- Cheguem mais, cheguem mais - encorajou-os Hagrid - agora eles vão ser atraídos pelo cheiro de carne, mas de qualquer maneira vou chamá-los, porque vão gostar de saber que sou eu.
Ele se virou, sacudiu a cabeça desgrenhada para tirar os cabelos do rosto e soltou um grito estranho e agudo que ecoou por entre as árvores escuras como o chamado de uma ave monstruosa. Ninguém riu: a maioria estava apavorada demais para emitir qualquer som. Eu apenas fiz uma careta diante do esganiçado grito que perfurou meus ouvidos.
Hagrid deu um novo grito agudo. Passou-se um minuto em que a turma continuou a espiar nervosamente sobre os ombros e por trás das árvores para avistar o que quer que estivesse a caminho. Então, quando Hagrid cutucou o ruivo e apontou para o espaço vazio entre dois teixos nodosos, direcionei minha atenção para o mesmo lugar.
Dois olhos vidrados, brancos, brilhantes, foram crescendo na penumbra, depois surgiram a cara dragonina, o pescoço e, em seguida, o corpo esquelético de um enorme cavalo alado negro emergiu da escuridão. O animal correu os olhos pela turma por alguns segundos, balançando a longa cauda negra, então começou a arrancar pedaços da vaca morta com seus caninos pontiagudos.
Suspirei e olhei ao redor, era óbvio que nem todos ali poderiam ver tais criaturas, porém, talvez a reação de alguns que possam sejam bem divertidas.
- Por que é que Hagrid não chama outra vez? - ouvi alguém cochichar. Minha atenção foi vagueando até o dono da voz, o ruivo, revirei os olhos e voltei a olhar para a criatura. E aí está... Quanta inocência, chega a dar náuseas.
A maioria dos alunos expressava no rosto uma ansiedade confusa e nervosa, como a do ruivo, e continuava a olhar para todos os lados, exceto para o cavalo, a pouco mais de um metro deles. Havia apenas mais três pessoas que pareciam capazes de vê-los: um garoto magricela da sonserina chamado Adolfo Rokwood, filho de um dos comensais do meu pai, que observava o cavalo comer com uma cara de intenso nojo; o Potter e um garoto gordinho da Grifinoria que se não me falhe a memória é Longbottom, cujo olhar acompanhava o balanço da longa calda negra. Fiquei surpresa, talvez nem tanto em saber que meus competentes guarda-costas não podiam ver nada. Sentiu a ironia. Suspirei ignorando aqueles ao meu redor.
- Ah, e aí vem mais um! - anunciou Hagrid orgulhoso, quando viu aparecer do meio das arvores escuras um segundo cavalo, que fechou as asas contra o corpo e mergulhou a cabeça para devorar a carne. - Agora... Levantem as mãos... Quem consegue vê-los? - o primeiro a erguer a mãos fora o Potter com uma estranha e não despercebida por mim, animação. Logo atrás dele seguindo o mesmo, Longbottom levantou a dele, eu suspirei e ergui a minha e logo o Rokwood fez o mesmo.
- Sim...sim, eu sabia que você seria capaz de vê-los - disse sério para o Potter - e você também, Neville, eh? E... - ele olhou para minha mão e para a do Rokwood como se sentisse... Pena? Não contive a mania de ergue minhas sobrancelhas em questionamento devido a reação do professor.Sim, verdade que eu posso vê-los, qualquer um que viu alguém morrer de perto pode, porém, minha mãe morreu em meu parto então não a conheci e nem teria como ter visto algo. Eu posso vê-los porque, bem, porque eu já matei.
- Com licença - perguntou Draco com uma voz desdenhosa. Com licença? Eu ouvi mesmo isso? - mas que é exatamente que eu devia estar vendo? - Em resposta, Hagrid apontou para a carcaça da vaca no chão. A turma inteira contemplou-a com espanto por alguns segundos, então várias pessoas exclamaram, e uma garota soltou um grito agudo bem do meu lado, o que me fez dar um olhar cortante para ela. Os pedaços de carne se soltando dos ossos e desaparecendo no ar deviam parecer realmente estranhos.
- Que é que está fazendo isso? - perguntou a garota que a pouco gritara no meu ouvido, aterrorizada, recuando para trás das árvores mais próximas. - Que é que está comendo a vaca?
- Testrálios - disse Hagrid, orgulhoso, e a castanha soltou em voz baixa um "Ah" de compreensão. - Hogwarts tem um rebanho deles aqui na floresta. Agora, quem sabe...?
- Mas eles realmente trazem má sorte! - interrompeu a garota novamente, parecendo assustada. - dizem que dão todo o tipo de azar as pessoas que os vêem. A professora Trelawney me contou uma vez...
- Não, não, não - contestou Hagrid rindo - isso é pura superstição, isto é, eles são muito inteligentes e úteis! É claro que esses daqui não trabalham muito, só puxam as carruagens da escola, a não ser que Dumbledore vá fazer uma viagem longa e não queira aparatar... - acabei imaginando a cena do diretor montado numa dessas coisas a galope. Meu Salazar... Pensei com repulsa. - aí vem mais dois, olhem... - mais dois cavalos saíram Silenciosamente de trás das árvores, um deles passou muito perto de mim e da garota com cara de assustada ao meu lado. Sim, a mesma que dera aquele grito maldito. A garota estremeceu e se encostou mais perto da árvore, dizendo:
- Senti alguma coisa, acho que está perto de mim! - gritou a mesma.
- Se alguém não colocar uma rolha nela, eu mesma vou - falei num sussurro. Apenas meu grupo e alguns outros sonserinos ouviram. Esses em questão não seguraram uma risada, recebendo um olhar reprovador meu, meu intuito aqui é não chamar atenção negativa das outras casas.
- Não se preocupe, ele não vai machucar você - disse Hagrid paciente. - certo, agora, quem é capaz de me dizer por que alguns de vocês vêem os testrálios e outros não? - a castanha ergueu prontamente a mão, eu acabei erguendo também, estava entediada.
- Um Sonserino, ou melhor Sonserina - falou ele animado me fazendo suspirar internamente. - Fale, fale - a Grenger abaixou a mão vencida, e passou a olhar para mim sorrindo. Quanta inocência. Pensei e usando minha Legilimencia acabei descobrindo que ela pensava que rolava algo com Sírios ou que se não rolasse, ia rolar. Tive que respirar fundo pra segurar a ânsia.
- Só podem ver os testrálios aqueles que já presenciaram a morte. - falei seria, muitos ao meu redor ficaram surpresos.
- Exatamente - Disse Hagrid, muito solene - dez pontos para a sonserina. Agora, os testrálios...
- Hem,Hem - ouvi um pigarear atrás da turma.
- Tava demorando... - sussurrei já imaginando o quanto uma aula entediante iria agora ficar entediantemente insuportável.
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A Filha De Voldemort
FanfictionFilha do lorde das trevas e de Serafin Slytherin, sua mãe morreu em seu parto e apesar de nunca ter conhecido seu pai sua avó sempre a agraciou com histórias sobre ele. Mesmo depois do lorde virar algo mais insignificante que um fantasma ele nunca d...