LEO
aquela noite, eu estava sentado em frente ao balcão de mármore da minha cozinha enquanto riscava um palito de fósforo em sua caixa. Faltava apenas alguns segundos para o relógio dar meia-noite e começar um novo dia, também faltava apenas alguns segundos para eu finalmente completar meus 21 anos.
Eu nunca gostei de comemorar meu aniversário, mas este ano eu estava ainda mais descontente com a data. Em Noctis, a cidade em que vivo, onde humanos e vampiros convivem em equilíbrio, há uma lei que obriga os humanos a começarem a doar sangue após os 21 anos completos. Saber que alguém vai consumir meu sangue para poder sobreviver me deixava extremamente desconfortável.
Não me entendam mal, não é como se eu não gostassem dos vampiros, eles até se parecem com pessoas normais na maioria das vezes, mas trabalhando como um detetive policial, eu conheço as atrocidades que eles podem fazer com os humanos. Eles são capazes de se tornarem verdadeiros monstros quando quiserem.
Assim que acendi a pequena vela azul em cima de um cupcake de chocolate, o relógio mudou para meia-noite e, desta forma, meu aniversário de 21 anos havia chegado. Fechei meus olhos em frente ao pequeno bolo e fiz um pedido:
_Uma vida com paz e tranquilidade, é tudo o que eu desejo.
Deste modo, abri meus olhos e assoprei a vela, apagando completamente a chama que a continha.
No dia seguinte, acordei com a campainha soando sem parar. Levantei e cambaleei até a porta, ainda sonolento, e a abri, dando de cara com um cara alto e de cabelo bagunçado:
_Você sabia que hoje era meu dia de folga, não é? - Resmunguei.
_Eu te trouxe um presente - Thomas disse sorrindo enquanto esticava uma sacola de papel para mim.
_Você não precisava. - Falei aceitando desjeitosamente seu presente.
_Eu sei. - Disse enquanto tiravas seus sapatos na entrada - Mesmo assim, eu queria te dar algo.
Thomas era meu único amigo. Nos conhecemos quando ainda eramos bebês, já que nossos pais eram vizinhos. O conhecendo a mais de vinte anos, eu sabia que ele sempre iria fazer o que quisesse, mesmo sem a minha aprovação.
Desembrulhei o presente e observei a caneca azul com meu nome escrito, a qual eu havia acabado de ganhar:
_A sua quebrou a pouco tempo. - Ele falou se aproximando.
_Você lembrou.
_É claro que lembrei! - Ele pareceu ter ficado perplexo com a minha frase.
_Você sempre sabe o que eu preciso. - Coloquei a caneca em cima da pia, sem jeito.
_É por isso que sou seu melhor amigo.
_As vezes acho que você me conhece melhor do que eu mesmo.
Depois de eu ter desenvolvido um estresse pós-traumático e não ser mais capaz de sair de casa, a única pessoa que cuidou de mim além dos meus pais foi Thomas. Eu confiava nele mais do que em qualquer outra pessoa e eu sabia que ele estaria ao meu lado quando precisasse.
Você pode pensar que criei uma certa dependência dele. Eu acho que está completamente certo! Talvez eu tenha me agarrado a ele por muito tempo e, por isso, era tão difícil de me soltar:
_Então, amanhã você já vai começar a doar sangue?
_Não me lembre disso. - Respondi abatido.
_Desculpe, eu sei que você não gosta dessa ideia.
_Tudo bem.
_Se você se sentir melhor, eu posso ir com você. - Se ofereceu gentilmente.
Eu fiquei relutante em aceitar sua ajuda. Eu me sentiria mais confortável se Thomas estivesse por perto, no entanto, eu não queria ficar dependendo dele toda a vez que eu fosse fazer algo que me deixasse incomodado:
_Obrigado. - Agradeci - Mas acho que irei sozinho dessa vez.
_Tem certeza? - Ele parecia cauteloso.
_Não seja super protetor. - Pedi.
_Desculpe. - Ele sorriu envergonhado. - Eu vou tentar me comportar, prometo.
Foi o que ele disse, mas assim que cheguei do banco de sangues no outro dia, acabei o encontrando sentado em frente a porta do meu apartamento:
_Como foi?! - Ele perguntou, se levantando em um pulo.
_Eu falei para você não se preocupar. - Pronunciei enquanto destrancava a porta.
_É fácil para você falar.
Thomas me acompanhou para dentro do apartamento. Ele parecia estar mais nervoso do que eu e isso me deixava um pouquinho mais feliz. Eu sei que isso é egoismo da minha parte, mas era agradável saber que alguém se preocupava dessa maneira comigo:
_Eu fico feliz que tenha dado tudo certo. - Falou aliviado enquanto se jogava no sofá. - Eu mal posso esperar para a minha vez chegar.
_Você tem tanto tempo assim para ficar se preocupando com essas coisas?
_Eu queria responder que não, mas já faz muito tempo que o departamento de polícia do bairro não recebe uma ocorrência de verdade. - Oh, por acaso eu me esqueci de contar a vocês que Thomas era policial e trabalhávamos na mesma delegacia de policia? Foi mal!
_Você tem razão, eu apenas mexi com as papeladas hoje novamente.
_Isso é bom certo? Quer dizer que estamos vivendo em um local seguro.
_Acho que sim. - Suspirei fundo - Tomara que ninguém problemático tenha pego meu sangue. - Falei preocupado.
Apesar do meu desejo de querer salvar aqueles iguais a mim, eu ainda não desejava me envolver com qualquer vampiro das primeiras gerações, pois eu estava ciente que minha vida seria ainda mais difícil com eles sabendo da minha existência.
Enquanto eu me perdia em pensamentos, uma batida alta na porta me despertou:
_Você está esperando alguém? - Thomas perguntou.
_Você sabe que não. - Respondi me levantando e indo até a porta.
Ao olhar pelo olho mágico da porta, avistei um homem alto vestindo um terno. Eu certamente não o conhecia, mas sabia que, se alguém que usava óculos escuro batesse em sua porta no meio da noite, não era um bom sinal.
Fiz um gesto para Thomas ficar em alerta e, então, abri a porta:
_Pois não? - Falei.
_Você é o senhor Leo Fide? - A voz grossa do homem vibrou em meus ouvidos.
_Sim, sou eu. - Respondi com disconfiança.
_Desculpe-me pelo o incomodo tardio, mas primeiramente, deixe-me me apresentar. - O homem grande parado em frente a minha porta levou sua mão até seu óculos e retirou o objeto escuro do rosto, revelando assim, os brilhantes olhos vermelhos. Um Vampiro! Eu sabia que esse homem não era alguém normal! - Me chamo Wilfred Blacke e trabalho em nome dos três príncipes vampiros.
_Os príncipes? - Perguntei temeroso.
Na história, os príncipes vampiros foram os três primeiros vampiros a existirem na Terra. Além de serem absurdamente fortes, foram eles que ditaram as regras da nossa sociedade e são eles que a administram até hoje. Falar que veio até mim em nome deles, era como sentenciar a minha morte.
Depois de batalhar tanto em minha vida, era assim que eu iria morrer? Isso era estupidamente injusto! Eu não quero cair dessa maneira! Eu irei lutar até meu último suspiro para continuar vivendo!
_O terceiro príncipe tem um recado para você. - Wilfred continuou. - Ele ordena que o senhor Leo Fides compareça amanhã a noite em sua residencia, para que possam ter uma conversa.
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Private Blood
FantasyEm um mundo onde humanos e vampiros podem coexistir em harmonia, o detetive policial Leo Fide deseja apenas ser capaz de viver sua vida com paz e tranquilidade, após ter passado por uma experiência traumática em sua infância. Contudo, sua comum exis...