Capítulo 74

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- Ela não morreu. Ela não morreu! – gritei, me jogando no chão, me encolhendo e chorando loucamente. – Eu nem pude dizer que a perdoava! Que eu era um anjo de verdade!

- Se acalme, filha. Por favor.

- Como quer que eu me acalme? Ela nem me esperou, mãe!

- Angel, eu...

- Eu nem disse a ela que a perdoava, mãe... Fui eu que dei a ela motivos para se matar.

Sinceramente, não sei como consegui falar. Minha garganta latejava e eu não conseguia ao menos respirar. Ela não pode ter me deixado. Eu não podia ter deixado isso tudo de lado.

- Fui eu mãe, fui eu... – sussurrei, soluçando em demasia e minhas lágrimas molhavam o piso. 

Cobri minha face com as mãos e senti me pegarem no colo, provavelmente Justin, e ele me deitou calmamente sobre a cama.

- Não foi você, Angel. Lembra do que Charlie te disse? Provavelmente era sobre isso, querida.

- Mas se eu não tivesse deixado-a de lado, ela não estaria morta!

- Talvez ela já tivesse planejado isso, Angel. – disse Justin, afagando meu rosto – Tanto que o Charlie te deu aquele aviso, não é? Mas não disse especificamente do que se tratava para não te assustar.

- Vocês não entendem! – lamentei, soluçando em seguida. – Ela era mais que uma avó pra mim, apesar das loucuras. Ela já foi minha segunda mãe, a quem eu recorria quando precisava... E eu nem pude deixá-la demonstrar esse amor de novo.

- Angela, querida... – minha mãe me abraçou, encaixando minha cabeça em seu ombro e acariciando minhas costas. – Vamos admitir que ela não era completamente feliz aqui depois que Charlie morreu. Ela não conseguiu seguir em frente, mesmo depois de quase três anos.

- Mas eu a deixava feliz! Eu a fazia sorrir! Eu a levava no mercado como Charlie fazia, eu ajudava ela com a casa como Charlie fazia...

- Não era o suficiente para ela. Tanto que ela sonhava todos os dias com ele, tendo um sonho parecido com aquele que invadi quando estava presa em sua casa, se lembra?

- Lembro sim. – sussurrei, me aconchegando ainda mais em seu abraço – Eu sempre achei que a fazia feliz. É claro que a saudade aperta, mas acabamos superando. Não imaginava que ela fosse tão paranoica.

Eles ficaram em silêncio e mamãe permaneceu a me abraçar. Só queria entender o porquê de ela ter feito aquilo. Tantas coisas se passavam na minha mente, tantas lembranças...

- E o corpo dela? Onde está? – perguntei, de repente.

- Não sei. Achei essa carta agora, embaixo da porta da frente.

- Então ela pode estar viva, mãe!

Levantei num salto e senti minha cabeça rodar. Tudo se embaçou de uma vez e cambaleei pra frente, sentindo Justin me segurar e soltei a respiração. Libertei-me de seus braços e andei correndo até as escadas, sentindo um cheiro forte de fumaça. Parei no fim da escada e Justin também, me encarando e provavelmente pensando o mesmo que eu.

E aí me caiu a ficha.

Corri até a porta e a abri desesperadamente, sentindo meu mundo desmoronar de uma vez só. O cheiro forte e sufocante de madeira queimada e aquela nebulosa fumaça negra me fazia tossir, e andei com dificuldade até a casa dela. Parei na porta, sentindo o calor da casa incandescente em minha pele. A porta caiu em cinzas e senti Justin segurar minha cintura. Olhei nos olhos dele, que com o brilho do fogo estavam perfeitamente cor de mel. Entrei na casa e vi seus móveis em chamas, assim como o sofá, que já se encontrava preto. Seus livros estavam praticamente intactos e as chamas estavam se alastrando ali, sua cadeira de balanço já havia virado cinzas e seus quadros também.

Little Angel- 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora