LEO
Eu me espantei ao ver a aparência da pessoa que estava sentada naquela cama. Era um homem de pele extremamente pálida, com um corpo tão magro, que seus ossos da face exibia-se sobre a pele, mostrando-se totalmente frágil. Seu cabelo era de um tom loiro envelhecido e possuía enorme olheiras escuras. A única coisa com brilho naquele homem eram seus olhos carmesins, o qual evidenciava a sua natureza vampírica:
_Minha aparência lhe assusta? - Perguntou sem expressar energia.
_Admito que não o imaginava dessa maneira, vossa majestade. - Respondi - Mas de forma alguma sua aparência me assusta.
Meu espanto acabou dificultando minhas análises, mas pelo que eu havia percebido, seu comportamento era claro e direto, mostrando completamente sua superioridade sobre mim, embora talvez, eu possa sentir uma pequena timidez em seu interior, mas nada que se sobressaísse quanto a sua frieza:
_Mentiroso. - Expressou sem desviar o olhar. Ele era mais esperto do que eu havia imaginado. - Mas não o culpo, eu também não estaria confortável em seu lugar.
_Vossa majestade, por que me chamastes aqui? - Fui direto ao ponto, esperando que ele não me achasse arrogante, apesar de eu ter sido.
_Você acabou de completar seus 21 anos, estou certo?
_Sim.
_Alfred. - Eles esticou a mão para o homem em pé ao seu lado, que o entregou um tubo de coleta com sangue em seu interior. O príncipe, então, o esticou para mim. - Você sabe o que é isso? - Eu imaginava o significado, mas não queria creditar no que estava vendo, então apenas balancei a cabeça negativamente - Esse é o sangue que coletou na noite anterior. O seu sangue.
Uma onda de choque passou pelo meu corpo. Por que um dos príncipes estaria com o sangue de um ninguém como eu? Certamente eles deveriam beber apenas dos melhores e mais saudáveis.
Tudo estava começando a ficar ainda mais aterrorizante:
_Eu não entendo meu senhor. - Falei - Por quê o sangue de alguém como eu estaria com vossa majestade?
_Você não sabe? - Perguntou surpreso - Acho que meus irmãos fizeram um bom trabalho escondendo a minha história da população. Já que você está aqui agora, gostaria de ouvi-lá?
_É claro. - Não era como se eu tivesse outra opção.
_Eu e meus irmãos eramos órfãos que foram abandonados pela sociedade. Quem cuidava de nós era um velho padre que comandava uma pequena igreja de um vilarejo esquecido. Apesar de todos naquele lugar serem pobres, a terra da vila era extremamente rica e saudável, o que trouxe o olhar de ganancia do homem sobre nós. Em uma noite fria, a cidade foi totalmente incinerada, assim como as pessoas que viviam nela. O velho padre idiota morreu tentando nos proteger dos nossos agressores. Dentre nós três, eu era aquele que tinha a saúde mais frágil e debilitada, por isso eu não era capaz de me mover muito sem me machucar e, mesmo meus irmãos tendo me ajudado, fomos emboscados pelo fogo. Quando finalmente pensamos que nossa hora havia chegado, ele apareceu. Nós não eramos capazes de ver seu rosto, apenas seus olhos vermelhos que brilhavam intensamente entre as chamas. Ele nos perguntou se queríamos viver e nos proporcionou força para lutarmos contra aquele mundo que havia nos abandonado. Foi nesse instante que fomos transformados pelo primeiro vampiro.
"Contudo, ao contrário dos meus irmãos, eu era fraco e tive que passar por uma grande tortura para que meu corpo fosse capaz de absorver tal poder. Quando pensamos que tudo havia ficado bem, eu comecei a ter novos problemas. Já não era mais qualquer sangue que eu conseguia consumir e, alguns anos depois, eu já não era mais capaz de consumir sangue humano algum. Estou desde então me alimentando apenas com sangue de animais, porém, um vampiro precisa de sangue humano para que possa viver saudável. É por esse motivo que estou no estado que me encontro hoje."
Ele havia acabado de contar a verdadeira história de como haviam se tornado vampiros e da difícil tragédia que eles haviam passado. Eu não sabia seu motivo, será que ele confiava em mim a tal ponto, mesmo me conhecendo a poucos minutos, ou ele simplesmente não se importava com a possibilidade da história ser compartilhada. Além disso, ele havia exposto seu doença sem se importar. Onde ele queria chegar com isso?
_Você ainda não percebeu, não é? - Disse enquanto me estudava com o olhar.
_Perceber?
_Toda vez que um humano doa sangue pela primeira vez, um pequeno frasco de amostras desses chega até mim. É uma maneira que encontramos para tentar achar um sangue que eu possa beber, mas mesmo durante tantos anos, não conseguimos encontrar sequer um que eu era capaz ingerir. O sangue sempre voltava na mesma hora que era engolido e eu acabava ficando ainda mais debilitado.
Minha mente dava voltas tentando processar tudo o que ele estava falando. Meu sangue dentro da pequena capsula brilhava em sua mão e olha-lo daquela maneria estava começando a me dar enjoo. Eu estava começando a entender a onde ele queria chegar com toda essa história:
_O que vossa majestade está tentando dizer exatamente? - Pergunte hesitante.
O vampiro deu um pequeno sorriso, que fez parecer com que o gesto lhe causasse dor:
_Isto. - Ele levantou o tubo de coleta em seu mão - Esse precioso líquido vermelho em minhas mãos, depois de muitos séculos, foi o único sangue que eu fui capaz de ingerir.
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Private Blood
FantasyEm um mundo onde humanos e vampiros podem coexistir em harmonia, o detetive policial Leo Fide deseja apenas ser capaz de viver sua vida com paz e tranquilidade, após ter passado por uma experiência traumática em sua infância. Contudo, sua comum exis...