94 - M2

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Joyce

Renato: E aí, amor! - disse me abraçando por trás enquanto beijava meu pescoço. - Saudades de tú, cara! - meteu serinho, safado todo.

Maior saudades desse preto filha da puta, pior parte de estar morando fora é essa distância. Não nos vemos todos os dias e já ficamos até uma semana sem nos ver por conta disso.

Mas apesar dos apesares, ainda acho que é o melhor! Não posso proteger minha filha da violência do mundo, nem de nada lá fora, mas enquanto eu puder manter ela resguardada, assim farei.

Aqui não estamos isentas, Renato sempre tá por aqui, mas com certeza é bem menos perigoso que lá na favela!

Pqp... Só que é saudades. Saudades demais, coração aperta e eu fico até pensando várias besteiras. Tanto o medo de acontecer algo, quanto o ciúmes...

Nunca encontrei nenhuma falha do Renato durante todos esses anos, mas vai que... Sei lá! A gente confia, mas sempre rola a desconfiança. Vejo tantos exemplos por aí...

As vezes até surto com ele nessas neuroses, me escaldo só nas teorias e suposições, mas é foda. Eu estando aqui não é garantia de nada, mas imagina eu longe??!!!

Ele fala que é pra eu parar de neurose, que eu sou única na vida dele e ele nunca faria nada pra me magoar ou acabar com nosso relacionamento e família, só que sei lá.

Joyce: Se a saudades fosse tanta teria dado um pulinho lá em casa né!? Mas deve tá com outra por aqui! - perturbeis

Renato: Ih, coé. Tá mandada? - me encarou.

Joyce: Ué?! - disse sarcástica. - Vai que...

Renato: Coé, cara! Para com isso, deixa de neurose errada, mô. - disse enquanto beijava meu pescoço. - Não brotei lá porque eu to pegado essa semana, você mais do que ninguém sabe...

Joyce: Hum... sei! Sei bem. - fui sarcástica.

Na verdade eu sabia, antes de chegar em minha casa eu já tinha passado na casa de todo mundo pra me atualizar de tudo. Todo mundo disse que aqui tava um inferno, os caras em uma correria pra o baile de amanhã.

Acho que são cinco ou seis anos que eles tomaram o dendê e estão no comando, então vão comemorar por isso, até queima de folgos tão organizando!

Renato: Para com esses papos, deixa de maluquice, vacilona. Minha mulher é tu, tu que é a minha dona, te trairia e nem trocaria por ninguém não ô. Exquece.... - disse puxando meu cabelo fazendo com que eu o encarasse. - Papo reto, a saudade de tu é real, mulher! Tu sabe que eu te amo, sou amarradão em tu desde sempre e pra sempre! - disse e eu já fiquei fraquíssima.

Montei no colo do Renato enquanto a gente ainda se beijava e ele me levou até a cama. Em questão de segundos a gente já estava completamente despidos se amando abeça. Maior saudades!

Namoramos pra caralho até tarde, saudade um do outro era tanta que ninguém arregava e o que nos venceu mesmo foi o cansaço de ambos.

Renato: Queria te pedir uma parada! - disse enquanto eu tava deitada e agarradinha nele.

Joyce: O que?! - perguntei curiosa.

Renato: É que... Bom cara, tem um caso de um menó... - eu cortei ele.

Joyce: Não, não... não inventa! Você sabe que eu não pego nada na área penal e nem quero me envolver nos teus rolos. - disse seríssima.

Renato: Coé? Tu acha que eu te envolveria em alguma parada errada minha? Tá maluca?

Joyce: Se não quer me envolver, então tá me pedindo isso por que?

Renato: Tu nem deixou eu terminar, cara! Me cortou aí e já tá supondo várias coisas.

Joyce: Então fala! - disse me sentando na cara e o encarando.

Renato: Caso não tem nada a ver comigo e realmente é penal... Eu não tinha nem ciência do ocorrido, mas quando a mãe dele brotou lá na boca eu estava por lá! Porra, foi um bagulho que me tocou, tá ligada? Menó realmente tava fazendo uma parada pro movimento, mas foi pego de bola, ficou, rodou e os vermes forjaram.

Joyce: Sim... por que vocês não colocam os advogados de vocês pra assumir o caso? Simples!

Renato: Coé... tu acha que os caras lá vão abraçar causa de quem não fecha nem com a gente? Nós é bom, mas não é bombom, doida. - disse seríssima. - Ele assumiu o risco quando aceitou entrar na missão, mas foi por pura necessidade, não era envolvido não. Só aceitou porquê a mãe perdeu o emprego e só tinha ele pra sustentar a casa sendo que tem vários irmãos.... Como eu disse o moleque não tinha ligação com o crime. - eu fiquei pensativa enquanto ele contava toda a história. - Só to te pedindo isso, cara. Primeira e última! Quebra essa, mãe do menó tá doidona aí sem saber o que fazer! Papo reto... primeira e última!

Odiava penal/criminal, não queria chegar mais perto, passava longe. Desacreditei totalmente do sistema punitivo pelo caso do Renato e quando estudei...

Tu ver que na teoria é tudo quase lindo, mas a associar a podridão da prática é assustador. Por mim não pisaria mais em uma delegacia ou presídio, mas...

Joyce: Tudo bem, eu vou dar uma olhada! Você tem o nome dele?

Renato: Po... tenho não, mas eu peguei o telefone da mãe dele, me comprometi que ajudaria de alguma forma. - Ele é assim! Coração bom demais, sempre que pode faz o que pode pra ajudar morador.

Nesse papo fomos dormir tarde abeça, quer dizer, Renato dormiu primeiro, mas eu fiquei pensando nisso. Custei pra dormir, mas quando consegui foi um alívio.

Amanhã cedo Isabella tá aí tocando o terror em tudo e se eu não dormisse nem um pouco ficaria morta pra ainda pegar baile a noite.

FICHA SUJA (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora