7 anos depois

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Manhã de sexta-feira, últimas horas em Vancouver, após uma turnê pelo Canadá, a luz do sol entrava pela fresta da cortina, batia diretamente em seus olhos, que ainda estavam fechados, ele sentiu cada parte de seu corpo antes de abrir-los e tomar consciência de onde estava. Antes que pudesse fazê-lo o despertador soou, com os olhos semicerrados ele pegou o celular desativou o alarme, virou de corpo pra cima, se espreguiçou, coçou os olhos, tateou por seus óculos na mesinha ao lado, ao encontrar-los se sentou, os colocou e analisou a sua volta. Seus olhos caíram sobre o lugar vaziu ao seu lado, suspirou, perdido em seus pensamentos, quando olhou pro celular novamente percebeu que já haviam passado quase 15 minutos, se levantou, pegou a mala, colocou todos os seus pertences, verificou se não havia esquecido de nada, foi para o banheiro tomar uma chuveirada. Depois do banho, se vestiu, guardou o pijama e os chinelos na mala a fechando, pegou seus documentos e deixou o quarto rumo ao elevador. Chegando no térreo, foi até o salão tomar café da manhã, da equipe da turnê estava apenas o Alvarenga e o baterista tomando café. Após pegar uma xícara de café, um pedaço de fruta e um croissant de manteiga se juntou a eles.
- Só vai comer isso Rugge? - perguntou Alvarenga.
- Só Alva, na realidade não estou com muita fome. - respondeu ele.
- Está um pouco abatido irmão. - notou Josnam.
- Eu só quero ir pra casa - disse ele tomando o café.
- É só cansaço e saudades de casa Jo - contornou Alvarenga fazendo sinal a Josnam que deixasse Ruggero quieto.

Ele terminou de tomar seu café e comer rapidamente, organizou seu passaporte, virou a Alvarenga e perguntou:
- Quanto tempo pra van chegar?
- Uns 10 minutos. - respondeu prontamente Alvarenga.
- Vou esperar no saguão. - concluiu Rugge se levantando e saindo.
Ele achou uma poltrona fazia no hall, se acomodou de frente para porta para ver a van chegar. Enquanto esperava mexia no celular, enviava mensagens para Karol mas ela não o contestava, devia ser o sinal, a internet estava ruim, decidiu então ver vídeos da filha que tinha arquivado. Estava vendo o vídeo que Karol fez flagrando ele ensinando a Lorenza a tocar o violão, ela tinha apenas 4 anos e parecia que sempre havia tocado, tinha muita desenvoltura com o instrumento.
Poucos minutos mais tarde a van chegou, ele foi direto até ela, entregando a mala ao motorista e se acomodando em um dos bancos, seguiu vendo os vídeos antigos, até perceber que todos já haviam embarcado e a van já estava em movimento. Ele guardou o celular e passou a contemplar o caminho, cada km que passava era um passo mais perto de chegar em casa.
Chegaram no Aeroporto Internacional de Vancuver sem demora, ao estacionar a Van, Alvarenga percebeu que haviam fãs esperando Rugge na entrada, logo o perguntou:
- Você quer descer aqui e falar com as fãs?
- Eu o faria de bom grado Alva, mas não estou me sentindo bem, só quero ir pra casa. - respondeu Rugge.
- Okay - se dirige ao motorista - Pode por favor nos levar pela entrada de serviço, obrigado.
Eles finalmente embarcaram no avião, Rugge se acomodou no seu assento o reclinando, colocou seus fones e ficou olhando pela janela ouvindo as músicas de sua esposa.
Horas mais tarde, o avião pousou no aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires, antes de liberarem a saída dos passageiros, Alvarenga falava ao telefone com o motorista que vinha buscá -los.
Rugge saiu do avião, esperou sua mala chegar na esteira no saguão de desembarque, assim que a pegou foi indo em direção a saída, um pouco apressado, Alvarenga teve que se esforçar na corrida para alcança- lo. Ao chegarem na porta, Rugge ficou parado, Alvarenga parou ao lado dele ofegante, Rugge o perguntou seriamente:
- Quanto tempo pra van chegar?
- Você não vai de van Rugge - um carro para em frente a eles, Alvarenga abre a porta de trás - Você vai direto pra casa. - esclareceu Alvarenga apoiando uma das mãos no ombro de Rugge.
- Obrigado Alva. - disse Rugge muito agradecido pela compreensão de Alvarenga.
Ele entrou no carro, Alvarenga fechou a porta, enquanto Carlos colocava a mala no porta malas. Mais meia hora e ele estaria em casa depois de quase 4 semanas fora.
A estrada para Navarro parecia mais bonita do que ele se lembrava, até a água da marina parecia mais azul.
Enfim chegaram em frente a casa, Rugge abre o portão, Carlos entra com o carro o deixando em frente a garagem, Rugge desce, pega a mala, se despede de Carlos que da a partida no carro e em segundos sai pelo portão, Rugge aciona o fechamento do mesmo, vai até a porta de entrada que dava na cozinha, respira fundo e entra.
De cara encontra sua mãe pegando condimentos na geladeira, ela estava agilizando o jantar provavelmente.
- Ciao Mamma! - disse ele.
- Fligio mio! - exclamou Antonella indo em direção a ele e o abraçando - que saudade!
- Nem me fala Mamma! - seguiu ele.
- Mas me conta como foi? - perguntou Antonella o soltando.
- Foi uma loucura total, as cidades são todas lindas, o público bem caloroso e participativo. E por aqui como foram as coisas? - retornou ele.
- Tudo tranquilo filho. - começou Antonella.
- E Lolo? - indagou ele.
- Está bem, um pouco agitada com a peça de final de ano da escola e um pouco melindrosa porque vai pro primeiro ano, o ano que vem e claro morrendo de saudades do pai dela. - respondeu Antonella.
- E... Karol? - seguiu ele.
- Está numa correria e estresse por conta de um projeto novo. - começou a responder Antonella.
- Onde ela tá? - interrompeu questionando ele.
- Na LPS filho, desde cedo. - analisa o olhar do filho - Você está bem filho? - perguntou Antonella.
Ele respira fundo e responde:
- Nos discutimos antes de ontem por causa da escola da Lolo e desde então ela não me contesta. - respondeu ele com embargo na voz.
- Eu sei filho, ela estava no escritório e depois que desligou ela veio até aqui e me disse " Nella seu filho me estressa as vezes", mas não é com você amore mio, ela está estressada por conta desse projeto. - esclareceu Antonella.
- Eu não suporto ficar brigado com ela, ainda mais quando estou morrendo de saudade. - continuou ele.
- Daqui a pouco ela chega e vocês conversam, vai ficar tudo bem, você vai ver, até porque ela também sentiu muito a sua falta filho, então quando te ver nem vai se lembrar da discussão. - o acalmou Antonella.
- Que assim seja Mamma - olha no relógio - Está quase na hora da saída da Lolo, vou buscá-la. - afirmou Rugge.
- Isso filho, ela vai amar te ver! - concluiu Antonella, enquanto ele saia pela porta.
A escola era relativamente perto, ficava mais ao fim da avenida Atlântica, Rugge chegou em frente a escola e conseguiu estacionar ao mesmo tempo que o sinal para saída soava.
Ele desceu do carro e foi para a área de espera, logo a avistou vindo conversando com umas amigas, uma delas ao vê-lo, faz com que Lorenza o veja, quando seus olhos se encontram, ele se agaixa esticando o braços e ela vem correndo em direção a ele e o abraça forte dizendo:
- Papai!!
- Como senti sua falta princesa! - exclamou Rugge.
- Eu também Pá, eu senti muita sua falta e a mami também! - seguiu Lorenza o apertando mais forte.
Ele a soltou um pouquinho do abraço, para olhar aqueles olhos verdes e aquele sorriso sem os dois dentes da frente, mas que igualmente lhe tirava o fôlego. Fez carinho no rosto dela, que o abraçou novamente lhe dizendo com muita doçura:
- Te amo muito papai!
Ele suspirou, a segurou firme e se levantou a carregando no abraço. Continuou com ela no colo indo em direção ao carro lhe perguntando:
- Mas me conta, como você está? A Nona me falou da peça de fim de ano, você vai participar?
- Estou bem, melhor agora com você aqui, e sim vou participar da peça de fim de ano, eu vou fazer um personagem importante! - respondeu toda orgulhosa.
- Sério?? Qual? - retornou ele.
- A Maria, vou fazer a Maria mãe de Jesus! - respondeu Lorenza.
- Uau filha! Vai ser uma responsabilidade e tanto! - disse ele feliz.
- Não tem muitas falas, eu consigo! - disse Lorenza segura de si.
- Então vão encenar o nascimento de Jesus é isso? - seguiu Rugge curioso.
- Não pai, vamos contar a história do menino do tambor, que é sobre o primeiro milagre de Jesus. - esclareceu Lorenza.
- Sempre quis entender essa história, estou muito orgulhoso filha, sei que vai se sair muito bem. - disse Rugge.
- Sim Sim Sim! - disse Lorenza animada.
Chegando ao lado do carro antes de abrir a porta, Rugge pensa em algo e a pergunta:
- Humm você quer ir pra casa logo ou quer ir tomar sorvete?
Ela pensa rápido e responde dando pulos:
- Sorvete!!!! -
Rugge colocou a mão sobre a cabeça dela e disse:
- Deixa eu ver de que sabores você vai querer... Humm.... morango e chocolate!
- Claro que sim, claro que sim, claro que sim! - disse Lorenza batendo as mãos como se tivesse segurando pratos de bateria na mão.
- Você tem que parar de ver os vídeos antigos da sua mãe! - exclamou Rugge.
- Huhuhu não consigo! - Respondeu Lorenza contendo o riso.
- Tudo bem eu também gosto - ele ri, depois abre a porta de trás do carro - Vamos senhorita por favor. - disse ele lhe estendendo a mão e a ajudando a entrar no carro e se sentar na cadeirinha.
Ele da a volta entra no carro coloca o cinto, verifica que Lorenza também tenha fechado seu cinto e da partida. No caminho para a sorveteria Lorenza pergunta:
- Pá porque eu ainda tenho que sentar na cadeirinha, eu já tenho sete anos agora?
- Você acabou de completar filha, então só vamos passar você pro assento de elevação ano que vem. - respondeu Rugge compreenssivelmente.
Ele a observa pelo espelho retrovisor, estava olhando pra fora com um olhar raro, o que o fez perguntar:
- No que você está pensando princesa?
- No ano que vem... Eu não queria mudar de escola... Eu já conheço tudo e já conheço a professora do primeiro ano... tenho as minhas amigas - começou Lorenza.
Rugge a interrompeu:
- Eu e sua mãe não decidimos sobre isso filha, mas quando sentarmos pra conversar vou levar sua opinião em consideração, fique tranquila.
- Tudo bem... - disse Lorenza levemente chateada.
Havia um pouco de trânsito por conta do horário, mas Rugge conseguiu chegar na sorveteria e por sorte tinha uma vaga bem na frente, ele estacionou e ajudou Lorenza descer que já se via um pouco mais animada. Entraram na sorveteria, Lorenza agarrada a sua mão e saltitante, chegaram ao balcão e Rugge pediu:
- Dois sorvetes de cholate e morango por favor...
- Com chispas papai, com chispas! - Pediu Lorenza.
- Bom, com chispas. - ele disse a atendente.
Enquanto montavam os sorvetes Lorenza o pediu:
- Pá podemos comer o sorvete andando pela marina?
- Hum... Você adora não é! Podemos sim pequena! - respondeu Rugge a sorrindo.
Eles pegaram seus sorvetes e seguiram caminhando pela beira da marina saboreando cada colher, conversavam sobre a peça da escola, quando Lorenza se distanciou dele, indo se sentar em frente a duas árvores.
- Onde você vai mocinha? - perguntou ele.
- Eu quero sentar aqui papai urso! - respondeu ela se sentando.
Ele foi rindo até ela e se sentando ao seu lado, ela o disse:
- Eu adoro esse lugar!
- Hunf... sabia que eu e sua mãe viemos exatamente aqui quando ela estava esperando você? - indagou Rugge recordando a memória.
- É? - retornou Lorenza o sorrindo.
- Uhum, ela estava tão linda, você mexia bastante. Voltamos aqui quando você tinha uns 2 aninhos, mas a muito tempo não fazemos isso de sentarmos e aproveitarmos a tarde aqui pra fazer um pique nique. - respondeu Rugge visualizando as memórias.
- Temos que fazer isso outra vez pá, a mami anda muito estressada. - sugeriu Lorenza.
- É uma boa ideia minha pequena, mas já terminamos nossos sorvetes, vamos voltar pegar o carro antes de escurecer está bem? - disse Rugge se levantando.
- Sim papai urso! - exclamou ela.
Ele a pega no colo a rodando e a diz:
- Eu adoro quando você me chama de papai urso!
- Mas você é meu papai urso hehehe - disse ela rindo.
Eles retornam até a sorveteria brincando, rodopiando, chegam no carro, Rugge coloca Lorenza na cadeirinha outra vez, fecha a porta e entra novamente na sorveteria. Lorenza fica curiosa pra saber porque seu pai foi lá outra vez, mas logo ele sai com uma sacolinha e entra no carro.
- Pá o que foi fazer de novo na sorveteria? - perguntou Lorenza.
- Fui comprar sorvete pra sua mãe, você sabe que ela adora. - disse Rugge arrancando com o carro.
Quase em casa Lorenza pergunta:
- Pá o patinete tá no porta malas?
- Deve estar filha, pelo menos eu não tirei ele de lá, porque? Você quer andar? - pergunta ele.
- Sim, ainda tem luz! - exclamou Lorenza.
Ele estacionou o carro, umas duas quadras antes de casa, ajudou Lorenza a descer, abriram o porta malas e o patinete estava lá, antes de começar a andar Lorenza abriu a porta traseira novamente e pegou sua mochila, colocou nas costas e subiu no patinete, Rugge logo perguntou:
- Porque vai de mochila?
- Porque me sinto mais segura com ela. - respondeu Lorenza dando impulso.
Ela deu várias voltas, mas o sol estava quase posto, Rugge a chamou, logo entraram no carro pra ir pra casa.
Rugge entra com o carro, estaciona na garagem ao lado do carro de Karol, Lorenza não o espera, destrava a porta e sai, dizendo e pulando em direção a porta da cozinha:
- A Mamãe chegou, a Mamãe chegou!!
Lorenza entrou como raio dentro de casa, Rugge ficou no carro pensando em como veria Karol, ele estava morto de saudades, mas ele não sabia como ela estava, ela não havia respondido nenhuma de suas mensagens depois da discussão que tiveram, ele ficou ali reunindo coragem, enquanto Lorenza cumprimentava a avó.
- Nona!!!
- Oi mia bambina!!! - disse Antonella abraçando a neta.
- Vou ver a Mamãe - disse Lorenza se soltando e começando a correr.
- Lolo - chamou - Lorenza! - ela lhe deu atenção - Sua mãe está no escritório no telefone meu anjo, melhor não ir lá. - alertou Antonella.
- Eu vou mesmo assim Nona. - disse Lorenza saindo da cozinha.
Ela foi direto ao escritório, abriu a porta e sua mãe estava mesmo ao telefone olhando pela janela. Lolo foi por ela lhe abraçando pelo quadril, ainda abraçada levantou a cabeça para olhar pra mãe, Karol a retribuiu lhe dando uma piscadela, sorrindo e a mostrando a língua enquanto a pessoa falava no telefone.
Rugge finalmente saiu do carro, entrou na cozinha, dando um beijo na bochecha de sua mãe que o notou apreensivo, ele logo a perguntou:
- Onde elas estão?
- No escritório filho, Karol está ao telefone, mas parece mais animada, acho que o projeto deu certo finalmente, vai lá falar com ela, que eu sei que você está louco de saudade. - respondeu Antonella.
Ele assentiu, saiu rumo ao corredor, dando de cara com Lorenza, que vinha pulandinho.
- Falou com a Mamãe? - perguntou ele.
- Não, ela tá no telefone, mas abracei ela bem forte, não quis ficar lá atrapalhando, quando ela desligar a gente se fala, vou ajudar a Nona com o jantar. - disse Lorenza passando por ele seguindo pra cozinha.
Rugge foi até a porta do escritório, a escutou ao telefone, respirou fundo, abriu a porta devagar pra não fazer barulho, a viu, linda com um coque no cabelo, calça jeans mostrando os calcanhares e uma camisa amarela suave, aberta até a altura do peito, descalça com os sapatos ao lado, ela não percebeu sua chegada, mas falava muito animada com a pessoa ao telefone. Ela seguia olhando pra fora, ele foi sorrareiramente atrás dela, pensou um pouco, quase quis dar meia volta, mas estava com muitas saudades, então a abraçou pelas costas, pousando a cabeça no ombro dela, para surpresa dele, ela retribuiu o abraço, ficou sorridente, se despediu da pessoa no telefone, desligou, colocou o celular sobre a mesa se esticando e disse segurando seus braços firmemente:
- Baloo!
- Oi meu amor. - disse ele baixinho.
Eles ficaram abraçados por alguns minutos, até ele começar a dar beijinhos no pescoço dela, ela virou a cabeça para ve-lo, segurou seu rosto, olharam um nos olhos do outro, ela lhe deu um selinho, seguido de outro e outro, até que se beijaram mais intensamente, a saudade falou mais alto.

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