Rayssa
Assim que sai da casa do André fui em direção ao hospital, mas minha mãe não estava.
Entrei em sua sala e fiz questão de esperar sentada em sua mesa.
Liguei o computador e acessei os dados dos pacientes, pesquisei por Bella e encontrei tudo o que eu sabia. Acidente de carro a três anos atrás, que acabou ficando em coma. Nada de novo.
Olhei para a foto de Bella e novamente me bateu a aflição que sempre batia. Ela era tão nova e tão bonita. Seus cabelos loiros até o ombro e seus olhos verdes fortes. Será que ela estava grávida no dia do acidente mesmo? E se estava, porque eu ou todo mundo não ficou sabendo?
De repente a porta abriu e minha mãe assustada franziu a testa.
Eva: O que está fazendo na minha sala e no meu computador? — Ela se aproximouou e fechou a tela e eu levantei.
Rayssa: Precisava dar uma olhada na ficha da Bella.
Eva: Que Bella?
Rayssa: Não se faça de desintendida. Você sabe bem quem é Bella.
Eva: Ah... A esposa morta do seu namoradinho? — Um calafrio passou por minha espinha, pela forma fria em que ela fala.
Rayssa: André foi chamado a delegacia hoje. Acharam o rapaz que bateu com o caminhão no carro da Bella e antes dela ficar desacordada ela pediu por socorro e disse que estava grávida.— Eu posso jurar que vi minha mãe empadecer na minha frente.
Eva: Impossível. Os bombeiros quando chegaram não avisaram nada e descobririamos assim que fizemos exame de sangue dela. Esse cara deve ter entendido errado Rayssa. — ela disse sentando em sua cadeira.
Rayssa: Os bombeiros não souberam porque ele fugiu, ela ficou sozinha e quando foi socorrida já não estava mais consciente.
Eva: Tá querendo dizer o que com tudo isso Rayssa? Você estava no atendimento a essa menina, você seria a primeira a saber se ela estivesse grávida. Deixa de ser doida. Tá na cara esse homem aí quer se livrar e tirar o foco de que ele fugiu sem prestar ajuda. — fico pensando. Realmente é muito estranho, eu não posso ter sido tão desligada a ponto de não ter percebido nada.Rayssa: Você fez a cirurgia nela mãe, primeiro que eu. Você a viu primeiro que eu, recebeu os exames. Tem certeza? Você pode me mostrar os exames dela? Deve estar em algum lugar aqui no hospital — disse olhando para as prateleiras que possuíam documentos.
Eva: Pra que isso agora? Não acredita em mim? Posso providenciar pra você, mas não posso agora. — ela parou para analisar minha roupa — Tenho coisas a fazer e você também, porque não está de uniforme? Hoje não é seu plantão? — Lembrei que eu planejava pedir demissão,antes disso tudo explodir.
Rayssa: Já vou colocar. Me atrasei. — Ela levantou e caminhou até mim
Eva: Aposto que estava com aquele namorado e ele colocando minhoca na sua cabecinha.
Rayssa: Ele não colocou nada, só estava confuso.
Eva: Irei pedir que me mandem uma cópia dos exames da Bella que estão arquivados e lhe encaminho. — Assenti e sai da sala.
Trabalhei como nunca nessa tarde. Parecia que nunca pararia de chegar gente na emergência e por volta de 23h da noite tirei um descanso, e então recebi um e-mail, era da minha mãe.
Corri para minha sala e abri meu computador para ler os exames e como ela havia dito, nada de bebês. Bella não estava grávida. Aquele homem realmente estava inventando aquilo para tentar desviar o foco.
Enviei uma mensagem para o André e lhe encaminhei os documentos para seu e-mail. Não houve respostas.
Durante a madrugada eu consegui tirar um cochilo, e ao acordar já estava na hora de ir ver meus pacientes.
Mais tarde voltei para a emergência e encontrei João. Ele se espantou em me ver trabalhando, já que eu havia dito que ia pedir demissão. Mas aí contei tudo o que havia rolado, as novas informações que recebi do caso da Bella e ele também achou muito estranho.João: Muito improvável mesmo, nos estávamos juntos naquele dia. Saberíamos que ela estava grávida e esse exame meio que comprova. —fala olhando para o papel — Nada passa por um exame de sangue e ela ficou anos aqui, mesmo que na desacordada, acha que não saberíamos se ela estivesse mesmo grávida?
Rayssa: Passa tanta coisa na minha cabeça. E se...
João: Nem continua Rayssa, isso é impossível. Ninguém iria fazer uma coisa dessas e não se esqueça que quem a atendeu foi sua mãe, chefe de cirurgia do hospital. Acho que é o suficiente para não pensar besteira. — Assenti. Ele tem razão. É loucura da minha cabeça.
Rayssa: André voltou a ficar arrasado, trazer tudo isso a tona o derrubou e não consegui falar com ele ainda.
João: Já acabou seu plantão? — Neguei
Rayssa: Ainda falta algumas horas...
João: Eu te cubro, vai lá conversar com ele e depois você fica me devendo uma... Agora com essa coisa de ser pai, talvez eu precise — Ele piscou e se afastou para sua sala.
Fui até o vestiário, coloquei minha roupa normal e fui até a casa do André.
A porta estava aberta e tudo estava apagado e fedia a bebida. Parecia que anos atrás estavam de volta. Aquele cheiro horrívelmente forte de whisky, que eu costumava sentir quando entrava no quarto da Bella no hospital e tinha que disfarçar para os enfermeiros não perceberem.
Rayssa: André?— chamei entrando pela casa e não obtive resposta.— André, estou entrando. — Passei pela sala e quando cheguei ao quarto ele estava de frente pra janela, distraído. Parecia em outro mundo.— Ei. — Toquei em seu ombro e ele virou para mim. Olhos fundos, barba grande e olhar longe, muito longe.
Ele me abraçou forte e estava muito suado. Não me importei com isso e o abracei ainda mais forte.
Alguns minutos depois ele começou a depositar beijos em meu pescoço, e me beijou ferozmente. Estava me deixando sem ar.
Botei minhas mãos em seu peito e o afastei levemente, e seus olhos estavam pura luxúria e desejo.
André: O que foi?
Rayssa: Tá tudo bem?
André: Eu quero você, só isso. — Ele voltou a beijar forte meu pescoço, mas eu sabia que algo estava errado. E voltei a trava-lo fazendo com que ele suspire. — Ray, só quero minha namorada comigo agora. Por favor? — Ele me pediu agora não parecendo tão bêbado, só parecia o André assustado, que eu tanto conhecia.
Então beijei seus lábios e ele deitou por cima de mim na cama.
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UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.
RomanceUma médica e um professor. Duas pessoas completamente diferentes que se encontraram. De Jene Andrade. 🌠