LEO
Pedi desculpa para Sol e fui atrás de Thomas. Mesmo com o ferimento em minha perna doendo, esforcei-me para andar o mais rápido possível, ao mesmo tempo em que gritava seu nome. Eu estava desorientado, havia muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e não sabia por onde começar a concentrar-me. Mesmo me esforçando para tentar conversar com meu melhor amigo desde a noite passada, o vampiro conseguiu trapacear e invadir completamente a minha cabeça. Eu havia corrido atrás de Thomas por impulso, mas meu coração ainda estava imerso em Sol. Estava começando a ficar atordoado.
Me escorei na parede e tentei dar mais um passo a frente, mas apenas tive o potencial de vacilar e desmoronar. Eu teria atingido o chão se não fosse por alguém ter me agarrado:
_Porque teve que vir atrás de mim se estava ferido? - A voz de Thomas veio de cima de mim.
Naquele momento, percebi que estava sendo apoiado pelo meu melhor amigo:
_Thomas, eu precisava conversar com você. - Falei o fitando com ansiedade.
Thomas me lançou um olhar ríspido, que foi se convertendo pouco a pouco em piedade. Eu não me importava se ele me visse como alguém que precisava de sua pena, contanto que ele aceitasse conversar comigo.
O corredor em que estávamos não tinha mais ninguém além de nós dois. Thomas me equilibrou em pé com cuidado e depois deu um passo para trás:
_O que você precisa me dizer, Leo? - Sua voz soou áspera.
_Você não retornou nenhuma das minhas mensagens ou ligações, eu estava preocupado. - Comecei - Não tive a oportunidade e precisava me desculpar pelo que aconteceu no bar ontem a noite.
_Leo, não há nada com que você precisa se desculpar.
_Há sim. Eu conhece muito bem a personalidade de Sol e não deveria tê-lo deixado falar com você daquela maneira.
_Leo...
_Thomas, eu posso não compreender o que está acontecendo com você neste momento e, como seu melhor amigo, isso me deixa muito frustrado, mas eu fico ainda mais frustrado quando não sou capaz de te defender. Eu deveria ser capaz de te ajudar, assim como você me ajudou por todos esses anos, mas eu realmente não sei como, por isso preciso que você me diga o que está rolando...
_Chega, Leo! - Ele me interrompeu. O encarei surpreso e observei seu olhar furioso sobre mim. Vacilei. Thomas nunca havia me encarado de tal maneira antes. O que eu estava fazendo de errado? - Como você pode me dizer para lhe contar algo quando nem mesmo você me conta tudo.
_O que você está dizendo? - Perguntei desconcertado.
_Recentemente você mal tem conversado comigo. É como se você estivesse me deixando de lado cada vez mais.
_Essa não era minha intenção! Eu realmente sinto muito se o fiz se senti dessa maneira. - Falei com urgência, sentindo meu peito se encher de angústia.
_Você não entende, Leo. Não estou pedindo por suas desculpas.
_É por isso que peço para que me conte!
_Não é algo que eu possa lhe dizer. - Thomas desviou seu olhar e fitou o chão. - Não mais.
_Thomas! - Agarrei em seus ombros e o fiz me encarar com surpresa - Eu sou seu melhor amigo, você pode me contar qualquer coisa!
_É por esse motivo que não posso lhe contar nada. - O rapaz suspirou fundo - Não há mais nada que se possa fazer.
_Você está errado! Eu irei fazer qualquer coisa por você!
_Mesmo se eu pedir para que desista de Sol?
_... - Paralisei ao ouvir sua palavras que me pegaram de surpresa. Ele tocou em um ponto frágil, o qual foi evidente a sua intenção.
Eu realmente poderia esquecer esses sentimentos que tinha? Fiquei conturbado tentando pensar em uma resposta, mas isso não era tão simples de ser atingido. Era injusto o quão ordinária eu me sentia naquele momento:
_Eu imaginei que não fosse ser tão fácil assim. - Thomas afastou minhas mãos - Devo admitir que isso me deixa com ciumes, pois eu sempre desejei ser o único para você. É difícil aceitar que alguém que acabou de conhecer possa roubar meu lugar em sua vida.
_Ninguém pode tomar o que você significa para mim. - Supliquei - O que você viu agora, foi algo inconsequente de nossa parte. Assumo que não ainda não sou capaz de compreender o que sinto por Sol, mas peço que não pense tão pouco da nossa amizade...
Naquele momento, duas pessoas entraram no corredor conversando. Interrompi minha fala rapidamente, mordendo forte o meu lábio inferior, ainda dolorido pelo machucado. Interiormente, eu estava implorando para que Thomas atendesse minhas súplicas e me sentia medíocre em encarar o sofrimento em seus olhos:
_Acho melhor terminarmos essa conversa por aqui. - Disse por fim - Não irei tomar mais do seu tempo.
_Thomas...
_Até mais, Leo.
Eu observava suas costas enquanto o via se afastando, me sentindo frustrado por não ter sido capaz de nos entendermos. Em todos esses anos de amizade, essa foi a primeira vez que discutimos tão seriamente. Eu estava devastado.
Cambaleei de volta para sala onde Sol me esperava. Observei o vampiro enquanto ele mexia em alguns objetos em cima de uma mesa ao canto. Ele parecia o mesmo de sempre. Seu modo indiferente permanecia em seu semblante e sua postura mantinha-se inabalável. Fiquei um pouco triste ao notar que as marcas que eu havia feito na pele frágil de seu pescoço já haviam desaparecido.
O vampiro se virou em minha direção e me fitou com os olhos vermelhos inexpressíveis:
_Você está bem? - Foi a primeira vez em que ele me perguntava como me sentia. Aquilo me pegou de surpresa.
Balancei a cabeça e desviei o olhar:
_Eu preciso de um tempo para colocar meus pensamentos no lugar. - Falei - Você pode voltar para casa sem mim hoje.
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Private Blood
FantasyEm um mundo onde humanos e vampiros podem coexistir em harmonia, o detetive policial Leo Fide deseja apenas ser capaz de viver sua vida com paz e tranquilidade, após ter passado por uma experiência traumática em sua infância. Contudo, sua comum exis...