Capítulo 31

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LEO

Senti como se meus órgãos estivessem se revirando dentro do meu corpo. O choque da notícia havia sido grande e meu corpo recusava a se mexer:

_Você já o procurou? - Sol perguntou após se colocar de pé.

_O procuramos por toda a casa e seus arredores, também investigamos sua residência, mas não fomos capazes de encontrá-lo.

_Ele pode ter sido sequestrado. - Sol apontou, mas seu irmão negou com a cabeça.

_Eu o vi caminhando pelo jardim mais cedo, ele estava perfeitamente bem naquele momento. Temos seguranças em todos os locais, então não há como alguém ter entrado sem que percebêssemos.

_E, ainda, não há ninguém que tenha o visto sair. - Comentei.

_Eu sinto muito. - Disse o vampiro mais velho.

_O que faremos, Leo? - Sol perguntou.

_Vamos esperar por enquanto. - Eu entendia que Thomas estava muito confuso com tudo o que aconteceu e que precisava de algum tempo para refletir. - Caso ele não apareça amanhã, registraremos um boletim de desaparecimento.

Os dois vampiros me encararam com condolência, mas não se opuseram a minha palavra.

Naquela noite, Sol insistiu que ficaria ao meu lado e, desse modo, adormeci envolto em seus braços.

Thomas ainda não havia voltado quando acordamos naquela manhã. Tentei comer algo antes de sair para trabalhar, mas meu estômago se recusava a digerir qualquer alimento. Então, fui direto para o departamento de polícia, na esperança de que Thomas estivesse por lá.

Ele não estava. Perguntei para todos os funcionários do local, mas ninguém havia conversado com o rapaz no dia anterior. Noé se ofertou para fazer uma busca por ele enquanto o resultado da droga não fosse determinado, o vampiro nos garantiu que ligaria imediatamente caso o encontrasse. Lhe agradeci pela ajuda, mas ainda estava aflito com toda a situação.

Não consegui fazer nada naquele dia. Meu corpo estava pesado e minha cabeça dava voltas sem parar. Sol tentou me animar, mas nada funcionava. Enquanto eu não tivesse notícias de Thomas, eu não conseguiria me acalmar.

Noé só voltou à tarde, ainda sem notícias de Thomas. Parece que minha última esperança havia se exterminado, naquela altura eu já estava começando a pensar no pior:

_Acabei de receber os resultados do laboratório. - Noé informou. Forcei meu cérebro a prestar atenção no que dizia o vampiro, pois precisávamos resolver aquele caso o mais rápido possível - Eles afirmaram que a droga possui substâncias psicodélicas, o que provoca efeitos alucinógenos em seu usuário. Quanto a sua forma de produção, elas são feitas sinteticamente, através de componente ativos não encontrados na natureza.

_Seu efeito são apenas as alucinações? - Sol perguntou.

_Não, também pode causar ao usuário agressividade e desejos intensos. No entanto, curiosamente, a substância parece apenas fazer efeito na espécie vampírica. 

_Isso é ruim? - Sol perguntou novamente.

_Bem, se considerarmos todos os seus efeitos, pode ser não somente nocivo para os vampiros, quanto para os humanos.

_O que você quer dizer com isso? - Perguntei alarmado.

_Vejam bem, as alucinações causadas podem deixar o vampiro acessível a um possível homicídio, porém, não somente isso, mas depois de algum tempo ingerida, a droga pode aumentar os desejos do vampiro e sua agressividade.  Se pararmos para pensar pela perspectiva do usuário, qual o primeiro desejo que um vampiro poderia sentir de imediato?

_Sangue. - Sol respondeu.

_Exatamente. Nossa espécie tem o desejo e a necessidade natural de se alimentar com sangue humano. Estando cientes, os vampiros são capazes de se controlarem quando sentem seu cheiro por perto, mas e se seu sentidos estiverem bagunçados? Sua necessidade se transformará em um desejo compulsivo e sua razão começaria a partir-se. Podemos dizer que, em um estado mais avançado da droga, os vampiros começariam a enxergar os humanos apenas como fáceis alimentos.

_Isso é ruim! - Falei - Se vampiros passarem a consumir nosso sangue diretamente, nossa raça será extinta em pouco tempo.

_Atualmente, não é todos os vampiros que são capazes de consumir sangue diretamente sem causar danos a um humano. - Noé explicou - Apenas aqueles com mais altos na hierarquicos são capazes de se controlarem perfeitamente. Por esse motivo foi que  se implantaram o sistema de bancos de sangue em nossa capital, para que as duas espécies pudessem colaborar para vossas sobrevivências.

_Agora, um louco apareceu para tentar destruir toda a paz construída. - Comentei.

_Isso não apenas um problema recente. - Sol cruzou as pernas - Centenas de anos atrás, os vampiros viviam caçando humanos e os criando com gado para a alimentação. Era uma época em que toda a espécie reinava sobre a terra e espalhava seu terror por onde quer que passasse. Contudo, percebemos que, se continuássemos a viver daquela maneira, em poucos anos os humanos estariam extintos e nossa fonte de poder se acabaria. Foi nesse momento em que a ideia da coexistência entre as espécies surgiu.

_Graças aos nossos príncipes, fomos capazes de viver em harmonia até hoje. - Noé completou.

_Certo, essa realmente parece ter sido a melhor decisão para as duas espécies. - Falei - Então por que alguém iria querer extinguir esse acordo?

_Alguns vampiros não concordaram com a ideia de conciliação. - Sol explicou - Infelizmente, tivemos que eliminar toda e qualquer ameaça a harmonia, mas houve também aqueles que cederam sem concordar. Vance é um exemplo, de alguém que não aceitava o acordo, mas rendeu-se para sobreviver.

_Por isso ele administra aquele bordel de sangue embaixo de seu hotel. - Conclui. 

_Exatamente. Vance é alguém que não conseguiu abandonar o prazer de beber sangue direto de sua fonte, então ele construiu um lugar em que poderia compartilhar sua idealização com aqueles que possuem princípios semelhantes.

_Parece que não houve problemas com seu negócio até o início dos assassinatos. - Noé comentou.

_Então nosso suspeito é alguém pior do que Vance?

_Não há motivos para nos preocuparmos. - Sol se levantou da cadeira - Por agora, vamos nos focar em encontrar mais pistas que nos leve ao criminoso.

Concordei com a cabeça e me levantei logo em seguida. No entanto, antes que pudéssemos dar mais algum passo, alguém se aproximou:

_Vocês estão indo atrás do culpado, não é? Eu também irei! - A voz do rapaz cruzou meus ouvidos e apertou meu coração. Eu estava completamente ciente daquele timbre.

_Thomas!

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