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Rayssa

Um pouco mais tarde durante a madrugada pude ver André pela emergência. Ele sabia que podia ir para casa, mas nada o fez sair daqui.
Não contei a pequena discussão que tive com sua mãe, afinal eu não iria ficar com medo de sogra que não gosta da namorada do filho. Afinal, existem muitas assim no mundo. Mas me surpreendia a mudança tão rápido.
Ao amanhecer entrei no quarto da Gisele e estava Paulo e André conversando com ela.
Rayssa: Licença — Seu sorriso parou em mim e logo ela abriu um bem falso dos falsos. Preciso manter a compostura, ela não vai me intimidar. — Está tudo normal nos seus exames e já pode retornar para casa.
Gisele: Eu avisei isso ontem, perda de tempo ter que feito dormir nesse lugar — Diz reclamando e André ri.
André: Quanto mau humor. Tenho certeza que a Rayssa é uma das médicas mais legais que tem nesse lugar e cuida bem dos pacientes.
Gisele: E dos maridos das pacientes né? — André enrugou a testa com todo aquele veneno e eu fiquei muito constrangida.
André: Mãe?
Rayssa: Tudo bem André. Ela tomou alguns remédios fortes e pode estar sobre efeito deles. — Dei alta no seu prontuário e eles a ajudaram a se arrumar.
Tempo depois já em minha sala alguém bateu em minha porta e eu abri, era André. Sorri.
André: Oi.
Rayssa: Oi. Entra. — Fechei a porta.
André: desculpa pelo o que minha mãe falou, ela está bem esquisita e não falou por mal.
Rayssa: talvez ela tenha falado por mão sim, talvez eu não seja quem ela quer que você fique junto André.
André: mas ela disse que adorou você.
Rayssa: Pessoas mudam de ideias.
André: Não tem nada disso e mesmo assim não muda nada do que eu sinto por você.  — Sinto meus olhos novamente se encherem de água. — Eu odeio tá nesse clima com você, ficar pisando em ovos e não vai ser minha mãe que vai piorar isso tudo. — Ele segura meu pescoço com as duas mãos e beija minha boca. Um beijo desesperado. Um beijo quase que suplicando que eu lhe contasse tudo o que estava me afligindo.
Rayssa: Preciso te contar uma coisa. —Digo parando o beijo.
André: Pode contar.
Rayssa: Quero que saiba que eu não queria que nada disso tivesse acontecido e muito menos que você descobrisse só agora. Queria tanto te poupar disso tudo, mas infelizmente aconteceu e você merece saber. — Ele deu um passo para atrás.
André: Fala logo — Houve mudança no seu tom de voz e eu estremeci.
Rayssa: Eu... — A porta do banheiro da minha sala abriu desviando minha atenção e lembrei que o João tava ali. Tinha vindo usar o meu banheiro, já que o seu estava interditado.
João: Rayssa, esse teu... — Parou ao olhar o André — E aí cara? Beleza? — Olhei para o André e sua expressão era uma incógnita.
André: Então é isso? — Eu o olhei sem entender nada.
Rayssa: Isso o que?
André: Tá me traindo com esse cara? — Eu olhei sem acreditar dele para o João, que estava tão em  choque quanto eu — Não precisa responder, tá na cara de vocês. E eu achando que eu estava fazendo algo errado. Que merda Rayssa! — Saiu batendo a porta sem nem ao menos me ouvir.
João: Ele quis dizer que nós estávamos juntos ou eu entendi errado?— eu ainda estava aturdida sem conseguir processar tudo o que estava acontecendo.— Ou, vai deixar ele sair daqui achando isso?
Rayssa: Se ele acha isso de mim é porque não confia em mim e muito menos me conhece. — Vou até minha mesa e sento. — Talvez a mãe dele tenha razão.
João: Razão em que?
Rayssa: Que eu o faço mal.
João: Cara você tá muito doida, mas enfim vou com a Jéssica na ultrassom dela, até mais tarde ,— Ele saiu do quarto e eu fico tentando processar tudo o que tava acontecendo.
Primeiro a mudança repentina da sua mãe, depois ele surtando de ciúmes do meu ex namorado e nem ouvindo minha versão. E penso que é melhor eu parar de pensar nessas coisas, antes que algo de pior acontecesse.
Atendo meus pacientes da emergência, mais tarde faço uma cirurgia de duas horas e meia que estava marcada e após finalizada entro em minha sala para dar de cara com a minha mãe.
Rayssa: Desde quando você tem autorização pra sair entrando na minha sala desse jeito?
Eva: Desde que eu sou dona desse hospital — Ela sorri debochada.
Rayssa: O que você quer?

Eva: Vim saber se você já deu com a lingua nos dentes pro seu namoradinho, mas algo me diz que não até porque ele ainda não veio tentar me matar.— Suspirei cansada.
Rayssa: Não, ainda não contei. Mas como eu falei pra você, eu vou contar. Você não vai se safar dessa.
Eva: Já disse que se eu cair, todos caem juntos. E eu acabo com a sua vida, se acabar com meu hospital
Rayssa: E como você iria fazer isso? Você caindo, eu viro dona disso aqui tudo.
Eva: Com que direito?
Rayssa: Porque eu sou sua filha?
Eva: Você tem razão. — Estranho sua atitude e de quando ela ia saindo, lembro do que André havia falado sobre sua mãe conhecer a minha e a questiono.
Rayssa: Por acaso você conheceu uma enfermeira chamada Gisele? — Ela para de forma abrupta e olha em minha direção.

Eva: Porque a pergunta?
Rayssa: Conheceu ou não?
Eva: Conheci muitas enfermeiras ao longo da minha carreira, posso ter conhecido alguma Gisele sim.
Rayssa: Ela além de enfermeira, também era psicóloga.  Isso deve ajudar a refrescar sua memória.
Eva: Anda logo Rayssa, porque dessa pergunta?
Rayssa: Ela esteve aqui hoje e perguntou por você.
Eva: Legal! — Ela já ia saindo novamente e eu solto — ela é mãe do André, acho que você gostaria de saber disso. — Vejo seu corpo resetar e ela leva a mão ao coração.
Poucos segundos se passaram até ela perder o ar e começar a ter uma das suas crises de ansiedade e eu ter que socorre-la.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora