Capítulo 66

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Estava correndo angustiada. Lágrimas em meus olhos. Desespero circulando nas veias.Desviava de bolas de fogo e pedras pontudas de gelo. Relâmpagos e raios caiam ao meu lado. Correntes de ar sibilavam em meus ouvidos, me fazendo tropeçar e cair com tudo no chão.

Simplesmente odeio pesadelos.

Principalmente aqueles que não consigo controlar.

Levantei do chão e quase fui atingida por um raio, pulei de susto e voltei a correr. Dei de cara com uma parede de tijolos e encostei minha cabeça ali, chorando como um bebê. Virei para trás, vendo a bruxa que fazia isso contra mim. Sim, exatamente a pessoa que você pensou.

Martha.

E com um sorriso psicopata nos lábios.

Estava sem ação. Iria morrer ali, e é tudo culpa desses poderes malditos.

- Você sabe que se te matar aqui, não vai acordar para ver seu amor, não é?

Que raiva dessa velha. 

- Não precisa me lembrar. Só termine o serviço, Martha.

Uma bola de fogo surgiu em sua mão direita e ela a levou a mim. Sentia o calor excessivo em meu rosto. A fumaça me sufocava e comecei a tossir, olhando para a senhora.

- Só não se esqueça do que seu falecido marido lhe disse. – sussurrei, sorrindo ameaçadora em meio as minhas tosses.

De repente, a bola de fogo sumiu e ela caiu ajoelhada aos meus pés, em prantos. Ergui uma de minhas sobrancelhas, mordendo meus lábios. Esse era o ponto fraco da velha. O meu vovô querido, Charlie.   

- Não irei fazer isso, eu... eu não queria. Me desculpe!

- Acho que o Charlie ficaria decepcionado por saber que fez mais uma baixaria, não é? Matar a neta dele nos sonhos é muito baixo.

Ela estava chorando de soluçar. Queria tanto me sobrepor a ela, mas não irei me rebaixar. Não ao nível dela.

- Tenho dó do meu avô, de ter tido uma mulher dessas ao lado dele. Que gosta de fazer da vida dos outros um inferno. Ah! E o pior disso é que todos nós temos o mesmo sangue, não é?

Ouvia os soluços altos da mulher e ajeitei meu cabelo e minha roupa, olhando para ela, séria.

- Não acredito que irá pedir desculpas a mim.  – comecei a andar em volta dela, de braços cruzados. – Não sei se vai me vir com um golpe pelas costas, a Lilian ressurgir das cinzas e Liam desobedecer minhas ordens. Ou você mesma me atacar. – disse, em um tom surpreso. – Não tenho certeza. Você não é mais aquela senhora doce e gentil para mim. 

As últimas palavras soaram desprezíveis e molhei meus lábios. Martha ergueu seu olhar choroso a mim, pedindo piedade com os olhos. Revirei os meus, passando o peso de meu corpo para a outra perna.

- Não irei te perdoar. Fique sabendo disso. Nunca mais será a mesma convivência, as mesmas atitudes. Não me sinto mais confortável na sua presença. – respirei fundo, olhando para aqueles olhos melancólicos e cheios de arrependimento – Você era uma segunda mãe para mim e ver o que nos tornamos hoje é tão... surreal.


Senti uma lágrima cair de meus olhos. Olhei para a escuridão que me cercava e fechei os olhos.

- Angel? Por que está chorando?

Abri-os e vi Justin me olhar preocupado. Estávamos deitados de conchinha e ele me envolvia com seus braços, me juntando ao seu corpo quente e tenso. Suspirei, sentindo minha pele arrepiar e sequei a lágrima, molhando meus lábios. 

- Sonhos idiotas. – respondi, virando de frente para ele. – Pesadelos, digo.
- Não quer... partilhar? Você parecia estar atormentada.

- Estava sim, mas não quero falar disso. Não agora.

Little Angel- 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora