Apenas Um Cantil

110 19 2
                                    

Abri os olhos lentamente, deixando-os acostumarem-se à claridade local.

Senti todo o conteúdo do meu estômago revirar dentro dele, enquanto me arrastavam para um salão amplo, onde algumas pessoas pareciam incomodadas com minha chegada.

- Por favor, imperador, rogo-o que me perdoe! Como o céu é claro ao dia e escuro à noite, juro pela minha alma que minha família e eu nada temos a ver com essa criança! – exclamou Francisco, curvado em frente à figura de autoridade.

Quando os olhos do imperador cruzaram os meus, percebi que ele estava falando de mim. Minha cabeça girava numa confusão sem fim.

- Onde estou? – perguntei, levando uma cotovelada de um dos homens.

Alguns olhares de desaprovação à minha nítida falta de etiqueta foram destinados a mim.

- Deixe que a menina fale. – ordenou o imperador, sentando-se majestosamente em sua poltrona elevada. – Qual seu nome, criança?

Eu fitava o chão, tentando lembrar da última coisa que havia acontecido comigo, mas era inútil. Lembro de estar na festa dos Blackwood, da águia veloz que me salvou da morte, e.... não conseguia lembrar do restante.

- Quando o imperador fala, você responde. – vociferou o chanceler, que permanecia em pé, ao lado do imperador.

- Eu... não sei. – respondi sinceramente.

Óbvio que eu tinha um nome. Mas não conseguia lembrar de muita coisa agora, não no meio dessa confusão.

- O que aconteceu comigo? Onde estou? – perguntei novamente, esperando por uma resposta direta.

- Você está em Constantinopla. Quanto ao que sucedeu a você, esperávamos que você nos pudesse dizer isso. – esclareceu o chanceler.

Meus olhos se estreitaram, num esforço frenético para clarear as ideias. Constantinopla? Não lembro de haver nenhum lugar na Inglaterra com esse nome.

- Eu não lembro. – falei, meu cérebro ainda trabalhando a toda velocidade, tentando recordar de algo, por menor que fosse, que me ajudasse a sair dessa situação.

- Já ouvi o bastante. – disse o imperador. – Francisco Russell, levante-se.

Um homem de meia-idade, calvo, que estava ao meu lado, levantou-se num só pulo e pôs-se a arrumar a roupa amassada. Rapidamente deu um passo à frente, suspirando, nervoso.

- Sim, imperador? – ele se curvou levemente enquanto falava.

- Precisamos dos seus serviços em Constantinopla. As obras não podem deter-se por demasiado. Não posso culpá-lo por ter sido um bom homem e ajudado a menina, mas tampouco posso isentá-lo da responsabilidade, uma vez que você a trouxe até nós. – falou o imperador.

Pude observar uma gota de suor escorrer pela lateral do rosto do homem.

- Sim, imperador.

- Metade do prejuízo que ela causou à feira local será descontado, gradativamente, do seu pagamento. – Francisco assentiu rapidamente, em concordância. – e quanto à outra metade, - ele olhou para mim. – a criança pagará com seu próprio suor. Coloquem-na no leilão de escravos.

Com um aceno de mão, o imperador encerrou a sessão e foi aplaudido respeitosamente pela corte.

- Excelente, imperador. – bajulou o Chanceler.

Enquanto eles discutiam brevemente sobre o próximo caso, os guardas arrastaram-me para fora do salão.

- Ouça, menina, - aproximou-se Francisco, limpando o suor da testa com o chapéu que apertava fortemente na mão. – não cite minha família para ninguém em Constantinopla. Não tenho nada contra você, mas parece que você é acompanhada por um azar dos diabos!

Uma Trouxa em HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora