Capítulo 54

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LEO

_Quando me trouxeram para essa sala, pensei que passaria por outro daqueles interrogatórios chatos, mas estou surpreso de vê-los aqui. - Disse Raphael.

Ele estava sentado em frente a uma mesa de metal e suas mãos estavam presas por uma algema. A calma em seu rosto me deixava irritado, pois não parecia que aquele vampiro estava sofrendo pela derrota:

_Não viemos aqui para darmos as mãos e brincar de cirandinha. - Cuspi com raiva - Queremos respostas!

_Fico feliz que vieram conversar comigo, esse lugar é bem tedioso. - Disse.

_Cala a boca! - Falei enquanto Sol e eu tomávamos os assentos do outro lado da mesa.

_Você parece mais corajoso agora que estou preso por uma algema. - Debochou.

_Não queremos prolongar mais essa conversa. - Disse Sol - Então, vamos direto ao assunto.

Ele fez um sinal com a cabeça, dando a deixa para que eu começasse a falar:

_O incidente na escola fundamental ha 19 anos atrás, foi sua culpa, estou certo? 

_Ora, por que desenterrar uma história tão antiga? - Perguntou sem interesse.

_Apenas responda a minha pergunta! - Exigi.

_Sim, aquilo foi minha culpa. - Deu de ombros - Mas, o que isso tem a ver com vocês?

_Você por a caso se importa com as vidas que foram arruinadas naquele dia? - Falei com raiva.

_Aquilo foi para um bem maior. Além disso, todos já estão mortos, o que há para ser arruinado? - Respondeu com indiferença.

Cerrei meus punhos a fim de controlar minha fúria. Aquele cretino nem ao menos demonstrava remorso pelas vítimas que matou:

_Então, você também não sabia. - Pronunciei.

_Do que está falando, detetive Fide? - Perguntou confuso.

_Do sobrevivente do massacre daquela época. - Respondi com a cabeça baixa.

_Não me diga. - Um sorriso se formou em seu rosto - Isso é maravilhoso! - Clamou com alegria - E pensar que alguém daquela época também estava envolvido com meus experimentos do presente. 

_Seu sádico! - Bravejei - Por sua culpa desenvolvi um estresse pós-traumático que quase arruinou minha vida! E você ainda acha isso tudo divertido?!

_Leo, acalme-se. - Pediu Sol.

_Hahaha! - Ele riu - Se eu soubesse antes que você foi um sobrevivente daquela época, teria lhe tratado com ainda mais gentileza.

_Seu...!

_Leo, chega. - Sol agarrou meu punho - Não iremos conseguir mais nenhuma resposta desse lunático.

_Tem razão. - Respirei fundo e me acalmei - Não há salvação para essa pessoa.

Nos levantamos e caminhamos até a porta por onde havíamos entrado. Antes que pudêssemos sair, Raphael deu seu último pronunciamento:

_Não pense que acabou por aqui só porque me pegaram dessa vez, vossa majestade. Enquanto eu viver, meu ideal continuará presente nas sombras dessa sociedade. Mais cedo ou mais tarde, outra explosão irá surgir. 

...

No hospital, eu arrumava os pertences de Thomas em uma mochila enquanto o rapaz se preparava para sair daquele lugar. Foi um tempo difícil e demorado, mas finalmente ele conseguiu alta e agora poderá ser livre novamente:

_Você não precisa fazer isso. - Disse.

Desde o começo, quando eu vinha visitá-lo durante aqueles dias, Thomas não me olhou nos olhos. Sempre que tentava conversar com ele, o rapaz  dava respostas vagas e encerrava qualquer assunto. Tinha dias que ele sequer me respondia e apenas ficava deitado de costas para mim. Foram tempos difíceis, onde eu percebia que nossa amizade estava apodrecendo aos poucos.

É claro, eu não iria desistir tão fácil quanto Thomas pensava. Não depois de tudo que passamos. Ele era meu melhor amigo. Minha família. Não iria abandona-lo no momento em que ele mais precisava de mim, mesmo ele tentando tanto fazer isso acontecer:

_Que tal comermos algo assim que sairmos daqui? - Ignorei aquilo que ele havia falado mais cedo - Tem um novo restaurante que abriu perto daqui que vende um churrasco maravilhoso.

_Leo...

_Pronto! - O interrompi enquanto terminava de fechar o zíper da bolsa - Esta tudo feito!

Pela primeira vez ele me encarou. Seus olhos estavam fixos em mim e me encaravam abismados. Depois de um momento, ele abaixou a cabeça e segurou o tecido da calça com força:

_Por que está sendo tão gentil comigo? Eu fiz coisas horríveis para você.

_Bem, é verdade. - Falei colocando as mochilas nas costas - Mas eu tive bastante tempo para pensar sobre isso e compreendi o quanto você estava sofrendo naquela época. Como seu melhor amigo, eu deveria ter cuidado melhor de você.

_Eu não mereço sua amizade.

_É claro, você foi um tremendo cuzão, mas isso não foi tão forte para conseguir abalar o carinho que sinto por você. Por isso o perdoei. Além disso, quem mais iria cuidar tão bem de você se não seu melhor amigo aqui?

De repente, as lágrimas começaram a escorrer de rosto seu rosto, derramando-se sobre o chão daquele hospital:

_E-espera! - Falei surpreso.

_Eu cometi um crime. - Falou enquanto tentava conter as lágrimas com as costas das mãos - Eu não deveria estar feliz.

_E-eu não falei isso para te fazer chorar. - Falei sem saber o que fazer .

_Me desculpe, Leo! - Pediu enquanto desabava em choro.

Deixei a mochila de lado e me aproximei dele:

_Não se preocupe. - Afaguei sua cabeça - Raphael confessou que esteve te manipulando este tempo todo, então está tudo terminado. Você aguentou muito. - O confortei.

_Obrigado. - Agradeceu limpando as últimas lágrimas restantes - Sobre aquele churrasco de mais cedo...

_É por minha conta!



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