Leandra
Adeline: Agora não adianta chorar, meu filho já está morto. Viveu sempre brigando com ele, agora quer fazer escândalo... Magoa... - nem deixei ela terminar, aquilo pra mim foi o ápice.
Leandra: Olha, eu apesar de não concordar com a sua decisão de não deixar o corpo do meu marido ir pra onde a gente tava morando deixei, respeitei pra não criar confusão. Sei que o momento não é fácil pra ninguém, a senhora é mãe e eu sou esposa! Mas a senhora não tem o direito de me insultar não, eu chegar aqui e ter que ouvir certos tipos de coisa, ser humilhada dessa forma. Eu conhecia meu marido e a senhora muito mais que eu, já que era mãe dele! Ele não era mole... Sempre aprontou pra caralho comigo! Se a gente viveu grande parte das nossas vidas brigando foi por todas as sacanagens que ele fez comigo e não foram poucas!!! - disse mesmo, tava engasgada com aquilo na garganta.
Corpo do Dino seria sepultado no Cemitério da Cacuia. Mãe dele não deixou trazer o corpo pra onde a gente estava morando, o que deu uma confusão, chateação, mas nem quis brigar.
Além de estar completamente desolada pela morte do meu marido ainda tive que ouvir desaforos, chegar aqui e a mãe dele jogar isso na minha? Sacanagem! Tremenda falta de respeito.
Eu amo e amava meu marido, só nós sabemos o que não vivemos, mas ele não era e nunca foi nenhum santo! Dino me traiu horrores, chacoteou com a minha cara desde sempre!
Me segurei pra não discutir, não chutar o balde, mas teve uma hora que não deu. Assim que cheguei ela já veio com piadinhas, cara? Nem pra respeitar o momento é o corpo do filho ela serviu.
Sai de dentro da casa dela puta, me sentei no batente e comecei a chorar. Minha comadre chegou alisando meu cabelo enquanto tentava me confortar!
Joyce: So você e ele sabiam do amor de vocês! Apesar de tudo era nítido que vocês se amavam, sabe? Ele tinha os erros dele, era falhoso, mas ele te amava. E você nem se fala! Amor de vocês dois só vocês sabem, ninguém cabe julgar não. Ninguém viveu o que vocês fizeram! Se deixe abater por isso não, cuma.
Leandra: Eu sei, cara! Mas é foda. Um momento desses essa velha desgraçada vem falar uma coisa dessas pra mim, Joyce? Eu colei com o Wagner de igual pra igual! Barco balançou diversas vezes, mas não deixei ele... eu poderia deixar ele quando ele pulou, poderia muito bem seguir minha vida com meu filho. Ele pensou em mim quando fez isso? Pensou no meu filho? Não pensou, mas aí ninguém ver nada! - disse enxugando as lágrimas.
(...)
Já estávamos no cemitério, antes de sepultar o caixão ficou mais quinze minutos na capela pras oração. Aqueles eram os últimos minutos com o meu marido, mas se tornaram os piores!
Desgraças! Estava incrédula pela cara de pau e coragem. Nem respeitam a dor dos outros e vem aqui encenar. O cúmulo eu estar velando o corpo do meu marido e as amantes ainda brotar pra se despedir, chorar e fazer cena!
Tava me aguentando, me segurando pra não fazer um escândalo ali mesmo, pois era a minha vontade. Só que eu me segurei...
Mesmo sofrendo, não poderia deixar de ficar com raiva. Até um menina da Coreia tava ali, até aqui ele já tinha mulher e eu boba nem notei, mais uma vez fui otaria. Humilhante demais, depois ainda querem nos culpar.
Na hora do enterro, a cada segundo que o caixão dele entrava naquela gaveta meu peito apertava mais e mais... que dor! Que dor, meu coração estava deslacerado. Mãe dele desmaiou, as irmãos tudo gritando e eu igualmente amparada por minha comadre.
Minha mãe ficou com meu filho, sou filha única, então só tinha a Joyce e Débora aqui por mim. Só elas me consolaram!
Leandra: Acabou! - disse abraçada com minha comadre. - Acabou tudo! Aqui ficou toda alegria e loucura do meu marido. Tudo acabou! Não teve crime, não teve dinheiro ou arma que salvassem a vida dele. Morreu, acabou tudo! Perdeu a vida tão cedo, deu a vida pela causa no meio dessa guerra que nunca vai acabar. Agora meu filho vai ficar sem pai, não sei nem o que eu vou fazer! - disse enquanto chorava.
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Ficção Geral+18 | 1/2 | Eles querem um preto com arma pra cima! ✊🏿 +18 | LIVRO COMPLETO DISPONÍVEL PARA ASSINATURA.