Por do sol

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Ficaram ali abraçados por alguns minutos desfrutando da brisa do mar, olhando o horizonte, escutando o barulho das ondas quebrando sem pausa, num rítimo único e num volume constante, fazendo com que inconscientemente relaxassem profundamente, apenas apoiados um do outro. Se transportaram mentalmente unidos como uma só força, para um lugar semelhante, também com água, uma memória conhecida em seu mais intrínseco íntimo, onde se conheciam tão bem a ponto de se equilibrarem apenas com um toque, essa sensação era tão viva, mas parecia remontar a um período tão longínquo, como se eles se conhecem desde muito tempo, quando eram apenas energia. A um suspiro retornaram suas mentes para onde estavam, ele a deu mais alguns beijinhos delicados no pescoço, abraçando-a mais forte entre seus braços, se olharam fixamente, ele ao mergulhar naqueles olhos verdes não pode deixar de expressar:
- Você é tudo pra mim, sabia?
Ela apenas lhe retribuiu com a feição mais terna que poderia ter, com os olhos lhe transmitiu tudo que não conseguiria em palavras explicar o que ele significava pra ela.
Rugge a solta, arruma uma mecha do cabelo dela para trás sem deixar de olha-la um segundo sequer, acabando por perguntar:
- Está com fome?
- Uhum... - respondeu Karol balançando a cabeça em afirmação.
- Vou voltar a mini cozinha, para preparar o café almoço. Você pode ficar aqui apreciando a vista se quiser. - sugeriu ele lhe dando um beijinho na bochecha.
Enquanto Rugge voltou a bater a massa das panquecas, Karol ficou admirando a paisagem um pouco mais, enquanto tinha todos os seus sentidos aguçados com o vento vindo do mar, teve uma espécie de flashback estranho, como se já tivesse estado em um momento parecido, em que recebia uma noticia muito forte. Retornou a sua realidade, correu para Rugge, tirou a tigela da mão dele, que a notou um pouco rara, o que o fez perguntar:
- Você está bem o que houve?
- Nada... só ... me abraça. - pediu ela o abraçando.
Ao acolhe-lá, ele a sentiu suar frio e um tanto inquieta, insistiu:
- Amor, o que houve, você estava bem agorinha, está com desconforto algo assim?
- Não Baloo, tudo bem, é só... Uma sensação... Não sei explicar. - tentou responder ela.
- Quer que eu ligue pro meu pai, pra falarmos com a Lolo? - indagou ele tentando entender.
Karol se solta do abraço, ainda se segurando nele o responde:
- Não, não, não é com ela, sei que ela está bem... É... comigo.... sinto que algo vai acontecer mas não sei o que é, se bom ou ruim... É só uma sensação... - volta a abraça-lo aninhando-se no peito dele - Eu... preciso de você...
- Eu tô aqui, fica tranquila, seja lá o que for vamos passar juntos okay. - deixou claro ele.
O tempo quando se está de férias passa sempre muito rápido, o último dia da viagem chegou sem que eles pudessem piscar, mas decidiram aproveita-lo ao máximo. Rugge acordou relativamente cedo, preparou o café da manhã, a levando na cama, ela estava semi acordada, se sentou acomodando as costas nos travesseiros, ele colocou a bandeja sobre a pernas dela se sentando ao seu lado, Karol abre bem os olhos para fixa-lo bem, trocaram alguns beijinhos suaves, ela passou a comer sendo acarinhada por ele cuidadosamente.
Mais tarde almoçaram uma salada refrescante para utilizar as últimas hortaliças que haviam levado. Após o almoço começaram a organizar as coisas para retornarem, a Buenos Aires e a vida corrida na manhã do dia seguinte. Ao terminarem de recolher e guardar tudo, se sentaram na beira da porta traseira do trailer com as mãos entrelaçadas, Karol apoiou a cabeça no ombro de Rugge, que depois de alguns minutos, levantou em um salto a puxando pelas mãos.
- Vem, vamos caminhar um pouco para desfrutar de tudo isso uma última vez nessa viagem. - pediu ele a conduzindo.
Ela não hesitou, o acompanhou, andaram quilometros a beira do mar, abraçados, mais a frente Rugge avista um trapiche, na intenção de provocar a competitividade dela, sugeriu uma corrida até o local a soltando e disparando na frente, Karol não ficou muito para trás.
Chegaram no trapiche em segundos, porém sem fôlego, o sol começava a se por desenhando cores no horizonte, ambos se dirigiram quase até a ponta da estrutura de madeira, em um movimento rápido Rugge a levanta muito acima de sua cabeça, riem, ele a deixa uns minutos no alto a admirando bem, a pousa no chão novamente juntamente com um selinho e fixando olho no olho a diz:
- Eu te amo tanto, seus sonhos são os meus, queria poder te dar cada estrela do céu, mas as prefiro deixar em seu lugar como testemunhas de que jamais pensei em vida sentir algo tão forte e não menos precioso como o que sinto por você...
- Hunf... Não seja tão lindo... - contrapôs ela suavemente.
Ele rouba um beijo dela, que o diz:
- Você é meu porto seguro, a tanto tempo...
Ele a ergue novamente a colocando sentada sobre o guardacorpo do trapiche, a abraça firme retornando a beija-la, ali ficaram sendo presentes um para o outro de corpo e alma, enquanto o sol se punha completamente no horizonte, revelando o céu mais estrelado que se poderia mensurar, parece que mais estrelas haviam se somado para testemunhar o amor em sua pura benevolência.
Sem iluminação artificial próxima, com a lua minguante, o escuro tomou conta da praia, o que os fez retornarem ao trailer a passos largos, na metade do caminho dentre a vegetação ciliar pequenos pontos de luz foram surgindo e se multiplicando ao longo da orla, vagalumes de todos os tamanhos e tons, a presença dos insetos lhes deu uma certa segurança para encontrarem o trailer.
Ao chegarem no trailer, haviam alguns vagalumes pousados na parte superior sobre a lataria, piscavam intercalados feito luzinhas de Natal, como se quisessem indicar a linha de chegada.
- Parece que não só as estrelas estão a nos observar mais esses pontinhos de luz também. - disse Karol enquanto Rugge abria a porta.
- É que quando o amor é notável, chama a atenção de tudo que há na natureza e no universo. - contrapôs Rugge a ajudando a subir no trailer.
- Desde quando você ficou tão poético? - questionou Karol rindo.
Rugge que se organizava para preparar algo pro jantar a respondeu:
- Você me faz assim, na realidade desde que te conheci sempre fui, como é que você disse, poético, só não conseguia expressar em palavras.
Ela virou a cabeça o olhando de forma terna e um pouco apaixonada.
- Bom senhorita temos alguns legumes, massa e queijo, que tal uma lasanha de legumes? - indagou Rugge.
- Parece bom, precisa de ajuda ou posso tomar um banho? - retornou ela.
- Não, eu preparo tudo, tranquila ... - ri - E pensar que você não curtia muito banho. - respondeu ele rindo.
- É verdade, mas areia me incomoda. Pra ser sincera ainda tem dias que eu tenho preguiça, mas tenho que dar o bom exemplo pra uma mocinha sabe. - disse Karol pegando a toalha indo pro box.
- Por falar nessa mocinha, o que você acha de depois do seu banho, enquanto a lasanha assa, ligarmos para saber como ela está? - sugeriu e questionou Rugge.
- Aí sim, estou com saudades da nossa pequena. Bom vou tomar um banho rápido então. - respondeu Karol entrando no box.
Rugge cozinhou a massa, os legumes, montou a lasanha e a colocou no forno, enquanto Karol terminou seu banho, saiu do box, se trocou e começou a escovar os cabelos. Com a lasanha assando e o temporizador acionado, Rugge se sentou na cama ao lado de Karol que terminava de cuidar dos cabelos, pegou seu telefone e solicitou uma chamada de vídeo com seu pai, mesmo sabendo que o sinal não estava tão bom.

[Chamada de vídeo]
B - Buona Note Figlio!
R - Ciao Papá!
B - Como estão vocês? Olá Karol!
K - Ciao sogro! Estamos bem... - escuta muita gente falando ao fundo - O que está acontecendo por aí?
B - Fico feliz que estejam bem, aqui também estamos bem, Lolo está muito comportada e eu sei que vocês querem saber. Estamos com visitas ilustres, mas vou chamar a Lolo, porque ela só tem falado de vocês sem parar hoje.
R - Deve ser porque vamos nos ver logo papá.
B - Certamente... - caminha pela casa - Lolo! Tus papás princesa! - passa o telefone para a neta -
Lo - Mamá !!! Pá!!!
K - Oi minha pequena, estamos sentindo muito a sua falta!
- se ouve uma algazarra de fundo -
R - Sim princesa estamos com muita saudade, mas nos conte quem está aí?
Lo - Os padrinhos!
R - Seus tios já escolheram os padrinhos pra sua priminha é isso?
Lo - Não Pá, meus padrinhos, Tia Gio,  Tio Lino  e o Joshua, que está aprontando hehehe.
G - Oi casal em lua de mel, como estão!!
K - Gio! Como foram parar aí??
G - Passamos o ano novo na minha sogra, pensamos que vocês pudessem estar por aqui e viemos fazer uma visita.
L - Ciao!! Karol o que você anda dando pra Lorenza, ela cresceu muito!
K - É verdade, mas não estou dando nada de diferente, e o Joshua muito arteiro?
G - Começou a andar ...
R - Agora ninguém segura.
L - Nem me fale patrício nem me fale, um minuto de distração é o que basta.
- mostra o filho -
K - Aí ele tá tão fofo.
R - É incrível porque nós primeiros meses ele era a cara da Gio, agora ele está cada dia mais parecido contigo.
L - Todo mundo está falando isso, mas eu ainda acho ele mais parecido com a Gio, ih tem alguém querendo vocês.
- passa o telefone para Lorenza -
R - Que foi filha??
K - Porque está triste??
Lo - Eu quero vocês...
R - Só dois dias princesa, dois dias...
K - Vai passar rápido pequena, te prometo que vamos ficar juntos até você se cansar.
Lo - Nunca vou me cansar ... amo vocês...
R - Nos também te amamos princesa, mas agora aproveita a presença dos teus padrinhos, do seu priminho, e ajuda a cuidar da sua tia e aproveite cada segundinho aí, porque eu sei que depois você vai sentir falta, dos nonos, dos tios e dos padrinhos. Logo vamos estar juntos.
Lo - Tudo bem... vocês estão gostando da viagem?
K - Sim meu amor, eu e seu pai precisávamos muito passar esse tempo juntos.
R - Bom filha, já sabemos que está tudo bem por aí, e aqui está tudo bem, nos  vemos logo, mande beijos pra todo mundo e um abraço especial no tio Léo.
Lo - Sim Pá... se cuidem até segunda!
K - Até segunda pequena, se comporte.
K e R - Te amamos!

[Fim da chamada]

- Hunf... ela está sentindo muito a nossa falta... - disse Rugge.
- Sim... - sente um cheiro estranho - Que cheiro é esse Baloo?? - perguntou Karol.
- A Lasanha... o temporizador... - responde ele correndo até o forno.
Por sorte era apenas o queijo de cima que estava ficando mais torrado, foi possível tirar a forma a tempo.
Saborearam o jantar, fazendo o possível para não pensarem nos proximos dias, queriam dedicarem-se um ao outro até o fim da viagem o máximo possível. Como ele havia cozinhado, ela tomou conta da louça enquanto ele se banhava.
Ao sair do banho ele averiguou que a louça estava guardada e ela estava deitada na cama em baixo das cobertas dando uma olhada em seu celular, tanto que não o percebeu colocando a roupa e estendendo a toalha, só o notou quando ele foi se deitar a seu lado. Conversaram um pouco sobre a vídeo chamada, como o filho de Gio e Lino havia crescido e de como sentiam falta de sua filha. Viraram um de frente pro outro trocando olhares, dando lugar ao velho dialeto silencioso, mas que dizia muito, Rugge a fez carinho no rosto, com o dedão contornava os lábios dela, que lhe dava beijinhos na ponta do dedo. Era a última noite a sós, certamente a aproveitaram até o último segundo.


Boomerang - 2 temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora