CORAÇÃO PARTIDO

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Acompanho o médico até os quartos onde estão Dri e o Eduardo. Os quartos ficaram lado a lado. Vou primeiro ver a minha amiga.

Ela parece dormir, está com gesso na canela. Acaricio seu rosto e ela acorda.

— Graças a Deus! Como se sente?

— Minha cabeça tá doendo. Onde tá o Eduardo?

— No quarto aqui ao lado.

— Ele tá bem?

— Vai ficar. Quebrou o braço e fraturou umas costelas. Mas o meu sogro é um homem forte. Vai se recuperar.

— Ele se jogou em cima de mim, pra me proteger, quando vimos que o carro ia sofrer um acidente. Como está o Samuel?

— Eu não sei. Ele tá no centro cirúrgico e o Bruno tá com ele - puxo uma cadeira e coloco ao lado da cama dela e seguro sua mão - Você se lembra o que aconteceu?

— Ahnnn... estávamos conversando e de repente o Samuel gemeu e colocou a mão no peito, logo depois ele pareceu apagar e o carro perdeu o controle - ela fecha os olhos como a buscar respostas - só me lembro do Eduardo me abraçando e um barulho forte. Depois lembro de ouvir ele me chamar e não lembro de mais nada.

— Certo, você precisa descansar... eu vou ver meu sogro. Volto assim que der.

— Eu quero ir com você.

— Não Dri. Fique aqui.

— Mas eu quero ver ele, ver se ele tá bem mesmo.

— Não confia mais em mim?

— Você pode mentir para me proteger e eu sou a única aqui que mente mal...

— Prometo que deixo você, informada de tudo.

Quando vou saindo do quarto esbarro no Bruno.

— Amor?- ele tá tão aéreo que nem tinha me percebido.

— Ai amor... que dor! - ele chora e me abraça apertado - como vou conseguir falar isso pro meu pai?

— Falar o que amor?

— Ai... ai... - ele senta no chão me levando junto - tá doendo amor... faz parar.

— O que houve? Me diz pra eu ajudar você...

— Ele nos deixou... meu pai vai morrer de dor... eu não sei como vou dizer isso.

— O... o... o S-Samuel não resistiu?- já começo a chorar também.

— Tentamos de tudo... mas, ele ... não voltou - lágrimas e mais lágrimas em nossos rostos - a hora da morte foi a meia hora atrás...desde então eu não paro de chorar e não consigo acreditar... que porcaria de médico eu sou? Não consegui salvar a vida do homem mais importante pra mim e meu pai.

— Amor... você disse que tentaram de tudo.

— Não vou conseguir olhar nos olhos do meu pai, pra falar isso. Nem nos da Jéssica ou da Júlia. Quando precisei deles, eles estavam lá... agora ... eu não consegui retribuir... eu sou um péssimo médico!

— Amor... calma. Não foi culpa sua.

— O que você está fazendo aqui?- ele limpa o rosto.

— O quarto da Dri e do seu pai, são esses aqui.

Ele entra pra ver a Dri e eu junto. Mas ela percebe de cara que algo não tá bem. Já que o Bruno está vermelho de tanto que já deve ter chorado.

— Oi Dri. Como se sente?

— Melhor que você com certeza. Me diz de uma vez, o que aconteceu... o Eduardo tá bem, né?

— Tá.

— E o Samuel?- Bruno não consegue responder e cai no choro outra vez.

Adriana olha pra mim, como a saber que algo de ruim aconteceu. Ela então se junta a nós, num choro doloroso.

BRUNO

Eu fui para o centro cirúrgico ver no que poderia ajudar o Samuel, já que ele foi o que mais inspirava cuidados. Estava inconsciente desde o acidente. Mas só me deixaram acompanhar, não me deixaram fazer nada. O médico constatou que o Samuel já chegou quase morto ao hospital. Tentaram tudo pra ver se ele reagia, mas foi tudo em vão.

Eu estudei medicina para tentar salvar vidas. Justamente, para não ver as pessoas sofrendo como vi minha mãe e meu pai ao acompanhar ela na sua via crucis. Mas nunca me senti tão impotente como agora. O médico que tentou fazer uma cirurgia, constatou que o Samuel estava com o coração grande.

Quando ouvi ele dizer " hora da morte... 21:02" meu coração parou junto. Fiquei do lado de fora do centro cirúrgico por muito tempo... depois saí caminhando, tentando achar coragem de encarar meu pai , a Jéssica e a mãe. Esbarrei na Clara e quando notei que era ela, eu desabei... chorei ainda mais.

"Contamos" pra Dri. E não sei porque achei que isso poderia me ajudar a contar para o meu pai.

— Eu vou ver que médico vai dar a notícia para a Júlia e a Jéssica- disse Clara saindo do quarto em que estava a Dri - me aguarde pra eu poder te ajudar a falar para o seu pai.

— Tá - foi a única coisa que consegui falar.

— Bruno, quando a Clara voltar, me ajude a ir até seu pai. Ele vai precisar do maior apoio do mundo.

— Não sei como olhar pra ele...

— Não foi culpa sua. Foi um acidente...

— Com tantas pessoas ruins no mundo... por que Deus quis levar justo o Samuel?

Depois de muito tempo, a Clara voltou. Toda vermelha e triste, visivelmente abalada. Não deve ter sido fácil ver a Júlia e Jéssica, desabarem.

Pedi uma cadeira de rodas e coloquei a Dri sentada e levamos ela para o quarto em que meu pai estava. Ela ficou a lado da cama acarinhando ele. E eu ansioso e tenso.

Com um pouco mais de 15-20 minutos ele começa a dar sinais de que está recobrando a consciência.

Ele olha primeiramente pra mim. Depois passa os olhos pelo quarto.

— Amor... você está bem? -  ele pergunta pra Adriana e tenta tocá-la.

— Estou bem. E você meu amor?

— Minhas costelas doem... como tá o Samuel, filho?

— Pai... - um médico adentra ao quarto me interrompendo.

— Senhor Eduardo. Vejo que recobrou a consciência. Como se sente?

— Com dor. E um pouco confuso...

— Confuso?

— Estou num hospital ou numa clínica?

— Clínica São Rafael.

— Qual o estado real de minha mulher aqui do lado - ele segura a mão da Dri.

— Ela está muito bem. Ficamos preocupados com ela chegando inconsciente, mas correu tudo bem.

— E o Samuel?

— Ah... o senhor não foi informado ainda... claro, recobrou a consciência a pouco. O que o senhor era do senhor Samuel?

— Como assim, era?

— Eu sinto muito senhor Eduardo, mas o Samuel não resistiu! - eu olhei para a Clara que olhou para a Dri e olhamos os três para o meu pai.

— Espera... eu tô perguntando do Samuel Gomes. Um senhor moreno, alto, forte... ele ficou inconsciente, mas ele é como um touro. Ele foi trazido pra cá, né Bruno?

— Sim... - eu voltei a chorar.

— Não... não, não , não, nãooooo... isso é alguma piada de mau gosto? Cadê o Samuel, Bruno? - ele tenta levantar e começa a ficar agitado - Eu quero ver o Samuel agora! Parem de me enrolar... cadê o Samuel?- O médico chama dois enfermeiros que seguram meu pai, enquanto ele aplica um sedativo. Meu pai apaga novamente.

Trilogia : POR QUE NÃO?-Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora