Difícil resistir

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ADRIANA

O Carlos viajou, me falta o que fazer sem a Clara em casa. A Nanda me liga me chamando pra night. Resolvo ir, afinal ficar em casa numa sexta-feira a noite sozinha, é deprimente.

― Onde nós vamos?- Pergunto a Joyce, que me pega em casa de carro.

― No Bar de Todos.

O bar está lotado quando chego. Tentamos uma mesa, mas não há nenhuma vaga. Resolvemos pegar um baldinho de cerveja, colocamos no chão e formamos uma roda em torno.  Estamos em cinco. Nanda está com o peguete novo dela, Joyce com o namorado Caio e eu. Bem que o Carlinhos poderia estar aqui. Ele é excelente companhia para qualquer lugar.

A Jéssica me ligou hoje cedo. Amanhã ela estará na cidade. Pretendo de verdade fazer amizade com ela. Assim terei uma companhia além da Clara. Depois que Clara passou a trabalhar no hospital, nos restaram pouquíssimas ocasiões para estarmos juntas e curtir algo.

Começamos a beber e o bar continua enchendo. Resolvemos ir para um cantinho, assim não correríamos o risco de alguém esbarrar no nosso baldinho e derrubar nossas bebidas. Após terminar minha segunda latinha de cerveja, resolvo enfrentar a fila do banheiro feminino.

A música está alta, pouca iluminação. Como todo local que os jovens costumam curtir, o ambiente está propício para a azaração. Vou me esgueirando pelas pessoas e sou empurrada com força sobre alguém. Me apoio no peito do cara para não cair e peço desculpas, seguindo meu caminho. Finalmente entro no banheiro e vamos lá nos contorcermos para conseguir fazer xixi sem sentar nesse vaso nojento.

Termino, lavo as mãos e dou uma segunda olhada no visual para ver se está tudo okay. Saindo do banheiro, sinto uma mão me puxando pelo pulso, rapidamente, me enfiando no banheiro de deficientes.  Que merda é essa? O cara não fala nada, simplesmente me ergue e me senta na pia do banheiro que está vazio, colando sua boca na minha. Não sei quem é, pois o infeliz apagou a luz do banheiro quando entrou comigo. Tento protestar, sair de cima da pia, mas sua língua está dentro de minha boca numa fração de segundo. Espera um pouco, esse perfume me parece familiar. Ele cola seu corpo no meu. Segurando minha cintura e minha nuca, me deixando sem muito movimento. Com seu corpo ainda mais próximo do meu, sinto seu perfume... É meu lobo mau.

O beijo é intenso e muito gostoso. Enrosco minhas pernas em torno de sua cintura e seguro com força seu cabelo. Ele tira a língua de minha boca. Sério que ele vai fazer isso... Tirar de mim essa língua gostosa?  Ele desce sua língua por meu pescoço, e vai subindo até encontrar o lóbulo de minha orelha... uma leve mordida.

― Ah... minha Chapeuzinho!- é ele mesmo, meu lobo mau gostoso.

Sua mão intensifica o aperto em minha cintura e essa frase rosnada em meu ouvido, me  faz gemer e o prendo mais a mim.

― Te quero muito Adriana!- ele diz em meu ouvido.

Espera um pouco... daqui a pouco ele vai cair na real, vai fazer o mesmo  que da última vez. Melhor eu sair daqui, antes dele me dispensar outra vez.

Reúno toda força que tenho, inclusive de raciocínio, afinal de contas vai ser muito difícil pra mim me afastar dele o querendo tanto.

― Me deixa!- Digo com as mãos empurrando ele pra longe e já descendo da pia. Saio o mais rápido que posso daquele banheiro e sem olhar pra trás. Sei que vou me arrepender disso.

Me aproximo da Joyce e digo que surgiu um problema  e que vou ter que ir embora. Ela me faz um monte de perguntas, mas só digo "tchau", pego minha pequena bolsa e  vou pra fora tentar um táxi ou carro de aplicativo.

Por sorte alguém está chegando de táxi, espero a pessoa descer e entro correndo no táxi e pedindo pro cara me levar dali. Quando o táxi começa a se afastar, vejo Eduardo saindo do bar acompanhado do Samuel. Ele me vê dentro do táxi e só acompanha com os olhos eu me afastar.


EDUARDO

Saio correndo do banheiro atrás da minha Chapeuzinho, mas ela se perde no meio desse povo todo. Tenho dificuldade de acompanhar, devido ao bar estar muito cheio. Vejo de longe ela se afastando de um grupo e indo em direção à saída. Tento seguí-la, mas como disse, muita gente. O Samuel me vê passando e pergunta o que houve. Digo a ele pra me encontrar lá fora. Passo por um garçom e deixo uma nota de cem em suas mãos dizendo que é pra conta da minha mesa.

Consigo chegar do lado de fora do Bar, mas só a tempo de ver minha Chapeuzinho partindo num táxi.

― O que houve Eduardo?

― Nada. Só... vamos pra casa. Eu queria encher a cara, mas acho melhor ir pra casa, além do más, você tem que ir cedo pra buscar Jéssica e Julia- jogo a chave do carro pra ele e vamos em direção ao carro.

― Você acha de verdade que sou burro ou você está se fingindo de santo?- diz Samuel já ligando o carro.

― Do que você tá falando?

― Vi Adriana saindo praticamente correndo de lá. Tenho certeza que você tem algo a ver com isso, não é Eduardo?

― Adriana tava lá?- melhor fingir demência.

― Tá, se você quer brincar de bobo da corte, okay- Samuel nos leva pra casa.


― Eduardo, ainda não terminei o que estava lhe dizendo- não acredito que Samuel vai me dar sermão uma hora dessas como se eu fosse uma criança. Estou caminhando da garagem para a porta de casa- Sei que você não é uma criança- Oh porra! Ele agora lê pensamentos?- mas estou realmente tentando abrir seus olhos. Você não me venha dizer que não está balançado e gostando da Adriana, porque isso já ficou chato pra eu ouvir. Você está completamente envolvido por ela. 

― O que você quer que eu faça? Agarre a garota a força?- foi exatamente isso que tentei fazer, mas não funcionou.

― Se fosse um tempo atrás eu diria que não iria precisar disso, pois eu vi que ela gostava de você...

― Gostava?- interrompo o Samuel.

― Agora já não tenho certeza se ela ainda gosta de você... afinal você bancou o idiota com ela, com essa besteira de mantra que você fica falando, pra ver se você convence ao menos a si próprio.

― Mantra?- Entro em casa e vou direto para o sofá.

― "Ela poderia ser minha filha... Sou velho demais pra ela..." - tenho que ri ouvindo o Samuel tentando me imitar- Enquanto você fica aqui falando merda, o Carlos está cada dia mais próximo de tirar ela de sua vida!

― Samuel...

― Samuel nada! Vou dormir. Tenho que acordar logo pra ir buscar minhas duas pérolas amanhã.

― Tá tudo certo na casa? Não precisa de nada? Se precisar, sabe que é só me dizer, né?

― Tá tudo certo. Se precisar te digo. Até segunda Eduardo e pára de ser burro!

Samuel sai sem ao menos me dar a chance de responder a altura. Agora fico aqui pensando no tesão que a minha Chapeuzinho me dá. Quer saber... Vou tentar dormir. Mas antes... farei uma visita ao banheiro pra acalmar meu lobinho dentro da cueca.

Trilogia : POR QUE NÃO?-Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora