Poções

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(Na multimídia, o ilustre e, diga-se de passagem, assustador, professor Severo Snape.)

- Ops. Eu fiz você cair, sangue-ruim? – perguntou uma garota, observando-me levantar furiosamente do chão.

Quando eu estava prestes a xingá-la, o professor Snape surgiu na porta da sala, erguendo uma sobrancelha para mim. Relaxei a mandíbula e fechei a boca, sentindo meu sangue ferver.

- Ela me derrubou! – acusei-a.

A garota em minha frente, que já possuía em seu rosto uma fisionomia natural de deboche, fez-se de vítima.

- Professor Snape, ela tropeçou nos meus sapatos. Foi sem querer. – ela virou-se para mim, que ainda a encarava, irritada. – Desculpe, eu sinto muito. – ela não parecia nem um pouco arrependida.

- Para dentro. – ordenou Snape e o agradeci internamente pela intromissão. Quem sabe o que eu teria feito, impensadamente. Tudo que eu não precisava era de problemas agora, muito menos com esse professor, em particular.

Conforme fomos nos acomodando, perguntei à Uriel cujo cronograma da aula de Poções felizmente coincidiu com o nosso, quem era aquela garota que me derrubou. Um pouco consternada, ela respondeu:

- Mérida Snide. Vem de uma família muito prestigiada no mundo bruxo. Com razão foi para a Sonserina. – percebi um leve toque de desgosto ao se referir à sua casa, mas preferi não comentar. – As que andam com ela são Phoebe Bellini e Ray Quinn, também de famílias nobres.

A muito contragosto, tive que admitir que as três eram muito bonitas. Mérida possuía cabelos castanhos longos e lisos, além de um belo par de olhos verdes; Ray era ruiva natural, de cabelos médios cacheados e olhos escuros; já Phoebe se parecia com a versão de sereia que eu tinha em mente, cabelos longos pretos lisos, pele morena bronzeada e olhos escuros penetrantes.

- Parece que a maldade fornece beleza. – retruquei.

- O quê? – perguntou Uriel.

- Você viu, não é? Ela me empurrou.

- Sim, eu vi... mas, sinceramente, Eleanor, não sei se é uma boa ideia envolver-se com elas.

- Não quero me envolver com elas, mas...

- Sua amiga tem razão. – disse uma garota alta de grossos óculos. – Desculpe me envolver, meu nome é Izzie Simmons, - percebi que ela também era da Corvinal. – mas sua amiga tem razão. Ouvi dizer que elas atormentaram um garoto na aula de Transfiguração no início da semana e ele desistiu de querer ser bruxo.

- Então esse garoto é um fraco. Vai desistir na primeira adversidade? – rebati, sem me incomodar com apresentações.

- Ela está meio nervosa. – justificou Uriel.

- Tudo bem. – disse Izzie, sentando-se ao nosso lado.

Foi então que o vi novamente. Ali estava ele, no canto oposto da sala, reluzindo como um diamante em meio à escura sala de Poções, Liam Blackwood. Era impossível não notar sua presença, ele era o tipo de pessoa para a qual se olha involuntariamente, como uma espécie de ímã. Além disso, era difícil não notar todos os olhares femininos destinados a ele, para os quais ele parecia não destinar atenção alguma. Eu só o encarava para imaginar o quão opostas haviam sido nossas criações e quão injusto o mundo era. Como era possível alguém ser tão lindo aos onze anos? Tenho certeza que ele come regularmente e não é obrigado pela família a realizar exaustivos trabalhos manuais.

Suspirei diante do pensamento, torcendo para que Noah e eu, além das crianças do orfanato, pudéssemos crescer tão saudavelmente assim a partir de agora, e Izzie notou meu olhar, como o da maioria das garotas na sala, fixos em Liam Blackwood.

Uma Trouxa em HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora