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Contemplo pela última vez o mórbido orfanato, no qual passei todos os anos da minha precária vida. Sim, essa é a melhor decisão – penso comigo mesma pela milésima vez, enquanto corro para longe.

Noah nunca me deixaria partir e, pra ser bem sincera, eu também não queria partir. Mas era preciso, ela era completamente incrível, havia magia dentro dela! E quanto a mim, bem, o mais perto que cheguei de ser mágica foi quando, sozinha, limpei todos os banheiros do orfanato num só dia.

Na Catedral, todos formavam a mesma fila de costume – havia, porém, uma diferença significativa no dia de hoje: madame Foster estava contente. Só isso já era capaz de causar pesadelos nas crianças pelo resto da semana.

- Enfim, Hogwarts! – dizia, pomposa, enquanto sua filha a seguia, com um carrinho cheio de malas e bolsas, incluindo uma aranha negra engaiolada. – Não que trouxas como vocês saibam a grandiosidade desse feito.

- Por que estavam mexendo nas coisas da Eleanor hoje? – perguntou um garoto, num sussurro, a outro que deu de ombros.

- Parece que ela fugiu. – cochichou outra.

- Tem alguém a falar?! – gritou, virando-se para encarar os garotos. – Mas como você se atreve a abrir essa sua boquinha suja justo no dia de hoje?!

O sino da Catedral soou pesada e barulhentamente.

- Oh, mas, que horas são?! Vamos, querida, ou nos atrasaremos! – o garoto cuja garganta estava a ponto de ser arrancada voltou a respirar conforme ela se afastava.

Sua filha olhou desdenhosamente para os demais, empinando o nariz conforme atravessava a fileira de crianças. A mãe, nervosamente, berrava comandos ao motorista de táxi que parecia tão veloz quanto uma tartaruga.

Noah virou-se para despedir-se dos demais, sem muito ânimo. Afinal, sua melhor amiga – a pessoa que mais importava no mundo – não estava ali com ela. Apesar disso, havia tomado sua decisão: procuraria por ela nos dias em que estivesse de folga em Hogwarts ou qualquer coisa do tipo. Sair buscando Eleanor naquele momento seria estupidez; além de perder o Expresso que sairia às 11h da manhã, não conseguiria garantir a entrada, também, de Eleanor na Escola.

O mais difícil, em sua visão, seria encontrar Eleanor pelo nome. Todas as outras crianças do orfanato possuíam nome e sobrenome, menos Eleanor. Desde que conseguia se lembrar, ela era só Eleanor, sua amiga.

- Acelere, rabugenta! – gritou a senhorita Foster com Noah que, desajustadamente, enfiou-se no pequeno cubículo automotivo.

Diferente da senhorita Foster, Noah não levava consigo nada além de uma pequena mala, na qual estava a carta que mudaria sua vida pra sempre – pelo menos ela esperava por isso – e algumas poucas roupas.

- Ignore-a, querida! – rosnou a madame. – Treine o que irá dizer a Alvo Dumbledore quando o encontrar pessoalmente, vamos, treine!

- Olá, senhor diretor! Meu nome é.... – sua mãe a interrompeu, irritada.

- Não! Somente senhor diretor não! Repita comigo: respeitabilíssimo e honorável senhor diretor Alvo Dumbledore, a minha mãe, bruxa que o estima muito... – dessa vez é a filha quem a interrompe.

- Eu não deveria falar meu nome primeiro?

- Mas é óbvio que não!

Mais rápido do que seria humanamente possível, as três desembarcaram na estação de trem e Noah agradeceu secretamente a Deus por isso.

- Se não tivesse sido um pedido expresso do excelentíssimo Dumbledore, eu deixaria você apodrecer lá. – Noah percebeu, com o desinteresse que já estava acostumada a demonstrar às ofensas, que a madame falava dela.

Uma Trouxa em HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora