Capítulo 75

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- É como um sonho premonitório. – sussurrou para as águas que mais pareciam um segundo céu pelas estrelas refletidas nela – Um sonho que, após tê-lo, há grande chance de acontecer. Principalmente se ela sonha com a mesma coisa que a pessoa sonhou.
- Tem certeza? Não quero iludi-la, entende?
- Entendo. – respondeu, brincando com a água abaixo de seus pés, os molhando com calma e borrando aquele segundo céu – Ela não pode achar que é missionária e sair salvando todos que vir pela frente, até porque ela não pode isso ainda. Por enquanto, apenas nos sonhos. E isso se sonhar com a pessoa ou vice versa.
- Compreendo. Vou tentar regrá-la o máximo que conseguir.
- Acredite – disse, se virando para mim, com um olhar extremamente orgulhoso -, ela vai ser lembrada por infinitas gerações.


Sorri sem mostrar os dentes e levantei, olhando para o tapete verdejante atrás de mim e vendo meu amigo sumir com o vento. Agora me sentia muito mais tranquila em relação a isso. Só me falta saber como contar a ela.

Acordei num salto e acabei parando no chão com o susto, fazendo um barulho alto. Parabéns Angela. Durma outra vez bem na beirada da cama para quebrar alguma parte do corpo na próxima vez. Esfreguei as costas de minhas mãos nos olhos e levantei cambaleando, até que consegui andar para o banheiro. Tomei um banho quente, tentando entender esse sonho. Eram minha mãe e alguém familiar. Não era meu pai, nem Charlie. Muito menos a Sra. Stubin. Era um homem, aparentemente de quarenta anos, porém charmoso para a idade dele.

Era o terceiro sonho seguido com ele. E esse homem sempre estava ali, ou conversando, ou apenas me observando. Era tão... estranho. Ele me é familiar. Eu sinto que o conheço de algum lugar, mas não consigo me lembrar.

Coloquei um suéter de cor creme colado no corpo e uma calça de moletom, junto das minhas meias listradas e prendi meu cabelo outra vez, deixando o nó mais forte e desci as escadas. Estava um frio incessante. Ou era eu, ou o tempo. Não tinha ninguém ali. Nem na sala e nem na cozinha. Sem café na mesa, ou mesmo a TV ligada. Franzi o cenho e olhei no relógio, vendo que faltavam alguns minutos para as seis.

- Acordei tão cedo assim? – pensei alto, andando até a cozinha e procurando o pó de café nas prateleiras.

Para mim já eram oito horas. Foi o sonho que me acordou a essa hora num sábado. Dei de ombros e preparei o café, voltando para meu quarto logo depois, com uma xícara cheia e quentinha de café. O aroma estava divino. Deixei o café sobre meu criado-mudo e pegando o Livro dos Sonhos, colocando-o sobre a cama e me aconcheguei, bebericando um pouco do café e folheando o livro. No dia que a casa dela caiu, minha mãe conseguiu pegar o livro. Agora ele era praticamente meu e, toda vez que podia, lia um pouco.

Estava nos Sparks. Mostrava a história da Lilian até seu “reinado”, já que ela é a líder do clã. Ela fez bastantes coisas erradas, como, por exemplo, obrigar Robert matar a mulher com quem teve Liam para não precisar guardar segredos depois. Fazer o sobrinho sofrer tudo aquilo, sem ao menos explicar o que estava acontecendo, para chantageá-lo no final das contas. Que grande maluca.

Eu não desejaria nem para o cafajeste do Liam ter uma tia dessas. E ele ainda é um amor com ela – ou pelo menos finge ser, ou é obrigado, ou está enfeitiçado... não sei. Existem várias hipóteses para isso.

Já havia tomado metade da xícara e parei nos Stubin. Exatamente na página em que Charlie e Martha se tornaram os líderes. E eles eram jovens quando isso aconteceu, praticamente há uns vinte anos atrás. Como não tiveram filhos sonhadores do mesmo sobrenome, não conseguiram continuar sua linhagem. E é triste pensar nisso, porque, mesmo sem falar com ela sobre isso, eu sempre achei que ela queria que um dos filhos herdasse seus poderes. E eu era como uma filha pra ela.

Suspirei lentamente e fechei os olhos, dolorosamente. Ainda tenho aquele sentimento de culpa, como se eu pudesse ter a salvado, tê-la livrado da morte. Se eu tivesse perdoado ela antes, não teria acontecido tudo isso.

Little Angel- 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora