Era Uma Vez um Olfato

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(Ethan O'Sullivan na multimídia).

- Ethan, como eu vou te ajudar assim? - perguntei pela milésima vez, batendo na porta.

Ele permaneceu em silêncio.

Encostei a testa na porta, fechando os olhos e tentando pensar numa alternativa de fazê-lo falar.

- O que está fazendo aqui? - perguntou um garoto, olhando-me com irritação.

- Não é da sua conta. - respondi.

- Você tem que sair daqui!

- Saia você, se está incomodado!

O garoto pousou as mãos na cintura, enquanto um sorriso de escárnio passou pelo seu rosto.

- Mas esse é o banheiro masculino! - ele argumentou, fazendo-me silenciar.

Olhei desinteressadamente para os mictórios. Contra isso eu não podia argumentar.

- Eu vou sair depois que falar com ele. - assegurei, cruzando os braços.

O garoto me olhou, irritado.

- Não pode ficar aqui, eu vou chamar um monitor!

Revirei os olhos diante da infantilidade dele. Eu estava errada, tinha noção disso. Mas não podia simplesmente ir e treinar Quadribol enquanto não tivesse certeza de que o Ethan estava bem.

- Pode chamar quem você quiser. - eu disse, dando de ombros.

- Você é louca! - exclamou o garoto antes de virar-se e sair, dando pisadas furiosas.

Voltei a pôr a testa na porta, tentando escutar algum ruído que indicasse que ele ainda estava chorando, mas aparentemente ele já se acalmou.

- Ethan. - chamei, sem resposta.

Eu normalmente tinha umas ideias bem criativas do que fazer nesses momentos, graças à Noah. O tempo que passamos juntas no orfanato fez-me criar estratégias para animá-la quando ela estava pra baixo ou triste. Eu não sabia se isso ia funcionar com o Ethan, mas acho que valia a pena tentar.

- What you thiiiiiink, ah! - cantarolei baixinho. - What you feeeeeel now?

Ouvi alguns pequenos risos de dentro da cabine. Foi o suficiente para me fazer prosseguir com o show. Aproveitei a privacidade do banheiro para improvisar até uns passos de dança.

- What you knooooow, ah! To be reeeaaal!

Durante minha performance, fechei os olhos e lembrei da cara de madame Albrook ao me ver em cima da mesa dos convidados, cantando essa música para abafar a crise da Noah. Tenho certeza que lembrarei disso pelo resto de minha vida e, não importa quanto tempo tenha passado, eu nunca vou deixar de rir daquela expressão.

Quando abri meus olhos novamente, o professor Snape estava em frente a mim. Logo ele, o homem de sobrancelhas permanentemente arqueadas.

- Você canta muito bem, Foster. - ele disse, sarcástico.

Abri o melhor sorriso que consegui, tentando esconder tanto quanto possível o pânico que havia se apoderado de mim.

- Professor Snape! Que prazer em vê-lo.... - falei, entredentes. - como andam as poções?

Ele cerrou a mandíbula.

- O que faz no banheiro masculino, Foster? - questionou e, atrás dele, eu pude observar o sorriso de deboche do garoto de cinco minutos atrás.

Semicerrei os olhos em direção ao garoto, enquanto pensava numa resposta boa o suficiente, mas não havia nenhuma.

- Eu? - perguntei debilmente, apontando pra mim mesma.

Uma Trouxa em HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora