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Rayssa.

Devo confessar que dormir essa noite foi quase impossível. Essa inquietude me deixa aflita demais.
Mexo meus braços e lembro que João está na mesma cama que eu. Ainda tenho que lidar com isso...
Levanto sem fazer muito barulhos e vou tomar um banho. Quando saio João já está de pé colocando sua roupa.
João: Bom dia doutora.
Rayssa: Bom dia doutor. Não lembro de ter te chamado ontem a noite...
João: Você sempre me quer Rayssa, seu corpo precisa de mim - ele se aproxima e enlaça minha cintura. Consigo sentir sua ereção matinal na minha barriga.
Rayssa: Aé? Acho que está confiante demais doutor. - Ele deixa um beijo em meu pescoço e volta a se arrumar rindo.
João: Tenho cirurgia hoje. Sua mãe me disse que hoje você vai desligar os aparelhos daquela paciente que você gosta né? Eu sinto muito. Tá tudo bem?
Rayssa: Sim, é hoje... - digo cabisbaixa ao me lembrar que infelizmente é hoje e me arrasto ate a cama. - Eu no início tinha certeza que ela ia acordar João. Ela tinha que acordar. Ela tem a mesma idade que eu e eu tô aqui, vivinha da Silva
João: Coisas acontecem Rayssa, você sabe mais do que ninguém disso
Rayssa: Podia ser eu, podia ser você.
João: Se fosse eu no lugar dela, eu não gostaria de ter ficado todo esse tempo ligado a aparelhos. Muito menos ver de algum lugar a pessoa que eu amo largar a vida pra ficar me velando, mesmo eu não estando mais ali e aquele homem, o marido dela tá morto igual a ela. Já estava na hora linda, você tá fazendo a coisa certa. - Infelizmente ele tem razão. Ódio. Ele beija minha testa e pega sua pasta.
João: To indo pro hospital, qualquer coisa tô aqui. Nos vemos mais tarde?
Rayssa: Talvez... - Sorrio e ele sai.
Minha relação com João é bem aberta. Eu sei que ele passa o rodo no hospital, mas eu sou médica e não tenho tempo pra relacionamento então eu chamo e ele vem. Fácil e simples.
Ele é gato, gostoso, super bem dotado e alivia meu estresse, não faz perguntas e seguimos nossas vidas.
Começo a me arrumar também para ir pro hospital e meu pensamento vai até o André. Ele dormiu lá no hospital, deve estar super cansado e arrasado. Será que eu deveria levar um café?

Saio do meu apartamento, passo no Starbucks e peço um capuccino pra ele.
Assim que chego no hospital sou rodeada de enfermeiras me informando como foi a noite de alguns pacientes meus, mas eu praticamente não presto atenção.
Vejo minha mãe vindo em minha direção.
Eva: Bom dia, tudo certo para hoje?
Rayssa: Sim mãe, o marido dela já autorizou. Acontecerá hoje.
Eva: Ok. Que bom! Você está fazendo a coisa certa filha, aquele homem precisa voltar a viver.
Rayssa: É, eu espero que ele consiga. - Saio de perto dela e sigo em direção ao quarto 450 tão frequentado por mim nesses últimos 2 anos. As vezes eu vinha pra cá pra pensar, pra conversa, pra falar da minha vida. Bella sabe mais coisas sobre minha vida do que muita gente ao meu lado. Ela é uma boa ouvinte.
Bato na porta e entro. O quarto ainda está escurinho e vejo André deitado no sofá com seu livro no peito.
Abro um pouco a cortina e ele começa a acordar.
Rayssa: Bom dia André. Trouxe um café pra você. - Ele coça a vista pra se adaptar com a claridade e me direciona um sorriso singelo.
André: Bom dia doutora. Não vi a senhora entrando...
Rayssa: doutora, senhora... Me sinto com 80 anos nesse momento.
André: Perdão.
Rayssa: Tudo bem. Vou te dar mais alguns minutinhos, pessoal da funerária já está no primeiro piso. Converse com ela, estão no último capítulo do livro né?
André: Sim.
Rayssa: Tome o café e eu vou fazer a ronda no andar. Eu volto e a gente faz isso junto ok?
André: Ok. - Deixo-o e vou para minha ronda.
Ele precisa desse último momento. Eu gostaria de ter um último momento se eu perdesse alguém importante pra mim.
Uma hora mais tarde eu volto pro quarto onde Bella está e começamos a desligar os aparelhos.
André da o último beijo em sua esposa e eu desligo o último que bombeava seu coração.
É a hora em que o "pi" insurderssedor invade o quarto. Eu odeio demais esse barulho.
André aparentemente está bem e parece estar sabendo lidar. Ótimo.
A equipe da funerária vem retirar o corpo agora totalmente sem vida, e o levam.
Dou um último abraço em André. Pensar que agora não o verei deixa meu coração bem apertadinho. Querendo ou não me acostumei com sua presença.

Rayssa: Vai ficar tudo bem. Sentirei falta de vocês por aqui. Bella acabou virando uma boa ouvinte minha.
André: Haverá um velório às 14h no cemitério. Se você quiser ir.
Rayssa: Claro. Eu vou arrumar um jeito de ir, acho que consigo.
André: Obrigada dou...Rayssa. - Ele me abraça mais uma vez e meu coração idiota dispara. Ele tem que parar com isso.
Rayssa: Fica bem. - Vejo ele se retirando e depois vou correndo pra minha agenda.
Preciso passar minhas consultas de hoje para minha mãe, com certeza ela vai surtar.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora