Ultimo Capitulo

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Meses atrás...

Renato

Renato: Faz a pose aí pro pai tirar uma foto tua! - ela se mexeu, garota não fica quieta não, mané. - Fica quieta po! Teu irmão já tirou a foto, agora é tú. - ela parou segurando o brinquedo e eu tirei a foto.

Isabella: Cadê, papai? - perguntou curiosa

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Isabella: Cadê, papai? - perguntou curiosa.

Renato: Aqui po. Ficou maneirinha... Tá gatona, minha princesa! - ela riu. - Lindona, cara! - dei um beijo a abraçando.

Estava suave, atravessei pra pista pro condomínio onde a gente tem uma casa e fiquei no meu lazer com minha família! Maior paz.

Tava brincando com a minha princesa, aqui conversa abeça menó, meio mundo de papo que ela inventa e eu só fico rindo, fico todo bobo. Quando crescer já sei que vai ser pior que a mãe, vai falar mais que todo mundo.

Emerson tava aqui comigo, tava dentro de casa lá batendo um play e a Isabella já foi pra perto perturbar, abusada demais.

Joyce: E se um dia você encontrasse o Sávio? - eu a encarei serinho. - O que você faria? - meteu do nada, nos tava sentado na varanda.

Renato: Mataria! - ela me olhou incrédulo. - Mataria, mesmo que isso significasse perder a minha liberdade, mas eu o mataria. - falei serinho.

Joyce: Isso não vai fazer com que você recupere os anos perdidos, Renato. Ter uma morte nas suas costas não vai mudar nada!

Renato: Vai, afinal ele foi um dos motivos de eu ter várias outras...

Joyce: Não fala isso, cara! Você não sente vontade de sair dessa vida não, Renato? - meteu serinho.

Renato: Qual vida? - me fiz de doido. - Aí, cara!

Joyce: Essa que você vive, você sabe... o mundo do tráfico.

Renato: Eu não queria nem entrar! - brinquei.

Joyce: Mas ainda dá tempo de sair, se arrepender... - eu cortei ela.

Renato: Coé, me arrepender de que, cara? - perguntei curioso. - Tenho nada pra me arrepender!

Joyce: De tudo isso! Muitas coisas que você faz/fez são erradas, são ilegais, você sabe... - eu dei risada.

Renato: O que é legal pra tu, Doutora? - perguntei sarcástico. - Você acha que é legal o que eles fazem com a gente quando chega na favela? O esculacho diário? As injustiças? O que a gente passa só por ser pobre e favelado? O que acontece com nós quando somos presos? - ela balançou a cabeça em negativa. - Mas... Mas se eu me arrependo? Não! Não me arrependo de nada não, mano. Faria tudo igual!

Joyce: Mas... mas e se você vier morrer? Você vai deixar a gente, não pensa nos seus filhos? Não pensa em mim? Essa vida é perigosa, você sabe... você sabe muito bem!

Renato: Joyce... não me arrependo de nada não, de nada mesmo. Tudo que eu fiz foi reagir ao que eles fizeram comigo, foi ficar ao lado dos meus e lutar contra as injustiças que o estado faz com nós. Não mudaria nada do que eu fiz, pois tudo que fiz foi feito com ódio, ódio do abandono e da covardia que o estado traz pra nossa comunidade, das maldades que eles fazem com a gente, das judarias e injustiças, cara. Eu penso todo dia... Penso pra caralho, mas independente de eu estar no crime ou não, eu por ser preto poderia morrer a qualquer momento. O que muda é que eu com uma arma ainda posso me defender, tentar sobreviver... mas de qualquer forma eu poderia morrer. E é isso que faz com que eu sinta mais! Eu sinto pelos meus filhos, pois sei que eles podem ter o mesmo destino que eu e eu não quero. Se eu pudesse que eles não passassem por nada que eu passei, seja de um olhar estranho a uma abordagem truculenta a troco de nada, eu faria de tudo pra que eles não passassem... porque eu sei quanto essas paradas influenciam, mas... mas infelizmente não posso fazer nada!

Joyce: Mas eles não vão entrar não! Você tá conseguindo, sabe?! As coisas serão diferentes... eles terão você guiando eles sempre pro melhor caminho, dizendo que mesmo que a revolta seja grande, não vale a pena. O seu caminho foi esse pois você não teve escolha, mas ele terão... você vai conseguir proporcionar isso pra eles, na verdade já conhece, afinal eles tem tudo que você não teve. E se você tivesse fora dessa seria bem melhor. - eu assenti.

Renato: É isso... mas não tenho como sair não! Mas que Deus me permita estar aqui pra ver isso! - ela me bateu.

Joyce: Não fala bobagem!

Renato: É a realidade, ué.

Joyce: Realidade um caralho! Não brinca com uma coisa dessas não, você não é maluco de me deixar. - eu dei risada.

Renato: Te deixo não preta, sempre vou tá contigo! - abracei ela de lado beijando seu rosto. - Sempre estarei com vocês! - ela me abraçou de volta. - Coé, rapá! - disse assim que o Emerson chegou junto da gente.

Emerson: Isabella não deixa eu jogar! - tava puto e bolado.

Fiquei marolando com meu menó, dando uma atenção maneira pra ele, desfazendo a cara de puto e bolado que ele bolou.

As vezes fico pensando como fui falho em ter vivido uma cota afastado deles, mas Deus sabe os motivos...  tive meus motivos e só ele pode me julgar!

Emerson: Eu quero... eu quero ser policial. - encarei a Joyce e ele serinho. - Mas eu... eu sei que você é bandido. - meteu serinho na minha lata. Eu tava perguntando a ele o que ele ser quando crescesse.

Joyce: Quem te disse isso??? - disse assustada.

Emerson: Eu sei né, tia! Não sou bobo eu não. - o encarei serinho.

Renato: Tu quer ser mesmo, cara? - ele assentiu. - Então tu vai ser po, estuda e vai ser! Independente do que eu sou ou não, não muda nada pra você. Eu quero mesmo que tu seja meu oposto, então significa que até isso serve. - dei risada. - Mas tem que ser um cana maneiro, tá ligado? Quando chegar lá não é pra deixar o poder subir a cabeça não, viu? Lembra sempre de onde tú veio e quem é. Tu vai tá assumindo uma responsa do caralho, mas nem por isso tem que virar opressor. Tem que agir pelo certo sempre! - ele assentiu.

As vezes eu fico marolando em como tudo acontece, como tudo aconteceu comigo e acontece desde sempre... O "Somos todos iguais", "tratamento é igualitário pra todos", É sempre "nosso", "nós" e "Vidas negras importam".

Importam, até você segurar sua bolsa quando vir um negro no elevador. Até você ver um preto na televisão acusado de qualquer coisa e abrir a boca pra falar que ele tem cara de bandido mesmo, mesmo sem saber da história dele, porque ele chegou aquele extremo ou se ele realmente é culpado.

O local onde você mora não define quem você é... sua cor não define quem você é, nem suas condições financeiras. Violência, brutalidade... É a mesma história só que com nome diferente, corpos diferentes, mas sempre os mesmos alvos.

O sistema é projetado contra nós, querem sempre que a nossa pele seja a pele do crime e por mais que não queremos eles nos arrastam pra lá... eu lutei até onde pude, mas infelizmente fui mais uma vítima!

Mas não significa que com todo mundo pode ser assim, com ele não precisa ser assim. Ele pode ir pro outro lado, conseguir um caminho oposto, mas não pode jamais virar um opressor e oprimir os seus.

Eu jamais vou pilhar meu filho, falar que eles são errados e criar ódio nele, revolta pois eu sei o que esses sentimentos trazem, onde eles te levam e eu não quero esse caminho pra ele.

Continua...

FICHA SUJA (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora