Moleque desgraçado!

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EDUARDO

Passei na casa da Vanessa pra levá-la para jantar. Pedi para Juliana fazer as reservas essa tarde. Achei muito estranho, que quando fui buscar a Vanessa havia um rapaz de cerca de uns 22 anos saindo de sua casa. O rapaz estava de cabelo molhado e saiu sorrindo.

Toco a campainha e Vanessa demora uma eternidade pra abrir a porta.

― Pensei que não estava em casa, já ia ligar... - digo quando ela finalmente abre a porta, ainda de roupão.

― Desculpe, me atrasei resolvendo um problema.

― Foi por isso que havia um rapaz saindo daqui?

― Ele veio fazer um serviço pra mim.

― Sei... - isso tá muito estranho, mas eu não tô aqui pra ficar analisando a vida da Vanessa- vai demorar muito? Temos uma reserva.

― Desculpe mesmo. Eu acabei me atrasando toda por conta desse probleminha que eu precisava resolver.

Ela me indica o sofá para sentar-me e aguardar... já vi que vamos perder a reserva. Ela me diz que há bebidas no bar...para eu me servir. Como sei que normalmente mulheres demoram horrores para se arrumar, resolvo tomar um bom e velho uísque.

Estou no segundo copo quando Vanessa retorna.

― Vamos?- incrivelmente ela se arrumou rápido. Achei que iria beber toda a garrafa até ela voltar.

Quando chegamos ao restaurante, somos direcionados à outra mesa, pois a nossa reserva expirou... para minha noite ser ainda melhor. Quando me sento e fazemos os pedidos, somos servidos de vinho e olho em volta, já que a mesa que costumo me sentar nesse restaurante é outra, vejo que esta pode me proporcionar uma visão boa do local.

Meus olhos param em um casal jovem dançando... rosto colado... 

― MERDA!- penso alto demais e Vanessa olha pra mim.

― O que houve?

― Esqueci que ... hum... tinha que mandar um e-mail antes de vir para cá - Não era nada disso, sou péssimo em mentir, sorte que a Vanessa não notou. Meu coração está saltando no peito, achando que é uma madrinha de bateria na frente da escola de samba.

O que a MINHA CHAPEUZINHO tá fazendo aqui, com aquele moleque a tira colo? Eu devo ter dançado can can na última ceia, porque isso só pode ser castigo! O filha da P... tá bem a mãe do coitado não tem culpa... na verdade nem ele... mas porque raios esses dois estão aqui e dançando daquele jeito? 

Tive que me segurar muito, mas muito mesmo pra não sair da minha mesa e fazer um escândalo, quando vi ele beijando ela. O pior é que ela parece ter gostado.

― Acha que vai demorar para servir?

― Oi?

― Em que mundo você está Eduardo? Parece totalmente alheio a tudo hoje.

― Desculpe - respiro fundo - eu... na verdade não queria sair hoje, mas eu tinha te prometido e cumpro minhas promessas.

Alguns minutos depois, somos servidos e o tal casal está vindo em nossa direção. Melhor eu não colocar comida na boca, ou com a raiva que tô, posso engasgar e morrer.

― Dr. Eduardo!

― Carlos. Tudo bem?- olhei pra ela, mesmo sendo ele quem falou comigo. E ela desviou o olhar. Meu Deus como ela tá linda, mais do que já é - esta é Vanessa, uma amiga.

― Prazer Vanessa- Carlos dá um leve beijo na mão da Vanessa. O moleque é metido a conquistador ou mesmo muito debochado... - Creio que se recorda da Adriana- ele diz pra mim. Como se eu pudesse esquecer ela. "Claro que recordo da MINHA CHAPEUZINHO. A qual você tá tocando e beijando moleque desgraçado!"

― Olá Adriana - tô em perigo, sei que não estou conseguindo disfarçar meu olhar pra ela. Aperto sua mão e, me nego a beijar como o moleque fez. Se eu fizer, não vou ficar só na mão. Senti seu corpo vibrar... Ah Chapeuzinho, eu ainda mexo com você também.

― Olá - ela retira sua mão da minha e fala com a Vanessa - Prazer, Adriana.

― O prazer é meu.

Eles voltam pra mesa, que por sinal é ao lado da nossa. Adriana está de frente pra mim. Espero que a Vanessa ou o Carlos, não notem que não consigo desviar meus olhos dela por muito tempo. Ela levanta-se e vai em direção ao toalete.


ADRIANA

Vou para o toalete. Entro, uma moça passa por mim saindo do mesmo.

Vou até o espelho e me olho. Olho em volta pra verificar se tem mais alguém. Não há ninguém.

― Por que meu Deus? Tava tudo tão bom com o Carlos. Por que aquele demônio tinha que estar justamente aqui?- falo pra mim mesma olhado o meu reflexo no espelho.

Molho as mãos e seco um pouco, passo uma delas pelo meu pescoço para aliviar a sensação de tensão. Reavivo o batom. E saio do banheiro. Dou dois passos  e me esbarro em alguém.

― Descul... - Eduardo está parado em minha frente.

Baixo meu olhar e tento passar. O corredor é estreito, na verdade não é, mas naquele momento parecia um corredor onde só se pode passar um de cada vez. Eu vou para um lado e ele junto. Quem olhasse de longe iria pensar que estávamos dançando.

― Será que o senhor pode ficar parado pra que eu possa passar?- falo levantando minha cabeça e o encarando.

― Tá com medo de mim... Chapeuzinho?- essa última palavra ele diz tão perto que todos os pêlos do meu corpo escutaram e reagiram. Meus olhos encontram os seus e seu olhar desce para minha boca. Não sei porque reagi dessa forma, mas procurei a parede mais próxima de mim pra me apoiar e senti sua mão roçar na minha. Quando finalmente ele saiu em direção ao banheiro masculino eu quase desabei.

Minha vontade era pedir ao Carlos para ir embora agora, mas ele está tão feliz... não quero estragar toda nossa noite. Principalmente por conta daquele imbecil "gostoso"...

Me aproximando da mesa, observei o Carlos guardar algo no bolso de trás da sua calça. Ele me olha e sorri.

― Tá tudo bem flor?

― Sim - respiro fundo. O que importa agora é ignorar o Eduardo - Pediu a sobremesa?

― Sim e espero que você goste.

― Tenho certeza que vou gostar... você me conhece melhor que ninguém.

O Eduardo passa por nós, voltando pra sua mesa. Senta-se da forma que estava, de frente pra mim.

Ele dá atenção a sua acompanhante, como também não tira os olhos de mim. Acabo minha sobremesa o mais rápido possível e peço pra ir embora.

― Eu ia te chamar para dançarmos mais uma canção, mas se você quer ir... tudo bem.

Trilogia : POR QUE NÃO?-Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora