Capítulo 16

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LEO

Mais tarde, à noite, passei horas deitado em minha cama, apenas encarando o teto. Não era capaz de dormir de modo algum. Era como se várias Lady Sssssusie estivessem rastejando pelo meu cérebro, na mesma proporção em que mostravam suas longas línguas bifurcadas, como se quisessem dizer "Leo seu idiota!".

Consequentemente, na manhã seguinte, despertei sentindo uma amarga ressaca na consciência. O café da manhã tinha gosto de isopor e estava sendo difícil de digeri-lo, além disso, era trágico ter de enfrentar a presença dos três vampiros na mesa logo ao amanhecer. Em especial, a companhia de Sol, o qual eu evitava de encarar, pois desejava me esquivar daqueles pensamentos inúteis do dia anterior. 

Tão pouco terminamos de comer, o vampiro mais novo fez questão de me impedir de sair antes que ele terminasse de se aprontar.  Com uma parede de guardas vampiros enormes se erguendo em frente a porta, não tive outra opção se não aguardar obediente. 

Já não sendo mais capaz de escapar, observei o vampiro enquanto ele caminhava até mim. Ele estava totalmente vestido de preto, com um casaco longo de botões, que era preso por um cinto do mesmo tecido, e suas mãos estavam cobertas por luvas de couro. O tom da roupa fazia seu cabelo se destacar, como um feixe de raio de sol entre as árvores fechadas de uma floresta escura. Ele parou na minha frente e me encarou com os olhos escarlates frios:

_Estou grato por ter me esperado. - Pronunciou.

_Não tive muita escolha, vossa majestade. - Falei cínico enquanto me reverenciava.

Não trocamos palavras no caminho e nem quando chegamos a delegacia. Acredito que o vampiro tenha percebido meu mau humor e decidiu dar uma pausa em me molestar.

Assim como combinamos no dia anterior, decidimos ir até o apartamento da primeira vítima, fazer uma investigação mais rigorosa dos detalhes. Tal como fez com a vídeo da câmera de vigilância do açougue, Sol iria usar seus olhos de vampiro para distinguir aquilo que os olhos humanos não eram capazes de enxergar. Por incrível que pareça, aquela pessoa estava realmente contribuindo com a investigação e devo admitir que sua ajuda estava sendo conveniente. 

Logo que chegamos ao prédio, o vigia nos cumprimentou, me reconhecendo imediatamente. Ele nos entregou a chave do apartamento no quarto andar e nos informou que a família da garota assassinada pretendia apanhar os pertences da vítima em pouco tempo. Agradeci por sua serventia e adentramos ao prédio. 

Eu seguia subindo as escadas com passos lentos enquanto o vampiro me seguia mantendo a distância de exatamente quatro degraus. 

Ele parecia estar tendo considerações comigo, uma vez que havia percebido o que se passava em minha mente no outro dia no momento em que nos encaramos. Eu era capaz de dizer isso, pois sabia que o vampiro não era nenhum idiota, mas eu me perguntava o que ele havia pensado naquele momento e se estava se mantendo distante por me achar desprezível. Não podia dizer exatamente, mas eu sentia que havia algo que o vampiro não estava querendo me mostrar:

_Onde está aquele seu amigo? - Sua voz ecoou por trás de mim.

_Não consegui o contatar desde ontem a noite. - Respondi sem perder meu foco - Também não o vi na delegacia. É bem provável que ele esteja me evitando.

_Faz sentido. - Apenas na cabeça dele! - Em suma, ponderei sobre os acontecimentos de ontem e entendi que meu comportamento foi grosseiro, então lhe devo uma pedido de desculpa. 

Parei bruscamente de subir as escadas e me virei assombrado para encarar o vampiro. Eu queria ter certeza de que havia ouvido direito ou era apenas a minha imaginação pregando uma peça novamente. Assim que girei, dei de cara com o vampiro que já estava a menos de uma degrau de distancia de mim. 

Fiquei imóvel, apenas sentindo a atmosfera fria de seu corpo. Seus olhos, que pouco tempo atrás eram cobertos por um óculos escuro, estavam inquietos enquanto observava o meu rosto. Eu não era capa de entende-lo, por que ele fazia tais coisa comigo? Eu estava disposto a esquecer tudo, mas Sol continuava parado a minha frente:

_Você é impossível.  - Falei.

Isto posto, virei meu corpo e comecei a subir os degraus mais rapidamente. Mesmo sem olhar para trás, eu era capaz de sentir que Sol continuava parado no lugar. 

Apenas quando cheguei no quarto andar, avistei a porta do apartamento da vítima entreaberta. Diminui a velocidade dos meus passos, afim de não fazer nenhum ruído, e me aproximei. Com a mão em minha arma, me posicionei ao lado da porta. Naquele momento, Sol apareceu nas escadas e rapidamente fiz um sinal para que o vampiro ficasse em silêncio. No mesmo segundo, Sol apareceu ao meu lado e assentiu com firmeza.  

Respirei fundo e abri a porta obstinado, apenas para alguém sair de lá, me empurrando com toda a força:

_Droga! - Xinguei enquanto me reorganizava.

_Quem é aquele? - Sol perguntou, parecendo não ter compreendido a situação como um todo.

_Não tenho tempo para explicar. - Falei enquanto saia correndo atrás da pessoa.

O homem que havia saído do apartamento da vítima era rápido. Desceu as escadas facilmente e passou pela porta da frente sem hesitar. O persegui pela a rua, desviando de pessoas que passavam por ali. Para o horário da manhã, o lugar estava bem movimentado e eu me esforçava para não perder o suspeito pela multidão. 

O observei do outro lado da rua, ele evitava as pessoas e objetos enquanto acelerava seu caminho. Logo que percebi, eu já estava atravessando a avenida e tão pouco percebi o carro que vinha em minha direção.

Tudo ficou escuro. 

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