Capítulo 69

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Deveria ser umas sete horas da noite quando ele foi me levar para casa. Ele sabia, assim como eu, o que tinha de encerrar quando entrasse na casa da Martha. Eu estava suando frio pela ansiedade, meu estômago revirava. Justin quis me levar na Range, mas eu não deixei. Precisava me preparar psicologicamente, e o tempinho que levaria até chegar a casa dela, indo a pé, daria para o gasto.

Íamos de mãos dadas, em silêncio. Ele respeitava meu silêncio, já que estava sem condições de falar pelo turbilhão de pensamentos que me ocorriam agora. Eram tantas hipóteses das coisas que poderiam acontecer, e mesmo com a esperança de conseguir “domá-la”, eu ainda pensava em seriamente conseguir ser tão estúpida ao ponto de estragar tudo por demonstrar medo ao invés de confiança.

Eu continuava a sentir aquele enorme mal estar, mas tinha que ser forte. Nada que eu não consiga controlar – ou pelo menos, parcialmente. Senti Justin apertar minha mão e nossos olhares se encontraram. Ele exalava preocupação, de fato. Suspirei em resposta, apenas negando com a cabeça e fechando os olhos. Maldita pressão.

- Sabe... você pode dizer a ela... hm, você sabe, nesse jeito de sonhador aí, que não pode. Marque para outro dia. Você realmente não está bem e...

- E quantos dias mais eu irei adiar? – o cortei, com a voz um pouco alterada. Tantos pensamentos. Olhei para ele com a testa franzida e molhei meus lábios, diminuindo meu tom. – Vou ficar assim em todos eles. Prefiro ter a coragem de agir frente a frente e encarar logo isso a ter que ficar fugindo dela. Só daria mais força para ela se recompor, e não é isso que quero. Tenho que aproveitar essa brecha e atacar com tudo que me resta.

- Bem, eu... eu só queria que... Argh. Esquece. – disse ele, soltando sua mão da minha e cobrindo seu rosto com as mãos.

Fiquei o fitando um pouco assustada pela sua atitude e parei de andar, observando-o passar as mãos nos cabelos e ouvir seus grunhidos confusos.

- Foi algo que eu falei? – perguntei, um pouco apreensiva.

- Eu não quero que você se machuque, entende? Só de pensar que ela pode te manipular de novo, eu fico... assim.

Ele nem me olhava nos olhos. Suspirei triste e o abracei por trás, rodeando seu abdômen e escorei minha cabeça em suas costas, já que não conseguia alcançar seu ombro por ser menor que ele.

- Prometo que quem vai se machucar é ela. – disse, o apertando mais forte. – Eu sou mais forte que ela, só era vulnerável. Agora não sou mais. – disse, agarrando o tecido de sua camisa e suspirando lentamente – Não a ela. 

Ficamos um longo tempo em silêncio. Eu ainda o abraçava daquela forma e ele alisava meus braços, me dando certa tranquilidade. Sorri sozinha quando vi que ele ficou de frente para mim, colando nossas testas e acariciando meu rosto com meus polegares. Justin retribuiu o sorriso e fiquei perdida naquela cor de mel tão apaixonada.

- Ei, parece até que eu sou um chocolate.

- Por quê?

- Falta só você babar até me devorar.

Sorri sem graça e ergui minhas sobrancelhas, repreendendo-o com o olhar enquanto ele segurava o riso.

- A culpa não é minha que você tem olhos tão perfeitos.

- Mais que os seus? Impossível.

- Tudo é possível se você acreditar que é. – disse, mordendo os lábios.

- Minha filósofa preferida.

- Não é filosofia, tá mais pra filme infantil da Disney.

Justin riu confuso e ri de volta, vendo suas mãos escorregarem preguiçosamente até minha cintura, puxando meu corpo para mais perto do dele sem nenhuma sutileza.

Little Angel- 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora