Uma Trouxa em Hogwarts

Expresso Hogwarts

- Você viu a cara dela? – perguntou Noah, gargalhando.

Estávamos sentadas num dos últimos vagões do Expresso Hogwarts havia cerca de dez minutos e eu ainda não havia parado de rir.

- Foi incrível, Noah! – retruquei, tentando respirar enquanto sorria histericamente.

Subitamente, um pensamento inevitável tomou conta de meus pensamentos.

- Oh, não...

- O quê? – perguntou Noah.

- A carta, Noah. Como vou entrar sem carta?

Senti meus olhos marejarem. Cheguei até ali para nada, aparentemente. A vida me estendeu a mão e, em seguida, deu um soco com a outra.

- Ah, você tem sim. – disse Noah e levantei meus olhos, confusa, para vê-la segurando um papel.

- A carta de Addison! – exclamei, aliviada e culpada ao mesmo tempo. – Como? Quando?

- Quando dei um pisão naquela víbora venenosa, apanhei do chão. – explicou Noah, visivelmente orgulhosa do feito.

Será que eu poderia aproveitar essa oportunidade, Deus?

- Não sei... – refleti, segurando a carta.

- Eleanor, nem ouse recusar esse presente de Deus. Aliás, para todos os efeitos, você agora é Addison Foster.

Gemi ao pensar que esse seria meu novo nome.

- Não se preocupe, você não irá ser descoberta.

- Mas é que... é errado.

- E não é errado sofrer num orfanato por anos? Além disso, o nome cai bem em melhor em você que naquela loira azeda.

Começamos a rir, mas paramos quando uma garota baixinha de cabelos curtos pretos e pele azeitonada entrou em nossa cabine.

- Desculpem, posso sentar aqui? O resto do trem está lotado.

Noah e eu nos entreolhamos.

- Claro, pode sentar! – eu disse.

- Qual é o nome de vocês? – perguntou. – O meu é Uriel LeBlanc, obrigada por me deixarem sentar aqui.

- Seu nome é muito bonito, bem diferente, eu gostei. – comentei, sem perceber a pergunta que ela havia feito.

- É meio estranho para uma garota. – disse Noah, sem filtros.

- Isso quer dizer que ela gostou. – expliquei e Uriel balançou a cabeça lentamente, em concordância. – Ah, - lembrei subitamente da pergunta, ainda sem resposta. - meu nome é El... – Noah me chutou fortemente por debaixo da mesa, então minha voz saiu esganiçada. – Addison! E o dela é Noah.

Noah abriu o melhor sorriso que conseguiu e desviou rapidamente o olhar para a paisagem que ficava para trás, conforme o trem avançava. Socializar não era muito fácil pra ela; eu esperava que Uriel ficasse chateada com o modo brusco de Noah, mas ela pareceu bem à vontade.

- É um prazer conhecer vocês duas. – disse, soando sincera.

- É um prazer conhecer você também, Uriel. – olhei para Noah que ainda vislumbrava a paisagem. – Eu juro que ela é muito legal depois que você se acostuma.

Para minha surpresa, Uriel abriu um lindo sorriso – fiquei encantada, ela parecia uma fada saída de um daqueles contos com os quais eu somente poderia sonhar.

- Acredito em você. – disse. – Não precisa se preocupar com isso.

Relaxei instantaneamente na cadeira. Nem havia percebido, pra falar a verdade, que estava tensa. Eu tinha uma certa facilidade em interagir com pessoas, mas também queria que Noah estivesse incluída nessas interações; fazê-la falar com alguém, além de mim, às vezes parecia uma missão impossível.