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Dias atuais.
👩🏻‍⚕️Ray.

— Rayssa já foi dado tempo suficiente para aquela jovem. Ela precisa partir. Você sabe que ela não vai acordar, o marido dela precisa aceitar isso. Precisamos do leito. Já se passaram dois anos. Você sabe que depois de um mês o paciente passa a ficar em estado vegetativo. Como você permite que ele fique achando que ela vai acordar?— Minha mãe Dr Eva, chefe de cirurgia e dona do hospital, analisa a ficha da paciente Bella Teixeira e me repreende por até hoje permitir que ela fique ligada aos aparelhos.
Durante um tempo ela reagia a estímulos de dor, foi quando alimentávamos ela por tubo e fazíamos fisioterapia para seus ossos não atrofiarem, no caso dela acordar, mas pouco mais de 7 meses ela parou de reagir e eu tive a confirmação que ela não iria acordar mais. Mas mesmo assim eu consegui que a deixassem ligada aos aparelhos.
Rayssa: Mãe, ele sabe que ela não vai acordar. Já conversamos sobre isso. Mas acho tão bonito o amor deles, ele vem aqui todo dia, conversa com ela, lê livros pra ela, conta dos alunos dela...
Eva: Esta só adiando o inevitável minha querida. Você já pensou que esse homem está com a vida dele parada a 2 anos? Ele não pode mais viver assim. Você é uma médica, precisa começar a agir como uma. — Reviro meus olhos.— Estou te dando uma semana para conversar com ele. Eu sei que esse caso virou pessoal, e só estou engolindo isso esse tempo todo por causa de você, mas já chega. Ela precisa descansar e acho que ele também. — Ela me dá um último olhar e sai.
Depois de todo esse tempo chegou a hora de desligar os aparelhos. Sabia que esse momento ia chegar, mas não sabia que ia ser tão difícil.
A verdade é que me apeguei a ela, e até mesmo ao marido dela, André, que sempre está aqui.
As vezes a gente conversa, ele pergunta como ela está e eu digo que na mesma. Virou rotina. Até hoje ele ainda não aceitou que essa tragédia tenha acontecido.
Ela era jovem e cheia de vida, não merecia estar nessa cama.
Ouço uma batida na porta e logo ela é aberta. É o André.
Os olhos verdes fundos, barba sempre grande e um sorriso um pouco simpático.

No início tivemos que ter muito cuidado com ele, passou mal nos primeiros meses. Vivia pelos corredores e não queria deixar a Bella de jeito nenhum. Tive muita pena. Eu sei que deveria ser profissional, mas a verdade é que de alguma forma nesse caso eu não conseguia ser. Eu achava que deixar que ele viesse todos os dias aqui e a vesse fosse ajudar, mas acho que minha mãe tem razão. Acho que parei a vida dele.
Rayssa: Oi André. Precisamos conversar. — Ele beija a testa da Bella e senta para me ouvir. — Já se passaram dois anos...— Mal começo e seus olhos se enchem d'água e ele passa a mão nervoso no cabelo. Chego mais perto e me agacho em sua altura e pego em sua mão que já tremia. — Chegou na hora. Ela precisa partir.
André: O que vai ser de mim? Você não consegue deixar por mais uns meses? — Nego com a cabeça e sento ao seu lado, ainda segurando sua mão.
Rayssa: Eu sinto muito. Não depende mais de mim. — Ele tem um olhar longe e se levanta para passar as maos pelo cabelo de sua mulher. Ele a ama demais.
André: Quando?
Rayssa: Tenho uma semana pra isso. Você escolhe o dia. — Ele limpa o rosto e funga.
André: Oh minha Bella sentirei tanta saudade do seu rosto. Aceitei não ouvir mais sua voz, mas não te ver vai me destruir. — Ouvir isso me destrói. Espero que ele não se destrua mais do que já está. Quero de alguma forma o ajudar, mas não posso fazer mais nada. Olhando como médica sei que estou fazendo a coisa certa, mas como amiga eu queria poder fazer mais.
Rayssa: Você vai ficar bem. Pode contar comigo lembra? — Ele sorri confirmando e toma sua decisão.
André: Amanhã. — responde com coragem.— Posso passar essa última noite aqui? Por favor.
Rayssa: Posso conseguir isso pra você. — Fico o olhando, mas meu ar começa a faltar. Isso me machuca tanto. — Estarei lá fora, qualquer coisa mande me chamar. — Antes que eu saia o sinto segurar minha mão.
André: Obrigado Dr Rayssa. Esses dois anos você foi uma grande amiga, tenho certeza que vocês teriam se dado bem.— sorrio.
Rayssa: Sim. Eu também acho. Mas olha, seja forte, lembra?
André: Sim, esse é o nosso lema. — Lhe dou mais um sorriso e saio com coração agitado. Torcendo para que ele consiga ser forte mais uma vez.

UM ANJO EM MINHA VIDA /Completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora