Capítulo 20

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LEO

Permaneci na delegacia mesmo após o fim do horário de expediente. Imaginei que me afundar no trabalho poderia ser um bom jeito de esquecer todos os meus problemas. Por fim, no entanto, apenas fiquei ainda mais estressado, pois não fui capaz de fazer nada bem feito, já que não conseguia fazer minha mente se concentrar.

O céu já estava escuro quando sai do departamento de polícia. Não havia estrelas, apenas nuvens escuras e o brilho da lua ofuscada por elas. O tempo havia mudado de uma hora para outra, se tornando mais um aborrecimento para aquele dia.

Vaguei sem rumo pelas ruas da cidade. O clima estava frio e o vento retalhava meu rosto, minhas mãos estavam congelando dentro do meu bolso, para dizer o mínimo. Notei que a maioria das pessoas que andavam por aquela noite eram vampiros - claro, qual humano seria louco o suficiente para fazer uma caminhada em um tempo como esse? - Eu não me importava. 

Tentei refletir sobre tudo que havia acontecido. Os assassinatos sem soluções, a briga que tive com Thomas e meus sentimentos por Sol. Todos eram semelhantes. Meramente casos que eu não era capaz de resolver por causa da minha incompetência. Era mais fácil eu achar o assassino que não deixava nenhum rastro, do que compreender meus próprios sentimentos. 

Idiota! - pensei comigo mesmo - Você apenas consegue magoar todos a sua volta! - A solução que cheguei, foi que eu era um desgraçado.

Pingos de água começaram a cair do céu naquele momento e foram aumentando gradativamente. As pessoas em minha volta rapidamente correram para algum abrigo coberto ou pegaram seus guarda-chuvas. 

Apesar da chuva ser inconveniente, continuei a vagar sem um destino. Eu sentia a água fria em contato com a minha pele e me recordei do toque do vampiro. A semelhança na temperatura era tanta, que me senti sendo totalmente envolto por ele, como quando ele me segurava em seus braços após eu ser atropelado ou quando agarrou-se em mim e entregou-me seus beijos. 

_Droga! - Falei enquanto me agachava no meio da calçada - Eu estou completamente apaixonado por ele.

Após alcançar aquela lamentável conclusão, vaguei mais algumas horas até sentir-me cansado. Sem dúvida, eu não desejava voltar para a mansão e tão pouco encontrar-me com Sol. A úncia opção que me sobrava era meu antigo apartamento.

Encharcado e tremendo de frio, dirigi-me direto para o banheiro e tomei um longo banho quente. Quando mal terminei de me trocar, mergulhei nos cobertores sobre minha cama e cai em um profundo sono.

Estava tão esgotado por causa do dia anterior, que mal percebi que o dia já havia nascido. Me remexi na cama, resmungando ainda com sono. Eu havia deixado para trás algumas roupas e uniformes, que serviram perfeitamente para aquele momento.

Passei na antiga cafeteria que eu costumava frequentar e tomei um café antes de ir para o trabalho. Notei que minha digestão havia melhorado, graças a ausência de três vampiros no café da manhã daquele dia. Ao menos fui capaz de tirar algum proveito da minha miserável situação. 

Na quele dia, Sol não aparece no departamento de policia e tão pouco me encontrei com Thomas. Eu estava aliviado, mas sabia que apenas estava adiando duas fatídicas conversas que eu seria obrigado a ter em algum momento.

Voltando ao meu trabalho, o bandido que Sol havia prendido no dia anteiro voltou a consciência e eu pude finalmente interroga-lo. Para mais, ele não havia nenhum envolvimento com o assassinato e era apenas um ladrão que viu a oportunidade de roubar os bens de um falecido.

Depois daquele depoimento, eu havia retornado a estaca zero da investigação. Não havia conseguido reunir nenhuma prova concreta que indicasse a identidade do assassino e não possuía mais nada que pudesse investigar. Eu estava completamente em um beco sem saída. 

No final, fui forçado a terminar as investigações por ali. Não havia mais nada que eu fosse capaz de fazer e, caso não tivéssemos nenhum retorno da Unidade de Forças Vampíricas da Polícia, os casos teriam que ser arquivados sem uma solução.

...

Fui obrigado a voltar para a mansão dos príncipes naquela noite. Ir para aquele lugar era a última coisa que eu desejava naquele momento, porém, eu tinha um contrato a cumprir, o qual eu já havia quebrado no dia anterior. Eu só esperava que nenhum dos três tenha ficado irritado pela minha desonra:

_Mestre Fide. - Albert me cumprimentou assim que coloquei meus pés dentro da casa.

_Boa noite, Alfred. - O cumprimentei de volta, me sentindo um pouco ansioso.

_O jantar será servido daqui a meia hora. - Informou.

_Obrigado. - O agradeci e fui direto para o meu quarto.

Apesar de não estar me sentindo muito bem naquela noite, decidi que era melhor me apresentar para o jantar. O príncipes poderia até parecer benevolentes, mas eu não queria alcançar vossos limites.

Por alguma razão, apenas os dois príncipes mais velhos estavam presentes na mesa de jantar daquela noite:

_Vossas majestades. - Os reverenciei assim que entrei na sala.

_Ora, quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? - Disse o segundo mais velho sorrindo.

Estremeci com o seu comentário enquanto tomava meu lugar na mesa:

_Peço perdão pela minha ausência na noite anterior. - Falei - Houve alguns imprevisto que eu precisava resolver. - Tecnicamente, aquilo não era uma mentira.

_Está tudo bem. - O mais velho respondeu - Apenas não se esqueça que está sob um contrato.

_Não me esquecerei, vossa majestade.

Comecei a comer me sentindo inquieto. Os dois príncipes jantavam em silêncio, sem sequer fazer contato visual. Eu estava acostumado com aquilo, mas parecia que havia algo faltando:

_Vossas majestades. - Os chamei - Não quero atrapalhar o jantar de vocês, mas posso lhes perguntar o que aconteceu com o terceiro príncipe para não ter se juntado a nós nesta noite?

Os dois me fitaram com firmeza, me deixando ainda mais tenso. Toda a boa digestão que tive naquela manhã parecia ter desaparecido em um único instante:

_Eu não o vejo desde ontem. - Respondeu o primeiro príncipe. 

_Igualmente para mim. - O outro emendou - Não que isso seja uma novidade.

_Você pode não estar acostumado a isso, já que ele vem se comportando estranhamente durante esses tempos, mas Sol não costumava sair do quarto nem para fazer suas refeições.

_Apesar que atualmente ele havia melhorado esse mau hábito. - O segundo mais velhos disse pensativo - Poderia algo ter acontecido para que ele voltasse a agir dessa maneira?

Quase me engasguei com a comida naquele momento. Eu me perguntava se, assim como eu, Sol também estava tendo dificuldades em entender todo aquele acontecimento do dia anterior:

_Talvez fosse uma boa ideia se Leo fosse conversar com ele. - Sugeriu o primeiro príncipe.

_E-eu, vossa majestade?! - Perguntei surpreso e apavorado.

_Tem razão. - Apoiou o segundo príncipe - Sol parece ficar mais confortável perto de você do que do seus irmãos que o amaram por muitos séculos. - Ele parecia estar com um pouco de ciúmes.

_Se é o que vossas majestades desejam, farei com prazer.

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