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Rayssa.

Sabe aquelas cenas de filme em que tudo ao seu lado fica em câmera lenta, a pessoa vai perdendo os sentidos, as pessoas falam com ela e ela não consegue ouvir? É exatamente assim que me senti quando tudo aconteceu com a minha mãe.
Desci correndo para o jardim e vários de seus ossos já estavam quebrados. Coloquei a mão em seu pescoço e já não tinha mais batimentos. Logo todos do hospital já estavam ao meu redor e só lembro de acordar aqui nessa cama.
Retiro todos as agulhas do meu braço e assim que fico de pé Jéssica entra pela porta.
Jéssica: O que você tá fazendo?
Rayssa: Não tô doente — Levei minha mão a cabeça, ainda estava um pouco tonta — que merda vocês fizeram comigo?
Jéssica: Ok, senta aí que a gente conversa. — sentei e ela sentou ao meu lado. — A gente teve que te dopar, você ficou muito agitada e não estava deixando a gente fazer nosso trabalho.
Rayssa: Ela morreu né?— Ela assentiu e eu levei minhas mãos ao rosto. Era horrível que nosso fim tenho sido assim. — Eu a odiei grande parte da minha vida e agora ela não está mais aqui...
Jéssica: Eu sinto muito. — Minha amiga me abraçou e depois me deixou sozinha.
Aproveitei que tinha algumas roupas minha no hospital, fui até minha sala e tomei um banho.
Recebi um e-mail do pessoal do RH do hospital me dando dias em casa e me desejando forças. O advogado da minha mãe também mandou email para uma reunião para ler o testamento dela. E eu não tinha cabeça pra absolutamente nada no momento.
Sai do hospital e fui direto pra minha casa. Assim que cheguei Suzane me recebeu com os braços abertos. Mesmo depois das nossas indiferenças, ela estava ali para me apoiar. Isabele também me abraçou e mesmo eu estando no meu quarto, ela deitou ao meu lado.
Isabele: O tio André veio aqui hoje — ela soltou do nada.
Rayssa: Aé? E vocês brincaram?
Isabele: Sim, mas aí ele recebeu uma ligação e precisou ir embora correndo. — Imagino que ele tenha recebido uma ligação de Gisele, com toda essa confusão me lembrei que ela era mãe dele. Será que ele já sabe?
Rayssa: Ele deve ter ido para casa descansar e a gente deveria fazer o mesmo, que tal?

Isabele: Posso dormir com você? — Diz como se soubesse exatamente que era disso que eu precisava.
Rayssa: Claro meu amor. — ela deixou em meu peito e alguns minutos depois já estava dormindo. Eu, por outro sinal, não conseguia dormir. Ainda era difícil acreditar, eu fechava os olhos e a imagem da minha mãe naquela grama volta com tudo e aos poucos eu ia ficando mais sufocada.
Levanto para beber uma água e encontro Suzane chorando na cozinha.
Rayssa: Oi... — me aproximo sem jeito.
Suzane: você já sabe também né?
Rayssa: Sim, eu fui uma das primeiras a saber... Sinto muito!
Suzane: porque ele fez isso? É muita crueldade.
Rayssa: Porque eles fizeram isso né?
Suzane: Eu sinto muito pela sua mãe.
Rayssa: Ela não era minha mãe. — Ela se espanta.
Suzane: Como assim?
Rayssa: Eu soube hoje. E logo depois ela estava morta, na minha frente. E não termina por aí — Ela me olhava atenta — Ela é mãe do meu namorado, ou ex, sei lá. Ela é mãe do André.
Suzane: Meu Deus! Por isso que ela tirou a filha dele?
Rayssa: Ela não sabia. Isso pelo menos foi o que a mãe do André me falou. A mãe que criou ele no caso. Aí, isso é tão confuso!
Suzane: Muito confuso! Ele já sabe disso? — dei de ombros
Rayssa: Não faço ideia. Desde que ele descobriu sobre a belle não nos falamos mais.
Suzane: Coitado! Fiquei com tanta dó sabe, não imagino como deve ser descobrir que tinha uma filha depois de algum tempo.
Rayssa: Pois é, por isso eu nunca conseguia contar. Como se conta isso para uma pessoa?
Suzane: Tenho certeza que ele vai conseguir te ouvir, ele só está magoado.
Rayssa: É... — término minha água no copo e levanto — vou deitar, amanhã vai ser um dia longo.
Suzane: Ok, estarei lá tá? — Sei que ela fala do velório, e eu assinto saindo, indo para meu quarto. E dessa vez eu consigo dormir.
Eu deveria estar bastante cansada emocionalmente e fisicamente porque acordo com a hora bem mais avançada que o normal. Me assusto ao ver que já passava de meio dia. Faço minhas higienes e depois de arrumada, alguém bate na minha porta.
Imagino ser a Isabele ou Suzane, mas me surpreendo ao abrir. Era André, com os olhos tão fundos quanto os meus.

Rayssa: Oi... — digo um pouco assustada, um pouco aflita e um pouco esperançosa. Será que ele vai me perdoar?
André: Oi — Responde sem tirar os olhos de mim, de alguma forma ele procurava algo em mim, assim como eu procurava nele. Precisávamos de respostas. Em meio ao silêncio que se instalou, eu resolvo quebrar.
Rayssa: Quer entrar?
André: Quero. — Ele responde imediatamente e eu abro a porta do meu quarto para ele.
Rayssa: Desculpa a bagunça é que eu acabei dormindo até tarde hoje e...
André: Não ligo pra isso, precisamos conversar Rayssa... — eu assenti.
Rayssa: Claro, vamos conversar.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora