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André.

Encontro-me sentado na varanda da casa dos meus pais, com minhas malas ao redor, numa casa simples do interior pensando em como voltar a vida.
Esses últimos meses foram bem complicados para mim. Logo depois do enterro de Bella, as primeiras semanas foram insuportáveis. Eu não conseguia dormir uma noite inteira por conta própria, só a base de remédio, sendo dopado ou muita cachaça. Dormir sempre era a pior hora, porque tudo vinha sempre a tona.
Abandonei de vez meus alunos na faculdade, a minha casa e vim morar com meus pais.
Sinto raiva de mim por trazer na época preocupação a eles, mas eu simplesmente não conseguia superar. Nunca imaginei me curar daquela cicatriz que parecia incurável.
Venho conversando com uma psicóloga, e ela tem sido bastante importante na minha evolução. Estou começando a ver novamente mais sentido nas coisas e conseguindo seguir a vida, mesmo ainda não aceitando muito bem tudo o que aconteceu. Mas avancei com o pensamento de que preciso continuar.
Há cerca de dois meses foi quando voltei a consegui dormir sem ajuda externa e segundo Juliana, minha psicóloga, estou bem melhor.
Hoje faz exatamente 1 ano desde que me mudei pra cá e posso dizer que estou pronto pra voltar a ativa.
Durante esse tempo uma pessoa não parou de perambular pela minha cabeça. Aquela médica.
Será que ela percebeu que não estava mais na cidade? Eu queria ter comunicado que eu estava de partida quando tive oportunidade, mas não consegui. Tudo naquele dia foi confuso demais. Eu tinha alguns sentimentos por ela que eu não poderia na época me permitir sentir.
Durante minhas consultas, contei a minha psicóloga sobre a Dra Rayssa. Ela disse que não havia nada de errado ter carinho por uma mulher que ficou ao meu lado quando eu estava frágil. Mas será que era só carinho? Eu cogitei beijar ela algumas horas depois de enterrar minha mulher. Porra eu sei que Bella já tinha "morrido" a 2 anos, mas eu me senti horrível com aquele desejo repentino que desencadeou várias coisas.
Levanto da varanda com minhas malas e vou colocando-as no carro quando escuto minha mãe me chamar. Dona Gisele e seus cuidados especiais.

Minha mãe foi uma peça fundamental na minha recuperação. Em determinados dias eu surtei decidido a acabar com todo meu sofrimento, e foi ela no meio do temporal que foi atrás de mim para me salvar. Para não me deixar desistir.
Gisele: André! Espere meu filho.
André: Sim.
Gisele: Separei esse bolinho pra você levar na viagem. Sentirei saudades...— Ela faz uma carinha triste, doida para que eu desista de ir embora. — Tem certeza que não quer ficar por mais tempo? Eu e seu pai não nos importamos que fique aqui — sorrio. Eles podem não se importar, mas eu me importo demais.
André: A única certeza que tenho é que preciso retomar minha vida de onde parei. E é lá.
Gisele: Sim. Eu compreendo meu querido. Bella ficaria feliz de ver que você tá bem e forte novamente.
André: Estaria melhor com ela aqui. — reflito alguns segundos e continuo — Mas sim, ela ficaria feliz com certeza. — Antigamente só de falar no nome dela eu entraria em colapso, mas hoje em dia já consigo lidar mais com meus sentimentos.— Preciso ir, Mãe. Amanhã tenho uma entrevista em uma faculdade próxima. Vou voltar a dar aula.
Gisele: Graças a Deus! Já estava me perguntando quando que eu ia ver meu filho lecionando novamente.
André: Sinto falta dos meus alunos e da adrenalina de dar aula para aqueles jovens cheios de hormônios.
Gisele: Eu imagino. Estou tão feliz. — Seus olhos se iluminam e ela fica super emocionada.

André: Obrigada por tudo mãe, por não ter desistido de mim.

Gisele: Jamais meu filho. Jamais irei desistir de você — Puxo-a em um abraço forte.
André: Benção Mãe!— beijo sua mão ao me afastar de seu abraço.
Gisele: Deus te abençoe meu filho! Fique com Deus. Que ele guie e proteja seu caminho. — estava quase entrando no carro quando sua voz me fez voltar a olhar para ela. — Não tenha medo de se entregar ao amor novamente meu filho. A vida é muito curta. — ela pisca o olho pra mim e eu entro no carro. Dona Gisele doida para que eu encontre um outro amor.
Diversas vezes ela falou que eu não deveria ter medo de entregar meu coração a alguém de novo. Mas nem posso acreditar que isso seja possível.

Como confiar toda minha vida a uma pessoa que pode partir a qualquer momento e me deixar sozinho de novo? Sinceramente não sei se saberia superar uma nova perda.
Sem contar que meu coração já não é mais meu a muito tempo.
Ligo meu carro e acelero de volta para o Rio de Janeiro.
3 horas de viagens é o tempo que levei até chegar a começar a reconhecer o lugar.
Chegar ao Rio me remete um monte de lembranças, encosto o carro, respiro fundo e volto a continuar meu caminho até meu mais novo apartamento.
Aquela casa que eu tinha com Bella eu vendi, e com dinheiro comprei um esse bem menor. Ainda não sei como ele é, vi apenas fotos e sei que já está todo mobiliado.
Pego a chave que ficou com o porteiro e entro.
É exatamente como eu imaginei, pequeno e confortável.
Não pretendo passar muito tempo aqui, já que irei voltar a dar aulas e quero pegar dois turnos. Quanto mais trabalho, menos penso na vida.
Vou colocando minhas malas dentro da casa e planejo arrumar tudo em outra hora, agora preciso de um banho.
Depois de já relaxado, paro em uma janela que dá de frente para o hospital GraceD'or.
Não foi atoa que escolhi um apartamento perto do hospital. A real é que torço para conseguir vê-la daqui.
Como será que ela está? Será que ela ainda trabalha nesse hospital? Será que ela lembra de mim como eu lembro dela?
A verdade é que senti sua falta e quero muito rever a mulher que me ajudou no momento mais difícil da minha vida e de novo agradecer.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora