Capítulo 15

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LEO

A camisa branca que Sol usava, agora estava manchada com um enorme borrão transparente e alguns respingos de algo vermelho, que eu acreditava outrora ter pertencido a um Bloody Mary. 

Eu havia arrastado o vampiro até ao banheiro, para evitar mais olhares curiosos sobre nós. Naquele momento, Sol tentava secar sua peça de roupa com alguns papéis. Já eu, estava encostado na pia, encarando a porta semiaberta de uma cabine vazia, enquanto deixava meus pensamentos rolarem. 

Eu devia um pedido de desculpas a Thomas por ter arruinado a noite, mesmo que indiretamente. No entanto, não era isso o que mais me preocupava, e sim a atitude que o rapaz teve naquele momento. Com certeza, havia algo que estava aborrecendo Thomas, mas eu me sentia péssimo por não saber o quê. Eu estava decidido a ter uma séria conversa com meu melhor amigo, para esclarecermos tudo o que estava acontecendo um ao outro:

_Porcaria! - Ouvi o vampiro xingando ao meu lado. Direcionei minha atenção a ele, deixando meus pensamentos de lado - Isso não quer sair.

Suspirei fundo e me aproximei dele com passos firmes. Assim que o cerquei, Sol me encarou com os olhos escarlates brilhando de curiosidade. Estiquei minha mão e peguei mais algumas toalhas de papel:

_A mancha não vai sair totalmente, mas vamos tentar seca-la o máximo possível. - Falei

No momento em que aproximei as toalhas no seu tecido molhado, senti o corpo de Sol vacilar por um instante:

_Apenas deixe isso de lado, eu posso comprar mais cem iguais a essa. - Falou.

Ele tinha razão, não havia o porquê de eu estar fazendo isso para ele e, mesmo assim, meu corpo estava se movendo automaticamente:

_Não se mexa. - Ordenei.

O vampiro apenas me encarou com confusão e fez assim como ordenei. Eu passava o papel toalha gentilmente sobre a superfície do tecido da camisa de Sol, tentando absorver o máximo de líquido possível. O tecido era fino e eu podia sentir a pela fria do vampiro por cima do papel, mas ao invés de sentir qualquer calafrio, eu sentia um estranho calor circulando pelo meu corpo. Por fim, conclui que minha mente apenas estava uma bagunça pelo que havia acontecido e que era meramente o calor da bebida diante do meu corpo.

Assim, me afastei do vampiro e joguei os papéis no lixo. Ao voltar a encara-lo, percebi que no lugar em que havia caído as bebidas, agora tinha uma grande mancha transparente. Diante do tecido translucido, era capaz de enxergar a pele nua do vampiro. Sua barriga e peito eram tão pálidos quanto o seu rosto e pareciam inusitadamente frágeis. Desviei meu olhar rapidamente após notar o tanto de tempo que fiquei o encarando:

_Acho que fizemos tudo o que podíamos. - Falei.

_Ótimo, desse jeito estou parecendo um bêbado pervertido.

_Você mereceu isso. - Pronunciei apático.

O vampiro me encarou descrente:

_Eu não o entendo. Eu não fiz nada de errado e fui atingido por todas aquelas bebidas, mesmo assim, você continua a ficar bravo comigo.

_É claro que você não entende. Você não possuiu nenhum senso comum. - Coloquei minha mão sobre meus olhos e suspirei fundo - É minha culpa, eu sabia que algo não daria certo e mesmo assim concordei em vir.

_Você está ouvindo o que está falando?! - Sol parecia estranhamente irritado pelo o que eu disse - Não foi você que saiu irritado depois de algumas pequenas provocações, então por que continua se culpando?! Você não pode carregar os problemas dos outros sobre suas costas sozinho!

Não acreditava que ele havia acabado de admitir ser parte da culpa naquela situação, mas não consegui o retrucar com nenhuma ofensa. Por parte, porque sabia que Sol estava certo. Eu compreendia que não podia resolver todos os problemas do mundo por mim mesmo, no entanto, se ao menos eu pudesse resolver aquilo que pesava sobre aqueles a minha volta, eu já estaria satisfeito:

_Vamos apenas esquecer sobre isso por enquanto. - Falei me virando e andando até a porta do banheiro. 

_Para onde vamos? - Sol perguntou me seguindo de longe. 

_Meu apartamento fica aqui perto. - Respondi sem parar de andar - Vamos pegar uma roupa limpa para você.

...

_Você não precisa ir tão longe por mim. - Sol pronunciou enquanto esperava eu destrancar a porta do apartamento - Não é como se eu fosse ficar doente ou coisa do tipo.

Eu entendia que o vampiro não era capaz de sentir frio ou ficar doente e, mesmo assim, eu sentia a necessidade de cobri-lo com algo quente e menos transparente:

_Estou tentando ser legal com você pelo menos uma vez. - Respondi sem encara-lo - Então, apenas aceite minha ajuda, vossa majestade.

Sol não me respondeu, apenas entrou no apartamento silenciosamente assim que abri a porta. O lugar estava exatamente como eu havia deixado a alguns dias atrás, a única coisa diferente era que existia ainda mais pó sobre os objetos. 

Guiei o príncipe até meu quarto e pedi que ele esperasse até que eu achasse algo que coubesse nele. Eu era mais alto que o vampiro e seu corpo esguio se diferenciava do meu. Apesar de ainda possuir alguns músculos definidos, eu podia afirmar que Sol era duas vezes menor do que eu. 

Procurando ao longo do meu guarda-roupa, encontrei um antigo suéter de lã preto que eu usava quando ainda era adolescente.

Isso deve servir - Pensei. Ao me virar para entregar-lhe a peça de roupa limpa, vi que o vampiro já havia retirado a camisa que agora estava embolada em sua mão.

Naquele instante, já não havendo mais o tecido translucido o encobrindo, dava-se para observar ainda mais a palidez de sua pele. Além disso, eu conseguia perceber detalhes que haviam passado despercebidos quando ainda estava coberto, como uma pinta em seu peito esquerdo que possuía o formato de um coração, seu delicado mamilo que possuía uma cor rosa tão encantadora, suas costelas que saltavam perante a fina pele, sua escápula tão perfeitamente gravada em seu corpo  e uma apagada cicatriz ao lado do seu umbigo. 

Eu não sabia o porquê daqueles detalhes me chamarem tanta atenção, mas eu não conseguia parar de olha-lo mesmo que meu cérebro gritasse:

_Isso é para mim? - Sol perguntou olhando para o suéter em minhas mãos.

_Ah, s-sim. - Falei constrangido - Aqui está.

Logo que o lhe entreguei a blusa, me virei para evitar encara-lo e comecei disfarçar enquanto mexia em alguns objetos em cima da minha cômoda, no tempo em que  o vampiro se trocava.

Pensando bem, aquele calor que havia sentido antes havia voltado novamente e, apesar de nem ter bebido tanto, eu sentia como se estivesse completamente bêbado. Meus pensamentos estavam confusos:

_Já pode se virar. - O vampiro avisou.

Assim que me orientei até ele, observei que Sol estava apenas usando meu suéter pelo corpo. A peça ainda havia ficado grande e cobria uma pequena parte de suas pernas. As encarei com fascínio. Eles eram longas e finas, possuía um formato esbelto e sedutor, eram brancas como uma folha de papel e pareciam tão macias quanto algodão.

Por motivos que eu desconhecia, senti minha boca se enchendo de saliva e meu coração começou a disparar contra meu peito. Mesmo eu estando imobilizado de surpresa, eu senti uma estranha vontade de toca-lo.

O que estava acontecendo comigo!? 

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