A Filha De Voldemort

O canto da Fênix

Narrador On

Chocado seria o termo certo a ser usado para descrever Harry ao perceber que todo esse tempo o seu pior inimigo estava andando ao seu lado. Mesmo depois que eles sumiram na colina o garoto ainda permaneceu naquele lugar lamacento, caído sobre o chão, olhos arregalados fitando o nada. Dumbledore se fora, o tempo todo ele confiará naquele que era o filho do lorde das trevas, ou melhor, filha.
Apos algum tempo atordoado e sem conseguir e nem querer se levantar, gritos puderam ser ouvidos ao longe e logo um par de braços o ergueu do chão.

Harry se levantou com dificuldade, procurando, as tontas, a varinha, na esperança de proceguir em sua caçada, mas, mesmo enquanto apalpava o chão, catando gravetos, percebeu que seria tarde demais; de fato, até conseguir localizar a varinha e se virar, ele viu apenas o hipogrifo do padrinho circulando sobre os portões. Não havia mais ninguém a seguir, todos os invasores já tinham conseguido escapar.

- Hagrid - Murmurou Harry, ainda atordoado, olhando para os lados. Harry tentou caminhar, passos cambaleantes. Não demorou para que o mesmo caísse de joelhos sobre o solo novamente; todos os seus membros tremiam, seu corpo doía inteiro, e sua respiração provocava pontadas doloridas.
- Você está bem, Harry? Você está bem? Fala comigo, Harry... - O enorme rosto peludo de Hagrid pairava acima de Harry, escondendo as estrelas. O garoto sentia o cheiro de madeira e pelo de cachorro queimados; não muito longe dali a cabana do meio gigante queimava em meio as chamas. Harry esticou a mão e tocou o corpo quente e vivo de canino, agitando-se ao lado dele.
- Estou bem - ofegou Harry - E você?
- Claro que estou... Precisa de mais que isso para me liquidar. - Hagrid enfiou as mãos por baixo dos braços de Harry e ergueu-o novamente com tal força que os pés do garoto abandonaram momentaneamente o chão. Enquanto o gigante o punha de pé. Harry viu o sangue escorrendo pelo rosto do amigo, o corte profundo embaixo de um olho que inchava rapidamente.
- Deveríamos apagar o incêndio em sua casa - disse Harry - o feitiço é Aguamenti...
- Eu sabia que era alguma coisa assim - Murmurou Hagrid, e erguendo um fumegante guarda-chuva rosa florido e ordenou - Aguamenti!

Um jorro de água saio da ponta do guarda-chuva. Harry ergueu o braço da varinha que parecia de chumbo e também murmurou 'Aguamenti'; juntos, ele e Hagrid despejaram água na casa até que a última chama se extiguisse.

- Não tá muito ruim - comentou Hagrid esperançoso alguns minutos depois, olhando para o rescaldo fumegante - Nada que Dumbledore não possa consertar... - Harry sentiu uma dor lancinante no estômago ao som desse nome. No silêncio e quietude, o horror despertou em seu íntimo.
- Hagrid...
- Eu estava enfaixando as pernas de uns tronquilhos, quando ouvi os Comensais vindo - disse Hagrid triste, ainda contemplando a cabana destruída. - Devem ter queimado os gravetos, os coitadinhos.
- Hagrid...
- Mas que aconteceu, Harry? Vi os comensais da Morte descerem correndo do castelo, mas que diabos Snape estava fazendo no meio deles? E todos aqueles alunos sonserinos? Aquela sua amiga também... Aonde é que eles foram? Estavam perseguindo eles?
- Eles... - Harry pigarreou; a garganta seca com o Pânico e a fumaça. - Hagrid, eles mataram...
- Mataram? - Exclamou Hagrid em voz alta, encarrando Harry - Eles mataram? Quem matou? Do que está falando, Harry?
- Dumbledore, Morte matou... Dumbledore - Hagrid ficou olhando para ele, o pouco do seu rosto a mostra manifestando total incompreensão.
- Dumbledore o que, Harry?
- Está morto. Morte o matou...
- Não diz isso - censurou-o Hagrid com rispidez - Morte é aquela sua amiga não é? É apenas uma aluna, matar Dumbledore... Não seja idiota, Harry. De onde tirou essa ideia?
- Ela não é minha amiga! Eu vi!
- Não pode ter visto.
- Vi, Hagrid - falou com a voz embagaçada. As lágrimas lutando para descer.

Hagrid sacudiu a cabeça; em seu rosto uma expressão incrédula mas simpática, e Harry percebeu que o amigo pensava que ele tivesse levado uma pancada na cabeça, que estivesse atordoado, talvez com sequelas de um feitiço...