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Rayssa

Ele parecia estar pisando em ovos e ver seu desconforto me deixava arrasada. Tudo isso foi provocado por mim. Ele jamais vai confiar em mim novamente, isso é um fato
André: Eu queria conversar com você agora, mas creio que ainda não é um bom momento, vejo que vai ao velório de Eva né? — ele repara na minha roupa.
Rayssa: Sim... — Sussuro e me pergunto até que ponto ele sabia das coisas.
André: Sinto muito pela sua mãe. — Assinto e sento na cama.
Rayssa: Acredito que você já saiba ...
André: Sim eu sei, mas ela não é minha mãe. — diz com amargo, sem um pingo de ressentimento.
Rayssa: Ok. Você tem razão
André: Quer companhia ao enterro? — ele pergunta com toda calma do mundo.
Rayssa: Não precisa, eu sei que você tá chateado com tudo que eu fiz e você odiava a Eva, ainda mais agora depois de tudo. Sei que a última pessoa a estar triste hoje no mundo é você. — ele nega e senta ao meu lado.
André: Mas ela era importante pra você. Eu a odeio sim, nossa, e odeio tanto que se por acaso ela estivesse viva eu mesmo seria capaz de mata-la. Mas o que eu posso fazer agora? não posso fazer nada além de tentar recuperar o que ela tirou de mim. Não posso mais perder ninguém e isso inclui você — Eu o encaro sem entender nada.
Rayssa: Não está com raiva de mim?
André: Estou. Mas estou disposto a ouvir sua justificação. — Eu pego em sua mão.
Rayssa: Eu juro que não queria te magoar.
André: Não é hora para conversarmos sobre isso, teremos tempo ok? 
Rayssa: Ok.
André: Agora vamos, te levo até o cemitério. — Ele pega minha mão e saímos do quarto. 
Assim que chegamos a sala Suzane nos esperava. Ela também vestia preto e de logo imagino que também vá ao enterro de Eva.
Suzane: Oi, como você está?
Rayssa: To legal. 
Suzane: Podem ir na frente, vou passar na minha mãe para deixar a Isabelle. —Olho para André que assente.
Andre: Dá um beijo nela por mim. — Suzane diz que dará e nós saímos. Ao entrar no carro vejo que algo esta diferente. Agora possue travas e até uma cadeirinha infantil. — Eu tive um pequeno surto, digamos assim, isso aqui não quer dizer nada.
Rayssa: Surto?
André: Quando chegar na minha casa vai entender. — Ele liga o carro.

Rayssa: Ok. — Não conversamos mais durante o caminho e assim que chegamos, André me estendeu seu braço e seguimos até onde seria o sepultamento.
Minha mãe nunca foi próxima do pouco de sua família que restou, então já imaginava que não teria ninguém. Apenas eu.
Todos os médicos do hospital estão presentes aqui. Consigo ver de longe Jéssica e João juntos Os membros do conselho, e meu pai.
André fica inquieto ao meu lado.
Rayssa: Se não quiser ficar não tem problema, eu vou ficar bem. — ele olha pra mim.
André: Eu tô legal aqui. — Eu assenti.
Alguns médicos vieram até mim e me abraçaram. Outros me entregaram flores. Outros estavam ali só por estar.
Muitos acham que minha mãe era uma suicida, viciada em trabalho e por isso se matou. Mal sabem que ela não suportou conviver com as maldades que ela fez.
Vou me aproximando do caixão e parte de mim vai se desfalecendo. Eu quis tanto ser como ela, sempre fiz de tudo pra ela ter orgulho de mim e ela nunca foi capaz de dizer coisas boas. Se sou médica hoje foi porque eu queria ser que nem ela. A médica chefe do departamento, dona de todo o hospital. Mas quantas coisas ela precisou fazer pra chegar ali?
Fecho meus olhos e tento não pensar em coisas ruins. Preciso me despedir dela.
André fica atrás de mim enquanto eu dou meu último adeus.
Após alguns minutos homens fecham o caixão e começam a abaixar seu corpo para debaixo da terra.
Viro meu rosto para o peito de André não querendo ver a cena e sinto seus braços me acariciando.
André: Terminou. — Ele sussura no meu ouvido e eu abro os olhos. A terra já cobria o buraco que havia no chão e pessoas já começavam a ir embora.
Rayssa: Obrigada. — ele me encara e não fala nada. — Com você aqui foi um pouco mais fácil.
André: É eu sei, já estive desse lado daí e você esteve comigo. — Ah então foi por isso que ele quis vir comigo? Só retribuindo?
Rayssa: Foi por isso que você veio? — Ele respira fundo e desvia o olhar.
André: O que você acha? — volta a olhar pra mim.

Rayssa: Não sei. Não sei se mereço nada no momento. Só queria que soubesse que eu sinto muito André. — Eu não aguento e começo a chorar — Eu sinto muito por tudo, sinto por não ter te contado a verdade assim que eu descobri, eu tive tanto medo...
André: medo da sua mãe destruir sua carreira?
Rayssa: Não!— sai como um grito. — Ela queria destruir a sua. Ainda tinha o hospital, eu não podia deixar uma história dessa vir a tona sem antes preparar tudo.
André: E você conseguiu preparar?
Rayssa: Não.
André: E então? Do que adiantou? Você só atrasou o inevitável. Devia ter me falado.
Rayssa: Eu sei, eu sei disso. Por isso me perdoa. Eu te prometo que eu nunca vou esconder mais nada de você — toco em seu rosto e ele fecha os olhos. — Eu amo você.
André: Eu acredito em você. — Beijo seus lábios e ele retribui.
Rayssa: Obrigada, obrigada... — Sussuro entre nossos beijos banhados em lágrimas e em seguida o abraço.
André: Precisamos ir, parece que vai chover. — Me afasto olhando para o céu, realmente o tempo está péssimo.
Rayssa: Ok, vamos.
André: Pra minha casa ou pra sua?
Rayssa: Seus pais ainda estão aí?
André: Sim, mas eles estão em um hotel hoje.
Rayssa: Ok. Pra sua então.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora