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Ruggero

Agustín  abre e olha.
— Bonito. Quanto?
Eu falo o preço, e ele dá de ombros.
— Mais barato do que o que eu dei à Júlia.
— Está vendo? Otário! — zombo de mike. — Deixa só valu
saber que só você não deu nada para ela.
— Você deu um anel para Júlia? — mike pergunta,
impressionado.
Ele arqueia as sobrancelhas e torna a pegar o anel para dar uma
olhada.
— Pois é. Ela está esperando um moleque meu, e eu quis casar.
Ela jogou o anel na minha cara, mas depois pegou e está usando. —
Agustín  narra sua difícil saga com Julia.
Mike  termina de analisar o anel e fala:
— Não posso dar essas coisas a valu. Ela não quer se casar,
por enquanto.
— Então dá brincos ou colar. Precisa urgente comprar uma joia
para ela, cara.
— Anotado — mike fala com Agustín  e, em seguida, indaga: — Já
sabe qual o sexo do bebê?
— Vamos saber depois de amanhã. E Júlia vai fazer um jantar lá
em casa para dar a notícia. Vocês dois devem estar na lista de
convidados.
— Claro que estaremos bocó. Quem mais você convidaria?
Jorge? — eu caçoo, e ele me mostra o dedo do meio.
Assim que mais uma rodada de cerveja chega, eu conto para
eles o que rolou quando karol  adentrou meu escritório.
— Ela te chamou para o ringue. Você tá ligado, não é?
— Sim, estou. Percebi na hora.
— E sabe do que mais? — Agustín  se curva para frente e sussurra,
como se contasse um segredo: — Com certeza ela está de conluio
com a irmã vadia.
— Eu também acho, cara — mike concorda. — A karol que
eu conheci não agiria assim. Com certeza, Carolina  está por trás,
tramando algo.
— Eu não tinha pensado nisso — digo e, assim que penso na
hipótese, uma raiva me toma.
Se karol  se juntou com a irmã para me prejudicar, eu esqueço
que estou apaixonado por ela e fodo sem dó a vida das duas. Elas
que tentem, para ver o que acontece. Eu estou disposto a fazer tudo
para salvar meu casamento, mas se karol  começar a fazer as
mesmas canalhices de Carolina , o bagulho vai ficar sério.
***
Quando estou quase chegando em casa, Mariza me liga dizendo
que conseguiu uma mesa para mim no La Fiducia. Eu a agradeço e
vou feliz para casa dar a notícia a karol .
Ela está na sala, assistindo TV. Bernardo está no chão,
brincando. Assim que ele me vê chegando, se levanta e vem
caminhando meio cambaleante na minha direção.
Jogo minhas coisas no chão e o pego, levantando-o no ar.
— Oi, filhão. Sentiu saudades do papai?
Imediatamente, ele começa a dialogar comigo em uma língua
que ninguém entende. Muito enrolado e rápido. Sei que está
contando as novidades do dia, então eu começo a responder de volta.
Ninguém me ensinou a cuidar de um bebê e a saber interagir
com eles. Eu apenas sei, assim que vi Bernardo, aprendi com o instinto.
Caminhando com ele nos braços, vou para perto de karol . Ela
está graciosa. Perdeu toda aquela casca de roupas caras e
maquiagem. Está ao natural, de rosto limpo, cabelos soltos e usando
uma camiseta minha com um short curto dela.
— Oi. Como passou a tarde?
— Muito bem — ela responde, sem retribuir o sorriso.
— Desculpe não ter vindo almoçar com você. Tive uma reunião.
— Tudo bem — ainda distante, ela responde.
— Consegui uma reserva para a gente. Às oito está bom para
você?
— Está ótimo. Vou me arrumar. — Ela se levanta, calça um par
de pantufas e passa por mim sem nem me olhar. Dou um passo e
seguro o braço dela.
— karol , me desculpe, tá?
— Pelo que?
— Por tudo.
— Tudo é muito para ser esquecido com um simples “me
desculpe” — ela retruca sem raiva, apenas indiferente. Puxa o braço
da minha mão e sai rumo ao quarto.
Meia hora mais tarde, eu vou atender a porta. É a babá que
Karol  contratou. Uma garota de, no máximo, dezenove anos, usa
aparelho e óculos. Ela sorri para mim e fala:
— Boa noite, senhor. Sou a babá.
— Oi, sou Ruggero . Entre, por favor. Vou te apresentar meu filho. —
Ela vem meio tímida atrás de mim, e eu apresento Bernardo.
— Oi, lindinho — ela fala fazendo carinho nele.
— karol , a mãe dele, vem daqui a pouco te dar as instruções.
Vou me arrumar.
— Tudo bem — a garota diz e se senta no tapete com Bernardo.
No quarto, karol  está dentro do quimono florido dela, em
frente ao espelho do meu quarto se maquiando. Uma típica imagem
doméstica. Quem vê até acha que karol  se sente muito bem aqui
na minha casa. Na verdade, eu posso ver como ela fica tensa com
tudo ao redor.
— A babá chegou — eu digo.
Ela não responde.
— Vou tomar banho, saímos em meia hora — anuncio, como se
fosse para as paredes.
Entro no banheiro.
***
Mais tarde, estou no meu SUV da Land Rover com uma
verdadeira deusa ao meu lado. Karol  não só me atrai sexualmente,
ela me dá contentamento. Nem precisamos falar nada, estar perto
dela já é o suficiente.
— Então, mentiu até sobre esse carro — ela comenta, dando
uma checada no interior do veículo.
— Pois é. — Dou de ombros.
— Não sente remorso?
Olho rápido para ela e volto minha atenção para o trânsito.
Karol  está devastadoramente gostosa e me encara.
— karol , ao longo do tempo vou te provar que sou um cara
legal, mas não posso sentir remorso de uma coisa que não prejudicou
ninguém.
— Não prejudicou? — ela grita, se virando por completo para me
olhar. — Como pode ter a cara de pau de dizer isso?
— Se estiver falando de você, eu quero que me diga um único
ponto em que você saiu prejudicada. — Paro o carro no sinal e olho
para ela. Karol  se afasta um pouco e continua com os olhos
cravados nos meus. Pelo olhar eu sei que ela pensa rápido, revivendo
tudo o que aconteceu. — Vamos, karol . Diga, como está
prejudicada?
Sem resposta, ela resolve atacar:
— Você se acha que brincar com minha vida pra ter o que quer foi pouco , ?
— Não, não acho. E não venha com esse papinho
rancoroso. Eu quero estar com você, nada do que eu sentia antes
mudou e creio que para você também não. Até dias atrás você dizia
que me amava e adorava estar casada comigo, então pare de tentar
me transformar no monstro que eu não sou.
— Sim, eu gostava de estar casada. Com outro cara. Um cara
que você inventou para conseguir coisas do seu interesse. Não venha
me dizer que quer continuar comigo, pois tudo o que fez foi por
Bernardo. Se não fosse ele, você jamais olharia duas vezes para
mime o que um dia sentir por você  , você  mesmo pois tudo a perder

— Por isso eu estou disposto a fazer de tudo para que acredite
que eu sou o mesmo cara que se fingia de Heitor — respondo
calmamente para não dar munição para briga.
— Você pode até sentir atração por mim, Ruggero , mas tudo por
causa de Carolina . A mulher que você ama de verdade. É tão
conveniente para você, não é? Uma mulher idêntica à sua amada,
mas que se comporta como uma pessoa de bem. A esposa perfeita
para o perfeito Ruggero  —zomba em tom de provocação.
O sinal abre e, furioso, eu arranco com o carro. Ela fica em
silêncio olhando para a frente. Minha mãe diz que a melhor resposta
é aquela que não se dá, mas eu não posso optar pelo silêncio, não
quando minha integridade está em jogo. Murmuro meio feroz para
ela:
— Pode pensar tudo de mim, menos que não eu tenho amor-
próprio. Sua irmã é tudo o que eu mais desprezo. E foda-se pensar o
oposto.
Ela entra emburrada comigo no restaurante. Vai ser difícil eu
conseguir provar alguma coisa para quem não quer entender. Sei que
Karol  ainda gosta de mim, ou do Heitor, sei lá. Eu queria apenas
que ela agisse com a razão e não com a emoção. Será que ninguém
vê o que Carolina  aprontou? Eu tinha que, de alguma forma, ter meu
filho de volta e só posso lamentar se essa foi a saída que encontrei.
Fomos conduzidos a uma mesa. Eu puxo a cadeira para ela,
espero-a sentar e sento na sua frente. Eu recebo a carta de vinhos, o
sommelier faz algumas sugestões, e eu faço o pedido. Karol  olha
para tudo, menos para mim.
— kah , olhe para mim — peço, e ela levanta os olhos, fixando-
os no meu rosto. — Eu sei que será um caminho árduo, sei que
apenas um pedido de desculpa não vai corrigir tudo, mas você podia,
pelo menos, tentar entender meus motivos.
— Eu entendo, Ruggero . De verdade, eu entendo. Só não entendo
como eu pude ser tão tola por tanto tempo. Não só com você, mas
com muita gente ao meu redor. Você só está dando azar de ter
encontrado a nova karol  na sua frente. Podemos pedir? Estou
faminta — ela termina de dizer dando o assunto por encerrado.
Fico um tempo olhando para karol  escondida atrás do
cardápio. Mordo as bochechas por dentro para tentar conter a raiva.
Odeio que me ignorem. Desprezo é pior do que qualquer briga.

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Capitulo surpresa pra vocês

Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora