Uma Trouxa em Hogwarts

Zumbi

(William Ortiz na multimídia).

Ethan sentiu uma bolinha de papel em sua nuca. Virou-se preguiçosamente e avistou Noah gesticulando para que ele pegasse o papel.

Abriu-o lentamente, sem muito ânimo, para ver o conteúdo dentro.

'' Preciso falar com você durante o intervalo'', dizia o bilhete.

Ethan assentiu e voltou a pousar a cabeça sobre a carteira, torcendo para que o professor Snape não implicasse com ele mais que o necessário. Queria permanecer assim, deitado, refletindo sobre como tudo havia acontecido do jeito que havia acontecido.

Já havia três meses desde o desaparecimento repentino de Eleanor, e os holofotes da imprensa bruxa finalmente estavam focados em outra coisa. Uma nova conquista de uma das famílias da Elite, o torneio de Quadribol que estava se aproximando, descobertas tecnológicas para aprimorar o uso de vassouras e tantos outros assuntos que os mantinham longe do tema '' Estudante de Hogwarts invade Gringotts''.

Por um lado, Ethan era grato, afinal, sabia que a falácia em torno do ocorrido era prejudicial para a imagem de Lea. Por outro, sentia-se irado cada vez que pensava em como estavam deixando a Eleanor ser esquecida, aos poucos. Ele não queria esquecer.

Não iria esquecer.

Suspirou profundamente enquanto repassava em sua mente toda a história de novo. Após tantos dias forçando-se a lembrar do mesmo evento repetidas vezes, sua cabeça já havia decorado até os mínimos detalhes do ocorrido.

A distribuição de tarefas que Lea fez, a ida deles até a mansão Snide, como eles viram uma figura esgueirando-se nas sombras dentro da enorme casa para, em seguida, irem presos; tudo passava pela sua cabeça repetidas vezes.

Se ele ao menos conseguisse pôr as mãos no documento e ver de que se tratava... talvez conseguisse alguma pista sobre o desaparecimento súbito da amiga, talvez não. Mas a verdade é que haviam se arriscado em demasiado por algo que sequer sabiam de que se tratava ao certo.

Nem podiam perguntar ao maldito gato, já que só a Eleanor conseguia se comunicar com ele.

- Sr. Sullivan? – chamou Snape, com sua sobrancelha permanentemente arqueada.

- Sim?

- A poção.

Ethan se levantou e empurrou seu caldeirão na direção do professor, que analisou cuidadosamente a substância.

- Passável. – disse Snape, anotando algo num pergaminho.

Ethan resistiu ao impulso de provocar Snape e apenas permaneceu estático, encarando seu nariz adunco. Quando ele finalmente passou para avaliar a poção seguinte, Will se aproximou dele.

- Cara, você tá bem? – perguntou, já sabendo que a resposta com certeza seria não.

Ciente de que seu amigo já sabia a resposta, Ethan limitou-se a dar de ombros.

- Precisamos marcar uma reunião com o Clube Sete. – disse Will, enquanto tamborilava os dedos sobre a mesa.

Ethan deu de ombros novamente.

- Diga alguma coisa! – exclamou Will.

- O que quer que eu diga? – respondeu, encarando a mesa à sua frente.

Will bufou, impaciente.

- Cara, todos nós estamos mal com isso da Eleanor. Mas precisamos seguir em frente.

- Não existe nenhum '' nós''. Se quer esquecer a Eleanor, esqueça, eu não o farei.

- Ninguém tá falando em esquecer a Eleanor. Apenas... – Will coçou a cabeça, buscando as palavras corretas. – não ficar andando por aí, como um zumbi.