Capítulo 21

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Dulce María

Se eu pensei que a minha segunda-feira foi ruim depois do Christopher e aquele beijo na cabeça o dia todo, mal sabia eu o que me esperava nos dias a seguir. A única coisa realmente boa era que ele tinha ido para Brasília e não o encontraria tão cedo.

Na terça-feira, Cláudio me chamou para jantar em seu escritório, com isso, já sabia que algo muito complicado estava por vir. Sempre que isso acontecia, era porque alguma coisa teria de mudar de forma drástica, a rotina de alguém da nossa família seria afetada bruscamente. Na última vez foi a minha... Foi assim que eu soube que teria que parar de sair.

Quando cheguei, já não tinha mais nenhum de seus funcionários no lugar, o assunto seria sério. Assim que entrei em sua sala, não havia comida, conclui que era pior do que eu imaginei. Em cima da mesa havia água, um maço de cigarros, cerveja, vodca, tequila, uísque e rum. Isso significa que a roleta da mudança mais uma vez tinha me escolhido. 

Fiquei estática na porta, eu não conseguia abrir a boca para nada e eu tinha esquecido como se andava, aquilo não estava fazendo sentido. Eu já não tinha mais nada, o que Cláudio tiraria de mim agora? Meus amigos, a única coisa que eu realmente tinha e amava, ele já tirou. O que viria aqui?

- Acho que já entendeu o que vai acontecer, entre e sente-se. - Cláudio disse andando em direção a porta e eu engoli seco. - Sem drama Dulce, entre logo.

Caminhei em silêncio, antes de me sentar, servi uma dose de vodca e virei. Eu estava realmente com medo de onde ele queria chegar. 

- Vamos começar logo com isso. Achei que você já tinha me tirado o suficiente. O que você quer dessa vez? - Disse com meus olhos marejados.

- Querida irmã, você tem uma postura impecável e vestimentas excelentes enquanto está na sua posição como advogada. - Respirei fundo e mordi meu lábio inferior. - Só que isso ainda não é o suficiente para que possamos seguir em frente.

- Não entendi ainda aonde você quer chegar, você prometeu que seria apenas minhas saídas e por esse ano apenas. - Ele assentiu se sentando na minha frente.

- Sim, porém, você tem se tornado uma pessoa pública, seu cabelo vermelho, sua maquiagem excessiva e suas roupas peculiares, se é que posso chamar assim, não são bem vistas pelo povo. Você precisa se apresentar como uma moça delicada e bem vestida não só apenas em seu trabalho. - Respirei fundo.

- Mudar a minha essência não está em cogitação Cláudio. Eu te apoio em absolutamente tudo. - Aumentei meu tom de voz. - Eu não vou mudar quem eu sou para agradar  nem você e nem o povo dessa cidade. Me porto como deveria em meu trabalho porque sei exatamente o que é necessário e eu amo o que eu faço, da porta para fora eu sou a Dul, com a minha personalidade. Isso não está em pauta. Não vai acontecer. - Eu já estava quase gritando.

- Se acalme, não precisa de tudo isso. Pense que para o bem de nossa família. Só até ganharmos a eleição, gostaria que você se portasse como uma primeira dama. Roupas discretas, pouca maquiagem e um cabelo discreto. São só roupas e um cabelo, Dulce. Tudo pode voltar com o tempo. - Disse como se aquilo não fosse nada.

- Para você são só roupas e um cabelo. Cláudio, isso é a minha essência, sou eu. Não vou me tornar um robô, uma moça perfeita aos olhos da sociedade. Os seres humanos são imperfeitos. Entenda de uma vez.

- Seres humanos que não tem uma vida pública. Você está sendo vista pelo povo, não mais só como minha irmã e sim como uma advogada, você saiu em todos os portais de noticia dessa cidade com apenas um jantar. Preciso que mude até a eleição, sua discrição é essencial nesse momento. Depois que tudo isso passar, se quiser raspar o cabelo e aparecer de biquíni em um desses botecos que você frequenta, fique a vontade, por enquanto precisamos de sua ajuda. Somos família. Eu trabalhei uma vida toda para isso e você sabe, não nos prejudique, por favor. - Seu tom era calmo e eu respirei fundo.

Levantei em silencio e me retirei de lá, deixei Cláudio falando sozinho, não me importava mais saber os motivos pelos quais ele queria que eu mudasse. Pode até parecer uma banalidade ou futilidade ficar abalada por precisar pintar o cabelo ou mudar minhas roupas, mas eu demorei anos para poder me libertar da opinião de outras pessoas, e aceitar que o que valia era a minha essência e apenas isso. Eu me convenci de que não teria ninguém que pudesse tirar isso de mim e que ter personalidade, a minha própria, não era crime.

Personalidade. Eu ia perder a minha.

Entrei no carro e antes de mais nada mandei uma mensagem para maite.

Dul: 911 - minha casa - 30 minutos.

Mai: Qual garrafa?

Dul: As mais baratas que encontrar.

Eu dirigi até em casa desnorteada, nunca pensei que Cláudio seria a pessoa a querer me mudar, logo ele, a pessoa que mais foi contra as atitudes do meu primeiro e único namorado, aquele que não me deixava cortar ou pintar o cabelo, que não me deixava pintar as unhas, que escolhia minhas roupas. Cláudio não suportava isso e hoje... Ele quem estava me privando disso.

Quando cheguei na garagem do meu prédio eu subi correndo, entrei no meu apartamento, me troquei, coloquei um shorts de moletom e umas das minhas camisetas do Kiss, fui para a sala e antes que eu pudesse pensar em fazer algo, Maite entrou.

- Antes que você escolha uma das suas bebidas caras, trouxe comigo nossos favoritos. Askov de limão quente, claro. Nosso querido e saudoso e duvidoso vinho de R$ 3,50 e claro... Aperitivo de uísque, energético e suco de maracujá já como gelo. - Maite disse mostrando tudo que ela tinha comprado.

- Você é a melhor! - disse enquanto ia em sua direção com a cara de choro do século.

- Eu quero muito te abraçar e saber qual é a da vez, mas antes, vamos arrumar isso aqui. - Assenti e fomos para a cozinha.

Ajeitamos tudo, pegamos primeiro a askov de limão e fomos para a sala.

- Ok Dul, o que está acontecendo? - Maite perguntou preocupada.

- Tudo Mai, minha vida virou de cabeça para baixo. - Falei com meus olhos enchendo de lagrimas.

- Então me conte. - Disse enquanto bebia direto da garrafa.

Contei tudo que havia acontecido, desde o primeiro beijo com Christopher, até o desastre de hoje. Maite me olhava atenta e eu já estava aos prantos, tudo o que eu sentia era mágoa de Cláudio e sem rumo em relação a tudo. Minha vontade de seguir com isso já não existia mais, descobrir o que se passava com Uckermann já não me agradava mais. Eu tinha medo do que poderia acontecer dali para frente.

- Amiga, eu sei o quanto você ama seu irmão, ele foi uma das pessoas mais importantes da sua vida, ele te ajudou com absolutamente tudo, mas você não acha estranho ele querer que você mude de uma hora para outra? - Maite disse pensativa, como se quisesse dizer alguma coisa, mas preferiu guardar e eu nem quis saber, ela sempre estava certa, seja lá o que passasse por aquela cabeça.

- Claro que eu acho, Mai, mas eu vou fazer o que? Acabar com tudo e foder com Cláudio? A cidade não pode voltar para a mão do Cassillas, eu preciso ajudá-lo. - Disse enquanto voltava para a cozinha e pegava o vinho.

- Ok, tem razão, vamos beber, amanhã pensamos no que poderemos fazer em relação à isso e claro, em relação ao bonitão engomadinho também. - Maite disse tentando me animar.

- Christopher está fora, pelo menos por enquanto. - Ela assentiu.

Colocamos uma música, bebemos e dançamos basicamente a noite inteira, se eu tinha alguma agenda no dia seguinte de manhã eu estava pouco me importando, eu estava precisando daquilo, extravasar, esquecer de Christopher e de Cláudio. Precisava ser a maluca do cabelo vermelho, pelo menos mais uma noite.

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N/A: Quase não volto hoje haha!

Mais um que foi muito dificil de escrever.

Entenderam o lado da Dulcinha?

Menina Maite pegou algo no ar?

Comentem, votem e me tragam suas teorias!

beijinhosss :* 

Nada ConvencionalOnde histórias criam vida. Descubra agora