LEO
Meus sentidos começaram a voltar lentamente. A princípio, notei que algo notoriamente gelado estava em contato com meu corpo. Parecia que eu estava sendo amparado com firmeza e minhas costas aparentavam estar encostada em algo consistente. Em seguida, meus ouvidos receberem inúmeros ruídos abafados, que lentamente iam se estabilizando e se transformando em vozes inquietas. Fui capaz de compreender algo como "Ele está bem?" e "Não devíamos chamar uma ambulância?". Senti minha testa franzir por causa dos súbitos sons em meus ouvidos:
_Leo? - Ouvi uma voz que se destacava das outras e tive uma sensação estranha de familiaridade.
Por fim, pouco a pouco meus olhos foram se abrindo, dando concessão para que a luz do sol os ocupassem. Logo após ficarem ofuscados pela luminosidade repentina, fui recuperando a visão gradativamente. Algo embaçado de repente apareceu em minha vista, não era capa de enxerga-lo perfeitamente, no entanto, em minha consciência a figura se parecia com um deslumbrante retrato de um Sol pintado cuidadosamente por um artista dedicado. Eu estava fascinado pelo dourado de seus raios que abraçavam minha alma com devoção, com tal intensidade que sem perceber já havia movido minha mão em sua direção.
Aos poucos, a imagem foi ficando mais e mais nítida, até que finalmente voltasse ao normal:
_Sol! - Pronunciei o nome do vampiro surpreso.
Reparei que a figura que pensei ter visto, na verdade, era Sol, o qual me fitava com apreensão e o que eu pensei ser os raios de luz eram, na realidade, os fios do seu cabelo que caiam sobre meu rosto. Na realidade, aquilo que eu segurava com afeição, era apenas uma mecha dourada:
_Você está bem? - Sol perguntou preocupado.
_Só um pouco dolorido. - Respondi.
Esforcei-me para levantar, meramente para despencar novamente para os braços do vampiro. Uma dor intensa se instalou em minha perna esquerda, a qual não fui capaz de firmar.
Sol me segurou imediatamente. Sua mão era fria, mas transmitia um estranho calor ao longo da minha pele:
_E o bandido?! - Perguntei preocupado, depois de perceber que eu não havia o capturado antes de apagar.
_Você acabou de ser atropelado e é com isso que está preocupado? - O vampiro parecia irritado - Eu consegui o pegar antes que fugisse. - Ele apontou com o dedão em direção a calçada, onde o fugitivo estava estirado, amarrado e inconsciente. Achei que Sol ficaria ainda mais furioso se eu lhe perguntasse onde havia encontrado aquela corda.
_Isso é um alívio. - Pronunciei sentindo um grande peso sair do meu peito.
_Mas eu não estou nem um pouco aliviado. - Disse rispidamente - O que eu faria se você tive se machucado mais seriamente?
Eu não sabia dizer se ele estava preocupado comigo ou com o meu sangue, mas senti uma alfinetada em meu coração. Sol sempre dizia que precisava proteger sua comida de perto, mas imaginei que apenas estava debochando de mim e não que ficaria tão preocupado como agora:
_Eu estou bem. - Tentei acalma-lo.
Sem responder, ele ajudou a me levantar e me apoiou sobre seus ombros, evitando que eu fizesse força com a perna machucada:
_Eu realmente sinto muito. - Um homem de meia idade que estava ao nosso lado disse, parecendo desolado. Pelo que parecia, ele era o motorista do carro que havia me atingido.
Observei o homem com mais atenção e notei uma mancha roxa em seu pescoço, a qual lembrava uma mão:
_Não se preocupe, senhor. - Tentei sorrir gentilmente - Foi minha culpa por ter atravessado a rua sem olhar.
_E-eu posso fazer alguma coisa para recompensa-los? - Perguntou agitado.
_Não precisa. - Respondi.
_Tem certeza? - Sol me perguntou - Eu consigo pensar em várias maneiras na qual esse senhor pode nos recompensar.
O homem pulou assustado, parecendo estar com medo do vampiro:
_Haha. - Ri com nervosismo - Está realmente tudo bem.
_M-muito obrigado! - O senhor agradeceu com uma reverência.
Após resolvermos tudo com o homem, ele correu para o carro e dirigiu para longe. A multidão que uma vez esteve a nossa volta, já havia desaparecido quase que totalmente. Sol, que ainda parecia irritado, caminhou até o homem desmaiado na calçada e o ergueu pela roupa com apenas uma mão. Dessa forma, o vampiro levou nós dois para o departamento de polícia.
Enquanto esperávamos o bandido acordar, o qual foi literalmente jogado atrás das grades por Sol, o vampiro me levou até uma sala vazia, me fez sentar quieto em uma cadeira e depois saiu sem dizer uma palavra. Não me movi um centímetro até que ele voltasse, pois é claro, eu estava com medo do que ele poderia fazer a mim. Talvez minha pequena liberdade poderia durar menos do que eu imaginava.
Quando Sol finalmente retornou, ele estava com uma bolsa de primeiros socorros na mão. Ele se aproximou de mim e a colocou em cima da mesa ao lado:
_Você não precisa fazer isso. - Falei rapidamente - Eu posso cuidar disso sozinho.
Sol suspirou fundo e me encarou severamente, depois de um tempo, ele desviou o olhar:
_Eu deveria estar ali para lhe proteger, mas falhei em minha missão. - Disse enquanto abira o kit médico. De repente, ele parecia estar bem deprimido.
_Foi culpa minha por não ter prestado atenção, não se culpe tão duramente, vossa majestade. - Falei, tentando tranquiliza-lo.
_Você não entende. Sempre foi assim durante toda a minha vida, mesmo se eu me esforçar até o limite, não sou capaz de proteger ninguém. Eu continuo tão fraco quanto quando era humano.
O vampiro ficou um tempo sem dizer nada e apenas fitou a mesa em lamentação. Eu não era capaz de entender o que ele queria dizer com aquilo e, mesmo que lhe perguntasse, sentia que o príncipe não iria me responder. Talvez, havia algo a mais por trás das suas palavras, como uma história infeliz da sua vida. Vê-lo dessa maneira me deixava amargurado, então fiz a única coisa que podia:
_Sol! - Chamei por seu nome - Para mim, você não é nem um pouco fraco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Private Blood
FantasyEm um mundo onde humanos e vampiros podem coexistir em harmonia, o detetive policial Leo Fide deseja apenas ser capaz de viver sua vida com paz e tranquilidade, após ter passado por uma experiência traumática em sua infância. Contudo, sua comum exis...