Rayssa
Depois do tapa que eu dei na minha mãe, não houve um pingo de arrependimento em mim.
Eu sempre a respeitei, afinal é minha mãe. Mesmo com todas as nossas diferenças, eu apenas virava as costas e esquecia. Mas como eu ia virar as costas para isso? Ela me olha furiosa com lágrimas entre os olhos.
Eva: Qual a porra do seu problema? — ela grita e olho para o lado com medo da Isa acordar. Tudo que ela não precisa agora é desse estresse.
Carlos: Rayssa porque você bateu na sua mãe?
Rayssa: Vocês vão mesmo se fazer de desentendidos? Vocês não tem vergonha? — Eu já estava em meio às lágrimas. — Eu tenho nojo de vocês. NOJO! Eu vou acabar com vocês, essa menina aqui — aponto pra Isabele— Vocês não vão mais enganar ela. Ela tem um pai, um pai perfeito que nem sabe da existência dela por culpa de vocês. — Dessa vez minha mãe pegou em meus braços com muita força e eu senti dor.
Eva: Não ouse Rayssa! Tudo que você ouviu aqui ficará entre nós, estamos entendidas? Estamos Rayssa— Ela me sacode.
Rayssa: Não, não estamos entendidas. — Eu puxo meu braço. — Isso que você fez é crime. Você vai perder sua licença e eu vou fazer questão de ser eu mesmo a te denunciar. Aliás, denunciar vocês dois.
Carlos: Filha, você não pode fazer isso. Tudo que a gente fez foi pensando no bem dela. Da minha filha.
Rayssa: Bem dela? Bem dela? Vocês só podem tá de sacanagem. Como que é o bem dela ficar longe do próprio pai?
Carlos: Eu sou o pai dela. Eu sou o pai que ela conhece e que ela ama. Não há quem mude isso.
Rayssa: Agora você é o melhor pai do mundo né? Você não sabe ser isso Carlos! Você nunca soube! E você mãe, meu Deus! Como pode? Porque?— Pergunto novamente e ela vira as costas pra mim e olha na janela.
Eva: Você não entenderia. — Por fim ela diz
Rayssa: Porque não tem explicação. Será que vocês comem merda?
Eva: Se você não tivesse se apaixonado por aquele...
Rayssa: Porque mãe?— insisto, mas ela não responde de imediato. Respira fundo e olha pra mim com um olhar a qual eu nunca tinha visto nela. Parecia outra pessoa.
Eva: Você vai ter que descobrir sozinha, mas o que eu disse é sério. Se esse assunto sair daqui...— ela começa e eu a corto.
Rayssa: Vai fazer o quê?
Eva: Eu também sei seus segredos Rayssa e eu posso esquecer rápido que eu sou sua mãe. Vai ser lindo você e seu namorado criando essa garota sendo dois perdidos no mundo, porque pode ter certeza, eu destruo sua vida, sua carreira e todos seus projetos prontos e a dele — ela ri.— a dele é ainda mais fácil e você sabe do que eu sou capaz a essa altura do campeonato. Eu não fiz nada do que fiz pra morrer na praia e ser ameaçada pela minha própria filha. Então, sai do meu caminho. Esquece o que você ouviu aqui ou eu acabo com tudo. Se eu afundar, eu vou afundar todo mundo junto. — Eu estremeci e ela saiu do quarto.
Carlos: O melhor que você faz é ficar quieta e não de envolver nisso. — ele também sai do quarto e eu fico sozinha.
Perco minhas forças e caio no chão chorando. Como meus próprios pais são capazes de tudo isso? Pessoas que deveriam me amar e me proteger a qualquer custo, são capazes de me ameaçar e ameaçar pessoas que eu amo.
Isabelle: Porque você tá chorando?— Diz a pequena deitada naquela cama imensa, tão frágil sem imaginar como o mundo tá prestes a cair na sua cabeça. — cadê minha mamãe? Eu quero minha mamãe. — Aquilo corta meu coração em pedaços. Levanto rápido limpando meus olhos e verificando seu pulso e sua temperatura.
Rayssa: Oi meu amor, estou um pouco triste hoje. Mas não se preocupa.
Isabelle: Você e o tio André brigaram?— ela pergunta de olhos fechados.
Rayssa: Não, porque?
Isabelle: Mamãe quando chora é porque brigou com o papai. — Da vontade de contar tudo, de falar que o pai dela não é aquele escroto do Carlos, mas isso geraria tantos transtornos a essa garotinha que deveria ser a maior protegida nisso.
Rayssa: Quer que eu chame sua mãe? — Ela assente muito solenta e num piscar de olhos ela já está dormindo de novo. — Eu não sei o que eu vou fazer pequena, mas eu devo essa a sua mãe. Eu te prometo que nunca vou deixar você. — beijo sua testa e saio do quarto um pouco mais calma.
Encontro Suzane no corredor muito abatida e eu me pergunto se ela sabe de algo, eu imagino que não. Ela é meio sem noção, mas não parece ser má pessoa.
Depois de passar a situação da Isabelle e ela ir em direção ao quarto da filha, eu vou para o vestiário.
Toda a situação passando pela minha cabeça e me deixando completamente sem saber o que fazer. Como eu vou agir? É como se o mundo estivesse caindo sobre minha cabeça e eu tivesse que proteger quem eu amo.
Tenho tanto medo do que minha mãe possa ser capaz, temo pela vida do André e até mesmo pela minha.
Se minha mãe foi capaz de tirar uma bebezinha da sua própria família de forma tão cruel, o que mais ela poderia fazer para limpar a barra dela?
Tiro meu jaleco com raiva e em alguns minutos estou do lado de fora, indo em direção a casa do André, sem saber como e por onde começar a contar tudo o que eu havia descoberto.
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UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.
RomanceUma médica e um professor. Duas pessoas completamente diferentes que se encontraram. De Jene Andrade. 🌠