvi André me chamar.
André: Ei, você sumiu.
Rayssa: É, hoje é um dia cheio — Dou um beijo em seus lábios e o puxo para o almoxarifado. André: Estava te esperando. Já está tarde,vai fazer mais um plantão hoje?
Rayssa: Acho que sim. Ou pelo menos tenho que ficar ate resolver um problema que aconteceu.— ele me envolveu pela cintura e eu queria tá nesse clima, mas eu tô parecendo um poste e ele percebe.
André: Algum caso dificil?
Rayssa: É, mais ou menos isso. Podemos nos ver mais tarde? Não posso ficar por aqui.
André: Vai pra minha casa, a gente toma café junto e faz algo depois que você dormir. — Eu sorrio porque ele já sabe como é minha rotina.
Rayssa: Fechado!
André: Espero que me dê uma notícia boa sobre esse seu paciente difícil. Gosto das duas histórias.
Rayssa: É, tomara que eu tenha uma notícia boa — disse não sabendo exatamente o que eu queria descobrir. Mas na verdade, no fundo eu sentia que já havia descoberto tudo.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora