Capítulo 23

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LEO

Sol passou o dia inteiro ao meu lado. Como o médico havia dito que eu deveria descansar, tive que pegar um dia de folga do trabalho e, por esse motivo, passei o dia todo de molho na cama. 

Durante esse tempo, descobri que Sol podia ser um pouco sistemático. O vampiro não deixava eu me levantar por nada e foi um sacrifício convence-lo de que eu precisava ir ao banheiro SOZINHO. Ele era incrivelmente teimoso e, apesar de sempre estar discutindo com o rapaz, eu compreendia que aquilo era algo incomum para ele.

_Há muitos séculos que não via um humano doente. - Explicou - Eu não tenho noção de como as enfermardes se comportam atualmente.

Fazia sentido. A única doença da qual ele se lembrava, foi àquela que o tornou debilitado enquanto vampiro, mas não há mais nenhuma recordação em suas memórias da época em que era humano e acabou pegando um resfriado. Ele deveria estar com medo de eu estar sofrendo a mesma dor que teve que suportar por todos aqueles anos. - Pensar nisso me entristecia ainda mais.

Passamos o restante do dia apenas conversando um com o outro. Sol se recusou a chegar perto de mim, porque dizia que sua temperatura corporal podia me fazer mal. - Ele não fazia ideia do quanto eu desejava toca-lo naquele maldito momento.

Alfred foi quem trouxe todas as minhas refeições e, pensar que o terceiro príncipe permitiu que eu comesse sozinho, meu deixou aliviado. 

O tempo em que passei ao lado do vampiro foi ótimo, pude conhece-lo melhor e entender um pouco mais da sua história e a de seus irmãos. No entanto, já estava na hora de voltar ao trabalho!

Eu tinha muitas coisas para resolver sobre os casos de assassinatos e, por mais que desejasse passar mais tempo ouvindo Sol contar sobre suas aventuras, eu tinha obrigações a serem realizadas.

Já no departamento de polícia, comecei a preencher e organizar todas as papeladas que haviam  sido acumuladas. Enquanto isso, sentado em uma cadeira ao meu lado, Sol rabiscava uma folha de papel com concentração. De fato, eu já estava ciente de que o vampiro não iria me ajudar em nada e nem se importava em comprometer o disfarce, mas ele podia ao menos fingir interesse, assim não machucaria tanto o meu orgulho:

_Terminei! - Disse depois de rabiscar por um tempo. 

Ele observava gloriosamente seu papel:

_Uau, bom para você. - Respondi sem mover minha atenção dos documentos.

_Como você é rude, detetive Fide. - Disse perplexo - E pensar que me dediquei tanto para fazer esse presente a você.

O observei enquanto ele fazia um bico. Sinceramente, nunca vi um vampiro tão dramático assim. Além disse, eu não havia pedido por um presente, eu ficaria mais contente se ele me ajudasse nas papeladas. No entanto, talvez fosse melhor fingir um pouco de interesse, dado o que aconteceu nos últimos dias:

_Deixe-me ver então. - Falei enquanto girava meu assento para ficar de frente a ele.

_Thãram! - Ele virou o papel com entusiasmo - O que acho? Lindo, não é?

Desenhada com exagero no papel, estava meu retrato em forma de caricatura. Minha cabeça havia sido desenhada três vezes maior que meu corpo e POR QUE DIABOS EU ESTAVA NU EM UMA CAMA E AMARRADO POR UMA CORDA VERMELHA? 

_Seu desgraçado, então é assim que você mata o seu tempo enquanto eu trabalho duro!? - Falei com raiva.

_Querido Leo, se vamos estar em um relacionamento, você não irá precisar se preocupar com coisas tão triviais como um emprego. Eu posso simplesmente lhe dar tudo o que desejar. - Respondeu indiferente.

_...Espera, você acabou de dizer que quer estar em um relacionamento comigo? - Falei surpreso.

_Elementar, meu caro Fide. Por que mais eu lhe deixaria vivo depois de ousar encostar seus lábios nos meus?

_E-espere aí. - Coloquei minhas mãos sobre o rosto depois de sentir minha pele enrubescer. - Droga, por que você tem que ser tão descuidado!? - Pronunciei envergonhado. Eu me sentia um desgraçado por ter ficado tão animado naquele momento.

_Atenção! - A voz da delegada Rodgers ressoou pelo ambiente, interrompendo meu surto no mesmo instante.

Rapidamente, todos se levantaram e se colocaram em posição de sentido. Dessa forma, a delegada continuou a falar:

_A partir de hoje, o policial Noé Beaumont, das Forças Armadas Vampíricas, se juntara a nossa equipe para auxiliar nas investigações dos ocorrentes assassinatos. - Declarou apontando para o rapaz ao seu lado.

_Será um prazer trabalhar com vocês! - O novo policial nos cumprimentou.

Todos naquela sala estavam abismados ao observar o novo companheiro de equipe. Apenas vampiros eram permitidos nas Forças Armadas Vampíricas e Noé não era uma exceção. Em geral, as delegacias de polícia dos distritos eram formadas apenas por humanos e raramente trabalhavam em conjunto com a outra espécie, principalmente o nosso batalhão, que ficava em um área remota e pacata. Por isso, encarar de frente aquele vampiro era algo assombrosos para todos aqui. Todos, exceto para mim:

_Policial Beaumont, você pode pegar todas as informações dos casos com o nosso detetive. Ele ira o auxiliar em tudo o que precisar de agora em diante. - Fordger orientou e o apontou para a minha direção.

Um segundo me encarando foi o suficiente para que seus olhos expressassem uma grande surpresa. Fiquei chocado, mas logo percebi que a pessoa a qual encarava não era eu e sim o vampiro sentado ao meu lado. Sol fez um rápido sinal que indicava "silêncio" e a expressão do policial mudou instantaneamente. - O que raios estava acontecendo!?

Tão logo quanto Rodgers nos dispensou a palavra, arrastei os dois vampiros para uma sala isolada. Assim que fechei a porta e me virei para encara-los, Nóe, o novo recruta, estava ajoelhado em frente a Sol. Fiquei estático, sem saber como reagir àquela cena. Sem demora, o policial pronunciou:

_É uma honra conhece-lo pessoalmente, vossa majestade.

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