Manhã de Natal

129 8 6
                                    

Lorenza estava passeando pelo bosque, cumprimentando a todos que passavam por ela, passou pela grande mesa de carvalho em frente aos pinheiros, subiu a pradeira, chegando onde a cachoeira desembocava a viu sentada molhando os pés na pequena retenção, seus cabelos cacheados grisalhos e seu vestido amarelo bem clarinho sempre a denunciavam, Lorenza se sentou ao lado dela, que já havia sentido a bisneta de longe.
- Olá minha doce Lolo. - disse gentilmente Berta.
- Oi Bisabuelita! - retribuiu Lorenza.
- O que está passando nessa cabecinha?
- Humm - respira - tenho esperança de ganhar o que pedi de Natal, mas ao mesmo tempo não, estou em conflito Bisabuelita.
- Eu sabia que era isso, só quis que você colocasse pra fora. - disse Berta calmamente.
- Você sempre sabe de tudo. - disse Lorenza.
- Na verdade não minha querida, estou sempre aprendendo tanto quanto você. Mas preciso lhe dizer, que ainda não é tempo para o seu pedido, ele ainda não esta pronto. - falou Berta olhando a bisneta nos olhos e lhe puxando mais para perto.
Lorenza se pôs um pouco chateada, mas Berta seguiu:
- Isso não quer dizer que ele não vá, só ainda não é o momento, mas será em breve, você só precisa ter paciência minha querida.
- Faz tempo que não o vejo por aqui. - disse Lorenza olhando ao redor.
- Ele esta em treinamento. Você sabe que não basta somente programar, é preciso treinar e ter disciplina, para quando estiver no seu plano, saber como agir, embora eu ache que nesse momento ele não esta em aula. - ve uma pessoa conhecida passando - Benedita! - chamou Berta.
- Berta, Lorenza. - acenou com a cabeça Benedita.
- Sabe se Santiago esta em recesso? - perguntou Berta.
- Esta sim, o vi a pouco, quer que o chame? - retornou Benedita.
- Sim por favor, faz tempo que Lorenza não o vê. - respondeu Berta.
- O chamarei. - disse Benedita.
- Fico agradecida Benedita. - disse Berta.
Lorenza seguiu conversando com sua bisavó, também colocou os pés na água, que era cristalina, a neblina de água que subia da queda da cachoeira, conferia um frescor no ar, a brisa leve trazia o perfume dos eucaliptos dos outro lado, era um lugar sem igual, fornecia uma paz e sentimentos bons.
- Lolo! - chamou um pequeno menino, de cabelos castanhos, olhos verdes azulados, levemente franzino e de tês tranquila.
- San! - disse Lorenza se levantando e indo abraça-lo forte.
- Senti tanto a sua falta! - disse Santiago lhe retribuindo o abraço.
- Bisabuelita disse que você vai demorar ainda. - disse Lorenza o soltando.
- Estou quase no final do treinamento... mas ... mamãe ainda não esta pronta... - disse Santiago meio receoso.
Berta se juntou a eles e interrompendo os disse:
- Mas logo estará, vocês sabem muito bem que tudo tem seu tempo e deve ser respeitado. Bom mas ja que estão os dois juntos outra vez, porque não vamos andar até o lago, as flores de malva nasceram de muitas cores nesse ciclo.
- Eu amo o cheiro delas, são tão perfumadas! - disse Santiago.
- Me lembra um dos perfumes da mamãe, quando ela o coloca quase me transporto pra cá. - disse Lorenza.
- Bom então vamos meus pequenos Adamatis. - disse Berta segurando nas mãos dos bisnetos e caminhando rumo ao lago.
O lago, refletia mais do que o céu, refletia o tempo, as memórias, o presente e o futuro, tinha um brilho cintilante, a energia que ele produzia era tão intensa que só de toca-lo era possível remover todos os pensamentos ruins de uma só vez. As flores de malva conferiam um aroma cítrico, levemente adocicado com um toque de terra molhada, realmente haviam nascido de muitas cores, amarelas, rosas, lilás e algumas azuis, estavam ciliarmente na borda do lago o deixando ainda mais exuberante. O sol seguia seu rumo junto ao poente, Berta conversava com seus netos, por vezes riam, se abraçavam, ate que Berta ao notar o tempo, colocou a mão no ombro de Lorenza e disse:
- Está na hora de se despedir e ir minha doce Lolo, ja vai amanhecer no seu plano.
- Até logo Titi! - disse Lorenza abraçando novamente Santiago.
- Até Lolo! - retribuiu ele.
- Bisabuelita vai comigo até a divisa? - perguntou Lorenza soltando Santiago e segurando a mão de Berta.
- Sempre querida, sempre. - respondeu Berta amorosamente.
Lorenza foi andando na companhia de Berta, mas olhando para trás para guardar na memória a imagem de seu irmão. Na divisa entre os planos, Berta se despediu dando beijinhos na bisneta e lhe disse:
- Prometa pra mim que não vai ficar chateada com seu presente, e não esqueça que seus pais te amam muito então retribua.
- Sim Bisabuela. - afirmou Lorenza.
- Agora desperte!
Lorenza sentiu alguém se mexendo na cama, entreabriu os olhos e viu que era apenas sua mãe virando pro outro lado, ela virou de barriga pra cima, respirou fundo, abriu os olhos se acostumando com a leve penumbra, sorriu, estava feliz porque faziam algumas semanas que não ia em sonho ver sua família no plano superior, era tão bom e dava uma tranquilidade estar lá, mas ela tinha muito o que fazer por aqui. Em um estalo se lembrou que ja era manhã de natal, se levantou ficando em pé na cama e pulando disse:
- É MANHÃ DE NATAL, VAMOS MAMI E PAPI!! Eu vou ficar pulando até vocês levantarem, vamos tem doces nas meias e presentes!
Karol abre os olhos e encontra os de Rugge que a diz:
- Definitivamente ela puxou você amor.
Karol riu, piscou para ele e disse:
- Melhor a gente levantar, porque ela não vai parar.
- Tá bom baguncerinha estamos levantando. - disse Rugge se sentando na cama seguido de Karol.
- Vamos o papai Noel deixou presentes e doces!!! - exclamou Lorenza pulando da cama.
- Lolo! Assim você se machuca! - chamou atenção Karol.
- É que estou ansiosa e quando fico ansiosa faço algumas loucurinhas, desculpe mami! - explicou Lorenza.
- Igual sua mãe... - disse Rugge.
Karol o olhou com ar de fuzilamento, passou por cima dele pra sair da cama, depois que desceu lhe deu um beijo bem estalado, o que fez Lorenza dizer atônita:
- Eu não acredito!
- Hah quero ver sua resposta... - falou Rugge olhando Karol com sarcasmo.
- Mãe sério, você sabe que eu não gosto.
- Desculpe filha eu sei, mas precisava provocar o seu pai, acontece. - disse Karol contornando a cama e levantando as sobrancelhas e mordiscando o lábio o inferior olhando para Rugge.
- É... vamos descer né filha. - escapou Rugge.
- Vocês dois ainda vão me deixar maluca. - disse Lorenza indignada abrindo a porta.
- Aham, vamos lá baguncerinha - concluiu Rugge.
- Esperem por mim - disse Karol correndo atras deles e abraçando Rugge por trás em um tranco.
- Deus do céu! - reagiu Rugge.
- Pra aprender a não ficar exaltando o quanto eu e sua filha somos loucas. - disse Karol ao pé do ouvido de Rugge.
Lorenza ia pelo corredor gritando " Manhã de Natal, venham ver os presentes", Rugge chamava a atenção dela dizendo para deixar as pessoas dormirem, mas ela seguia gritando.
Lorenza desceu as escadas em segundos indo direto a sala de estar onde estava a  árvore de Natal, Karol e Rugge vinham logo atrás ainda conversando.
- Ela acordou a casa inteira amor, aí você não quer que diga que ela é louquinha, porque você é louquinha, e eu amo isso em você.... - dizia Rugge.
- Não entra na sala acustica hoje. - disse Karol em tom aborrecido.
- Porque? Ah Ka sério que você vai ficar brava, eu tô falando que eu amo isso em você... - tentou remediar Rugge.
- Não entra na sala acústica, porque se você entrar, você vai ver o quão louca e posso ser. - respondeu Karol lhe jogando um beijo.
- Temos visitas melhor evitar de ir la mesmo. - pensou em voz alta Rugge indo perto de Lorenza que procurava seu presente.
- Papai olha quanto presente!! Nem consigo achar os meus! - disse Lorenza.
- Eu te ajudo pequena. - disse Karol
Karol e Rugge fizeram que procuraram onde estavam os presentes dela, mas Rugge sabia muito bem onde estavam, pois ele os arrumou na noite anterior.
- Aqui filha, olha que grande e tem uma cartinha. - disse Rugge pegando a caixa e entregando a filha.
Karol e Rugge se sentaram no chão ao lado de Lolo, que feliz abraçou o pacote, depois o colocou no chão, separou a cartinha e rasgou o embrulho.
- O que será que é? - perguntou Karol.
- Não sei, vou descobrir assim que conseguir abrir a caixa - faz força com a mão na alça da caixa e a abre - consegui! - tira o conteúdo de dentro, seus olhos brilham - Um patins!!! Uhulll um patins!!! Vocês vão me ensinar a andar, digam que sim!! - disse Lorenza esbanjando alegria.
- Vamos sim filha, vamos sim! - disse Karol.
- Não vai ler a cartinha? - perguntou Rugge olhando para Karol em seguida.
- Vou sim. - responde Lorenza voltando a sentar.
Ela pega o envelope abre, tira a cartinha de dentro, super animada, começa a ler e sua expressão muda completamente, Karol respira fundo e lhe pergunta:
- O que diz a cartinha filha?
Lorenza pousa a mão que segurava a carta sobre a perna, olha pros pais e com tristeza no olhar e na voz responde:
- Nada...de importante.
- Bom você não quer ver os outros presentes? - perguntou Rugge tentando distrai-la.
- Não... vejo depois. - disse Lorenza se levantando e correndo em direção a cozinha.
Karol tentou para-la, mas ela se esquivou e foi direito para o jardim, Rugge se levantou, foi ate Karol que a essa altura estava chateada, quando ele se aproximou ela disse:
- Você disse que a resposta iria funcionar...
- Eu vou falar com ela, não fica assim tá? - pediu Rugge
Karol concordou com a cabeça, ele lhe deu um abraço seguido de um beijo na testa e foi para o jardim.
Lorenza estava sentada no balanço, ainda que contido era possível ouvir seu choro, Rugge se sentou ao lado dela e com calma lhe perguntou:
- O que houve? O que tinha na cartinha filha?
- Eu... - soluça e enxuga as lágrimas - pedi um irmãozinho...
- Um irmãozinho? - se fez de surpreso Rugge.
- É... e aí o papai Noel me escreveu, dizendo que esse tipo de pedido não era com ele e sim com a cegonha. - respondeu Lorenza com a voz embargada.
- Bom ele esta certo filha - mexe no cabelo dela - o papai Noel produz brinquedos, para ter um irmão você precisa pedir a cegonha que é a responsável. - explicou Rugge.
- Então você acha que devo escrever a cegonha pá? - perguntou Lorenza.
- Sim princesa, se quiser eu te ajudo e depois colocamos a carta no correio.
- Mas eu não sei o endereço. - disse Lorenza.
- Só colocar " casa das cegonhas" que chega. - disse Rugge
- Então vou escrever. - falou mais animada - mas papai se ela responder e trazer as sementes, promete que vai fazer sua parte? - perguntou Lorenza.
- Vou sim princesa, prometo, se a mamãe quiser. - respondeu Rugge tentando dar uma indireta.
- Ela vai querer sim, eu sei que ela vai! - afirmou Lorenza saltitante.
- Hunf tá bom, agora vamos la pra dentro ver os outro presentes? - perguntou Rugge.
- Simmm!!! - respondeu Lorenza alegremente.
Rugge a segurou pela mãozinha e voltaram pra dentro, na sala a familia já havia se reunido e trocava presentes, quando Karol viu Lorenza entrando animada recebendo um presente de Mau, ela buscou o olhar de Rugge que lhe deu uma piscadela e com o olhar lhe disse que tinha dado tudo certo, Karol colocou uma das mãos sobre o peito, olhou pra cima agradecendo.
Após abrir o presente de Maurício que era um urso super fofinho o qual ela ficou agarrada, ela notou um embrulho atras da árvore fino porém grande, foi ate lá e viu que estava com o nome de seu pai.
- Papai, tem um presente aqui pra você. - advertiu Lorenza.
- Tem? Deixa eu ver. - pega o embrulho - um pouco pesado - lê a etiqueta - Para Rugge de Karol - olha para Karol - Amor o que você inventou?? - pergunta Rugge.
- Eu não sei. - disse Karol levantando as mãos.
Rugge foi até ela com o pacote, se sentou a seu lado e começou a abrir, assim que viu o que era, ficou muito surpreso e perguntou a Karol:
- É sério isso?
- Aham! Estou tão orgulhosa de você, sabe que merece!
- O que é? - perguntaram unanimamente.
- Mostra papai! - pediu Lorenza.
Rugge vira o que parecia ser um quadro e responde:
- Um disco de diamante.
- Uau mano! - exclamou Léo.
- O que é um disco de diamante pá? - questionou Lorenza se abraçando a sua avó.
- É um disco em comemoração filha, significa que meu disco vendeu mais de 160 mil cópias.
- Isso é bastante... - recorda - vi desses quando você e a mamãe me levaram a produtora. - disse Lorenza.
- Sim filha, ganhamos vários de ouro e de platina, mas esse é o primeiro de diamante do seu pai, significa muito. - explicou Karol.
- Ainda não creio - disse Rugge dando beijos em Karol.
- Aí... - vira a cabeça pra cima - porque eles fazem isso. - disse Lorenza aborrecida.
- Porque eles se amam Lolo. - disse Caro.
- Eu sei Abuelita, mas eles podiam fazer isso quando eu não estou vendo.
- Se você quiser ter irmaozinhos um dia vai ter que deixa-los se beijarem. - disse Caro
- Sério? - perguntou Lorenza.
- Uhum. - disse Caro tocando com o indicador no nariz da neta.
- Ta eu vou fazer um esforço, mas é que me da nojinho. - retornou Lorenza.
- Um dia você também vai fazer isso com o seu namorado. - disse Caro.
- Uiii jamais abuelita. - disse Lorenza com cara de nojo.
Seguiam com a troca de presentes, Montse ganhou varias coisas para a sua bebê de sua mãe e de sua sogra o que fez todos terem ataque de ternura. Em meio as conversas aberturas de presente, Karol perguntou a Rugge:
- E eu não vou ganhar presente?
- Ah você ja - aponta para si mesmo - tem tudo isso.
Ela ergueu uma sobrancelha pra ele em reprovação, mas ele logo lhe sussurrou:
- Seu presente ta la em cima.
- Porque? - contestou ela.
- É... que não é algo legal de abrir na frente das pessoas, mas eu acho que você vai gostar... Eu vou pelo menos. - respondeu ele baixinho.
- Ou seja o presente na verdade é pra você. - disse Karol contraindo os labios.
- Não amor é pra você... mas indiretamente pra mim... espera ate mais a noite e você vai entender. - tentou explicar Rugge.
- Ah... interessante... - concluiu Karol.

Boomerang - 2 temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora